domingo, 22 de junho de 2008

Caminhando...

Parto para mais uma viagem, mais um bocadinho de mundo, que irei partilhar aqui um pouco convosco no regresso. Desta vez o itinerário leva-me até terras quentes e abrasadoras da Tunísia, onde espero poder vir a descobrir um país, um povo e uma cultura muito interessantes. A mala já está feita, e agora só resta esperar que corra tudo bem, sem grandes imprevistos, pelo menos desagradáveis... O tempo é de descanso, mas férias é também descoberta, conhecimento. Espero poder trazer imensas fotografias, recordações e registos desta minha estadia por terras tunisinas.
Para fechar esta minha porta, temporariamente, deixo ficar um poema, que retirei do blogue do meu amigo Luís Maçarico e que penso tenha sido escrito por António Machado.
Boas férias se for o caso, nós voltamos a marcar encontro aqui, dentro em breve!


"Caminante, son tus huellas

el camino, y nada más;

caminante, no hay camino,

se hace camino al andar.

Al andar se hace camino,

y al volver la vista atrásse

ve la senda que nunca se ha de volver a pisar.

Caminante, no hay camino, sino estrellas en la mar"

António Machado

quinta-feira, 19 de junho de 2008

As barbearias e barbeiros de Santiago do Cacém

Retomando o lançamento dos Cadernos do Património sobre os barbeiros e barbearias do Concelho de Santiago do Cacém, deixo aqui ficar uns apontamentos sobre o mesmo trabalho. Para os interessados nesta publicação, penso que bastará entrar em contacto com a autarquia de Santiago do Cacém, uma vez que não são pagas.
imagem retirada do blogue: santo.andre.blogspot.com

No concelho de Santiago do Cacém, tal como noutros locais, as barbearias conquistaram uma clientela fixa, tendo conhecido o seu apogeu nos primórdios do século XX, começando a decair a partir da década de sessenta.
Apesar do florescimento do negócio, são poucos os registos oficiais sobre as barbearias do concelho até, pelo menos, 1948. Esta situação deve-se ao facto de não existir um licenciamento obrigatório até essa data, o que faz cair no esquecimento muitas das barbearias existentes até esse período, uma vez que não existem documentos que as referenciem. Foi a partir do final do ano de 1948, quando entrou em vigor o Licenciamento de Estabelecimentos Comerciais e Industriais, (que abrangeu também as barbearias) que passaram a existir registos dos estabelecimentos licenciados e com alvará, na autarquia municipal[1]. Através da consulta das Cadernetas de Concessão de Licenças de Comércio, de 1948 e o Livro de Alvarás de Licenciamento de Estabelecimentos Insalubres Incómodos e Perigosos e Outros, de 1949 a 1961, foi possível redesenhar uma geografia das barbearias do concelho, desde 1948 até aos nossos dias.

Constata-se que durante este período temporal (1948-1995) existiram 78 estabelecimentos com alvará[2], em todo o concelho. Estes concentraram-se sobretudo em Santiago do Cacém, e nas freguesias do Cercal do Alentejo, S. Domingos, Abela, Alvalade e Ermidas Sado, existindo um menor número de estabelecimentos nas freguesias de S. Bartolomeu da Serra, S. Francisco da Serra e S. André.[3]
O número de barbearias foi assim bastante mais elevado do que aquele que existe actualmente. Por esse motivo, essencialmente nos anos quarenta, cinquenta e sessenta, a concorrência entre os barbeiros era mais aguerrida, procurando-se a todo o custo agradar os fregueses e fidelizá-los aos estabelecimentos. Dizem os barbeiros que viveram essa época, que o seu trabalho era mais exigente e aprumado. Todas as estratégias serviam para atrair a freguesia, contando-se que muitos barbeiros nem varreriam a barbearia durante todo o dia, para que se pensasse que ele atendera muitos clientes. Na cidade de Santiago do Cacém, chegaram a existir mais de quinze barbearias, localizadas na zona centro, sobretudo nas ruas: Combatentes da Grande Guerra, General Humberto Delgado, Camilo Castelo Branco, Prof. Egas Moniz, Cidade de Setúbal, Dr. Manuel António da Costa, Praça do Município e Av. D. Nuno Álvares Pereira, entre outras.


