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segunda-feira, 25 de agosto de 2008

A dor daquele dia triste


Para assinalar os 20 anos do incêndio do Chiado, deixo hoje aqui ficar um poema feito pela minha mãe em Setembro de 1988. Como muitos saberão, esta é uma data que me toca em particular. Parece mentira, que já tenham passado vinte anos, tinha eu na altura quinze anos e preparava-me para ir frequentar o 9º ano. Realmente a vida passa muito rápido...

Para ti Lisboa, com o meu Amor.
A noite já ia alta
E Lisboa preguiçosamente acordava devagar
Com seu ar de menina bonita,
em breve O Sol doirado viria beijá-la
E fazer rebrilhar as águas do seu Tejo.
Mas, como por feitiço,
O seu acordar lento e vagaroso, tornou-se um rebuliço,
E o luto do seu xaile ficara mais carregado.
E como num gemido, ela esqueceu seu fado,
E chorou… seu peito desventrado.
E um grito se ouviu!...
Como se um marinheiro depois de uma noite de farra
Esfaqueado tombasse no chão…
Há um grito de socorro, e há um outro mais além!...
Feriram seu coração…
Gritam lá do elevador: «Há Fogo no Chiado!»
E logo alguém lá em baixo corre a transmitir o recado.
E Lisboa acorda assim ainda um pouco estremunhada,
Com o toque das sirenes… - Há Fogo! Há Fogo!...
E como alastra e devasta, património bens e vidas.
E os Homens que tudo deram, esses soldados da Paz, Valentes, Fortes e Audazes.
Choro por ti ainda Lisboa querida,
Perdeu-se teu coração, salvaram a tua vida.
Ficaremos com a Esperança
Que o possam restituir, tal qual era Enamorada.
Esquece o medo e a ansiedade,
Mantém sim… acesa a saudade.
Traça o teu xaile e num gemido de guitarra bem trinado,
Vem Lisboa, Vem de novo Cantar teu fado!

Carminda Durão Machado

2 comentários:

  1. Lindíssimo.

    Por uma pesquisa casual encontrei o relato deste "dia triste" que fizeste no ano passado. Não tinha lido nunca nenhum testemunho de alguém que vivia ali.

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  2. Lisboa fez-me chorar

    Mil novecentos e oitenta e oito
    A vinte cinco de Agosto
    Perdemos todos um pouco
    Sofreu Lisboa um desgosto
    A parte mais importante
    De encanto e comercial
    Foi destruida p'lo fogo
    Que fez chorar Portugal
    Ai essa rua do Carmo
    Jamais voltará a ter
    O encanto natural
    Que o fogo lhe fez perder
    Rua Garrett quem diria
    Que um dia te via assim
    Eu vi o Camões chorar
    Podes crer que foi por ti
    Ao cimo da rua Garrett
    Ouvi um soluçar rouco
    Era a Brasileira chorando
    Por viver num mundo louco
    Rua nova do Almada
    Braço esquerdo do Chiado
    Ouvi a velhinha calçada
    Chorar baixinho o seu fado
    O Bairro Alto pressentiu
    O que se estava a passar
    Pegou na guitarra e fugiu
    P'rá Mouraria a chorar
    Mouraria pôs o xaile
    E como louca correndo
    Foi direitinha ao Castelo
    Sem crer no que estava vendo
    E eu olhei e vi o Marquês
    Tristonho e angustiado
    Por lhe terem destruido
    O Pombalino Chiado
    D. José lá mais em baixo
    Dizia nesse momento
    Mais ruinas para Lisboa
    Juntar ás do seu Convento
    Os pombinhos do Rossio
    Com grande emoção sentida
    Voaram rente ao Chiado
    Num adeus de despedida
    Até o nosso turista
    Não resistiu e chorou
    Por ver a desolação
    Em que Lisboa ficou
    O Tejo tão revoltado
    Por ver Lisboa chorar
    Afogou o seu desgosto
    Nas verdes ondas do mar
    E até o Cristo Rei
    Mudou sua penitência
    Ergueu os braços aos céus
    Pedindo a Deus clemência
    Todos perdemos um pouco
    Neste fogo abrasador
    Não houve olhar português
    Que não chorasse de dor
    Destruiu postos de emprego
    Destruiu tanta beleza
    Feriu a sensibilidade
    Desta gente portuguesa
    Lisboa ficou de luto
    Já a saudade domina
    P'la perda irreparavel
    Desta Baixa Pombalina.

    Abraço da Rosa
    Os poetas se manifestam

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