Caracterização do espaço das barbearias ainda existentes


Os estabelecimentos ainda existentes, sobretudo os mais rurais, são autênticos museus vivos. A cadeira de barbeiro rotativa, da antiga fábrica António Pessoa é uma presença quase obrigatória em todas estas barbearias. Os espelhos enchem esses espaços, muitas vezes exíguos e acatitados. As paredes encontram-se forradas com calendários, galhardetes clubísticos ou fotografias antigas. Nas bancadas expõem-se uma multiplicidade de objectos, alguns dos quais já sem uso, como navalhas, assentadores, limpa-navalhas, máquinas manuais de cortar o cabelo, perfumes, loções, entre outros produtos, que servem apenas para decoração.
Do ponto de vista social, estes lugares desempenharam desde sempre um papel crucial na sociabilidade masculina. Num passado recente, esse convívio era favorecido também pelo horário alargado que estes estabelecimentos possuíam, sobretudo ao sábado quando se juntavam mais homens, funcionando, muitas vezes até à meia-noite, uma hora da manhã.
Alguns chegavam a ir para este estabelecimento apenas para passar o tempo, depois dos cafés fecharem. A barbearia era de tal modo conotada com um local onde se sabiam as notícias, que os clientes quando chegavam à barbearia costumavam perguntar ao barbeiro se haviam novidades.
Actualmente, nas poucas barbearias existentes, do concelho de Santiago do Cacém, ainda se vive um certo ambiente familiar e acolhedor, promovido pela figura do barbeiro, mas a sua função social tem vindo, gradualmente, a perder importância, tendo encerrado muitos destes espaços comerciais, consoante os seus proprietários ou empregados vão falecendo ou entrando na reforma.


A APRENDIZAGEM DO OFÍCIO E A PROFISSIONALIZAÇÃO DO BARBEIRO

Um dos temas abordados nesta publicação tem a ver com a aprendizagem do ofício de barbeiro, a qual costumava ocorrer quando os rapazes tinham entre os 12 e os 16 anos, prolongando-se durante cerca de três a quatro anos.
Os aprendizes começavam por desempenhar funções que não se relacionavam propriamente com o ofício, faziam recados aos mestres, arrumavam a barbearia, escovavam os cabelos das roupas dos clientes, entre outras tarefas de menor responsabilidade. Por vezes, passava-se um ano e mais, até que exercitassem o que iam observando. Nessa altura, começavam a fazer a barba aos clientes. Mas, nem todos concordavam que fossem os aprendizes a atendê-los, pois sentiam receio que os rapazes os cortassem. Outros, pelo contrário, mais audazes até incentivavam os aprendizes, não se importando que estes os atendessem.

Com o tempo, aperfeiçoavam-se também na afiação das navalhas e na técnica do corte de cabelo. Passados alguns anos de prática, necessária para exercerem a profissão, eram considerados barbeiros, passando à categoria de oficiais. A partir desse momento, ficavam a trabalhar nos estabelecimentos onde aprenderam o ofício ou iam à procura de um lugar noutra barbearia. Após ganharem experiência, a maioria dos barbeiros estabelecia-se por sua conta, alugando ou comprando uma barbearia, conquistando aos poucos a sua própria clientela.
Alguns deslocavam-se também aos domicílios, a casas de lavradores, a cooperativas e herdades agrícolas, havendo também quem se deslocasse à cadeia para assistir os reclusos.

A par da sua actividade nos estabelecimentos comerciais, os barbeiros, até cerca dos anos 40/ 50, d século XX, possuíam também alguma actividade ambulante, sobretudo por altura das feiras, deslocando-se até elas para trabalhar. Não precisavam de muito espaço, apenas o indispensável para desempenhar as suas funções, ocupando um lugar geralmente perto de uma taberna ou café, para se abastecerem de água. Armavam uma barraquinha com uns panos, colocavam uma ou duas cadeiras e com a ferramenta que traziam dentro de uma mala ou de um caixote e começavam a trabalhar. Diz quem se lembra, que na feira da Abela costumava haver sempre um ou outro barbeiro a cortar barbas e cabelo. Dos barbeiros entrevistados, quase nenhum chegou a ir a feiras, embora haja quem se lembre de colegas mais antigos que frequentavam não só as feiras do concelho, mas também as de Grândola e as de Castro Verde.


Outra das vertentes curiosas do ofício de barbeiro foi em tempos recuados a de sangrador e dentista. Existem relatos dos finais do século XIX, inícios do século XX, que nos indicam este tipo de práticas entre os barbeiros, já não nos hospitais e com a projecção que noutro tempo tiveram, mas como técnica de recurso, em pequenas localidades, onde nem sempre o acesso a um médico era possível. Nessas situações, o barbeiro continuou a desempenhar esse papel, sendo também uma espécie de curandeiro. Acudia aos domicílios, “aplicava sinapismos, cáusticos (...) fazia clisteres, curativos, escalda-pés, circuncisões, cortava abcessos, extraía dentes, vacinava, acudia em casos de mordeduras de cobras, etc.”[4]
No início do século XX, era vulgar encontrar os barbeiros Tira Dentes também em feiras, ostentando “a tiracolo um rosário de dentes humanos, como documento de antigas operações cirúrgicas!”. Outros barbeiros, exibiam à porta dos seus estabelecimentos, tabuletas onde informavam que arrancavam dentes, fazendo-o dentro das lojas, ou tendas, onde trabalhavam. Nos primeiros anos do século passado, essa função tornou-se exclusiva dos dentistas, que se especializaram nesse domínio.
Todo este imaginário popular em relação aos dotes terapêuticos do barbeiro, encontra-se actualmente esquecido, sobrevivendo apenas o ditado “A quem dói um dente, vai ao barbeiro”, citado por muitos dos barbeiros do concelho de Santiago do Cacém.
Notas
[1] As barbearias a partir de 1948 tiveram de possuir um alvará sanitário, sendo vistoriadas por técnicos da Câmara Municipal. Só eram aprovados os alvarás quando as barbearias reuniam os requisitos de higiene necessários.
[2] Apesar destes serem os dados oficiais, havia sempre quem praticasse esta actividade de forma ilegal e sem alvará. Era o caso dos barbeiros que acumulavam esta ocupação com outra função profissional, trabalhando na sua casa sem possuir o negócio declarado.
[3] Nos documentos consultados não há qualquer menção às restantes freguesias do concelho.
[4] Carlos Araújo da Silva (1955) A quem dói um dente vai ao barbeiro”, Separata da Revista Portuguesa de Medicina, Outubro, Rio de Janeiro, p.6

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Fim de Semana em Montejunto

Que grande fim-de semana o nosso em Montejunto. O programa incluiu caminhada, trepar penhascos, piqueniques, acampamento e até visita a duas pequeninas grutas. Em Montejunto grutas é mesmo o que não falta. Numa próxima, haverá tempo para mais...Foi muito bom ter podido sair da cidade e disfrutar do ar livre.
Na Serra de Montejunto, na caminhada
Gruta Dentro da gruta

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Viva Portugal!!! Olé! Estamos à beira da ruína!

Vivemos a euforia do Euro 2008 como um antídoto para a nossa depressão colectiva, o nosso desânimo e apatia geral. Investimos todas as nossas esperanças em Ronaldo, Deco, Quaresma, Simão ou Nuno Gomes. Rimos e gritamos para não chorar… Na verdade, se não fosse esta espécie de anestesia que tomamos durante umas horas, já nos teríamos apercebido melhor dos dias difíceis que estamos a viver. Há muitos anos que não me lembro de uma situação como esta dos combustíveis, se é que alguma vez assisti ao que pude observar hoje. Talvez a minha lembrança mais antiga de tempos difíceis economicamente seja a de inícios dos anos 80, quando os meus pais me mandavam ir às 8h da manhã, para a fila do supermercado para comprar leite, porque havia uma crise no sector que fez racionar o número de pacotes que cada cliente devia levar.
Hoje depois da euforia, depois do contentamento da vitória, daquele jogo que me fez ficar pregada ao ecrã, num café do Seixal, confesso que só me apeteceu chorar no regresso a casa, pois não me apercebera bem do que se passava à minha volta. Nas ruas, os carros amontoavam-se, celebravam a vitória de Portugal, agitavam bandeiras e espalhavam gritos ruidosos, mas muitos, acumulavam-se também em extensas filas junto às gasolineiras, gerando o caos e um trânsito compacto de alguns quilómetros. Quando cheguei à Cova da Piedade, tive a sensação que a fila de autocarros que se via, já se estendia até Cacilhas.
Não bastante, e porque já estava a ficar preocupada com a situação, meti-me no primeiro supermercado que encontrei e aí assustei-me mesmo, porque não encontrei quase nada do que pretendia, a maior parte das prateleiras encontravam-se vazias, nem pão, nem leite, nem iogurtes, nem legumes, nem fruta… Que desolação! As pessoas passavam pelas secções de olhos fitos nas prateleiras, incrédulas do que se estava a passar. Uma delas virou-se para mim e disse: «Nem acredito que estou a viver isto…Agora rio-me, mas hoje já chorei muito à procura de combustível, não tinha nada na reserva e não sabia o que fazer…»
Perante este cenário, eu espero que o governo ponha fim a isto rapidamente, sem arrogância, nem violência, e não deixe os portugueses mais prejudicados do que já estão com esta crise moribunda que nos aniquila há anos… Se isto evoluir, nem quero pensar nas consequências, pois tudo isto é uma bola de neve, afectando todos os quadrantes.
Uma coisa parece-me certa, é que é em situações como estas, muito ligeiras ainda é certo, que nos apercebemos como temos uma vida facilitada perante outros povos que vivem em pobreza extrema, fome e bancarrota. Que dias melhores venham!

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Lançamento dos Cadernos do Património


Câmara de Santiago do Cacém
Dia 7 de Junho de 2008
Museu Municipal

A Câmara Municipal de Santiago do Cacém apresenta dia 7 de Junho, a partir das 16h00, no Museu Municipal, dois cadernos do património.
“Alfaiates e Costureiras” e “A Arte de Barbear e Pentear” são os temas dos dois números de uma colecção que irá ter continuidade. Preservar a memória destas artes já em desuso é o principal objectivo deste projecto da Câmara Municipal.
Segundo Vítor Proença, presidente da Câmara Municipal de Santiago do Cacém, "ao longo das publicações testemunhamos a memória, a aprendizagem, os espaços e os instrumentos preciosos de uso profissional destes resistentes que marcam uma época."
A pesquisa e recolha dos materiais são da autoria de Ana Machado e Nuno Vilhena.

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Consulta de senologia no Hospital dos Capuchos

Hoje foi o dia da consulta anual de Senologia noo Hospital dos Capuchos. Há cerca de dois anos que tenho de a fazer de forma continuada, em face dos nódulos que possuo. Já tinha feito os exames e não havia motivo para estar preocupada. Mas, para mim não é nada fácil ir aquele hospital, principalmente quando se tem mais duas pessoas da família a irem lá regularmente fazerem consultas, exames e até operações.
Fiquei contente quando vi que a minha mãe fez a surpresa de lá aparecer. Eu sabia que estaria tudo bem, mas há sempre um nervoso miúdinho. Pouco antes de entrar dentro do consultório, uma outra senhora entrara. Uma mulher de uns sessenta e tal anos, presumo. Eu que até aí estava descontraída, não consegui manter a mesma calma depois dela entrar, pois logo a seguir o médico viera cá fora à procura do marido dela, que entretanto se ausentara...Antes da porta se fechar, só ouvi o médico dizer para a senhora « e a quimioterapia? resultados zero?». Aquela frase percorreu o meu corpo de cima a baixo e o meu coração bateu mais forte... «quimioterapia!...». O destino daquela senhora era o mesmo de tantas milhares de mulheres que todos os dias enfrentam o mesmo difícil martírio o de combater um cancro de mama! Colei os olhos no livro que levara para me acompanhar na espera, mas o meu pensamento não saía da espiral que há pouco tinha iniciado.
Pouco tempo depois, o médico chamou-me e toda eu tremia por dentro... O marido da outra senhora chegou e ele teve a oportunidade de lhe explicar a situação em privado. Quando chegou para me atender, sem nada falar, a expressão dele indicava que o caso anterior seria talvez um caso perdido...um no meio de tantos outros.
Graças a Deus, comigo as coisas mantêm-se estáveis e agora só voltarei daqui a um ano. Ele explicou-me tudo direitinho e saí mais animada, porém sem aquela alegria exfusiante, pois apercebi-me que nem todas se salvam, nem todas têm a mesma sorte.
Se quem me lê é mulher e tem mais de 35 anos, não pense duas vezes, não se encha de medo, não fique à espera que o pior lhe bata à porta e tarde de mais para se salvar. Faça rastreios, vá ao médico, faça mamografias de vigilância. Se é homem, esteja atento e incentive as mulheres que conheça nesta situação a estarem alerta, pois como já o disse neste blogue várias vezes, o cancro é infelizmente silencioso e não pode ser negligenciado...
Um bem-haja a todos!

Alpha: a história de uma amizade que sobrevive há milénios

Alpha é um filme que conta uma história que se terá passado na Europa, há cerca de 20.000 anos, no Paleolítico Superior, durante a Era do...