O dia começou com o barco já
atracado no porto de Piréus. Um misto de saudade e nostalgia invadiu o meu
espírito, não só porque a chegada tinha um sabor a despedida de dias
preenchidos que passaram rápido demais, mas porque sabia que naquele mesmo
porto, o meu tio, que tinha sido durante alguns anos embarcado num navio grego,
ali teria chegado e partido muitas vezes… foi como se ali naquele porto
sentisse que havia uma pequena parte da sua história…a de um homem que correu
mundo toda a vida.
Depois de desembarcarmos, a manhã
foi muito preenchida, tendo como ponto alto a visita à Acrópole e ao famoso
Partenon, símbolo da glória da Grécia Antiga. Com um calor abrasador logo pelas
primeiras horas da manhã, previa-se que a subida fosse penosa, pela encosta
íngreme que se vislumbrava, multiplicando-se os turistas que ali chegavam.
Na Acrópole, que significa “cidade
alta”, lugar caraterístico da maioria das cidades gregas, por motivos de
defesa, e onde se sedeavam os principais lugares de culto, as pessoas apinhavam-se
para consumir o lugar como ponto turístico obrigatório, multiplicando-se as
fotos do Partenon, do templo de Ateneia Niké e de Erecteion e as suas
cariátides e muitas selfies. Seguiam na correnteza de grupos que vagueavam pelo
local, muitos deles sem perceberem muito bem o real valor da antiguidade
daquelas pedras milenares, deixando a sua marca digital quando os vigilantes estão
distraídos. Pergunto-me se ao ritmo com que as pessoas invadem o local, haverá
dentro de umas centenas ou dezenas de anos, muito mais para preservar.
O Partenon, encomendado por
Péricles em 447 a. C, é um templo dórico dedicado à Deusa Atena, protetora da
cidade, tendo havido no seu interior uma impressionante escultura consagrada a
esta Deusa com cerca de 12 metros de altura, coberta de ouro e marfim. Hoje
apenas são visíveis ruínas, mantendo-se a sua estrutura, que resistiu
estoicamente perante todos os ataques a que foi submetido, tendo chegado a ser
uma igreja, uma mesquita e um arsenal, bombardeado em 1687, durante o cerco que os venezianos moveram aos turcos, e saqueado no início do
século XIX, quando Lord Elgin autorizou o roubo da decoração escultural do
templo e o vendeu ao Museu Britânico.
Atualmente, confundem-se os
pilares com os dos andaimes que tapam parte das suas fachadas para
salvaguardar a sua estrutura, substituindo-se em algumas secções a pedra já gasta
por madeira, sobretudo nos frisos, e intervém-se ativamente na sua conservação.
Depois de um banho de história,
de cultura, de Deuses, e de um calor que não se suportava, houve tempo ainda para
fazer uma visita panorâmica de autocarro por Atenas, incluída no pacote da
viagem, parando no Estado Olímpico para mais umas tantas fotografias e ver novamente
a Praça Syntagma, onde com aquele calor os Evzones derretiam aguardando o
render à hora certa.
De regresso ao Hotel President,
percebemos que algo no tempo mudara, o céu tinha tomado tons mais escuros e um
vento descontrolado começava a soprar com mais intensidade, embora a
temperatura se mantivesse extremamente elevada. Depois do cansaço da manhã na
Acrópole decidimos que parte da tarde seria para descansar na piscina do hotel
e desfrutar de um banho relaxante, pois férias também significa ter tempo para
usufruir.
A meio da tarde regressámos de
novo ao centro para comprar a excursão para Delfos, que pretendíamos fazerno
dia seguinte. Quando chegámos a Monastiraki, o vento soprava ainda mais forte,
rodopiando e levando tudo pela frente. Perguntámos à senhora da loja das
excursões se era normal e ela procurou despreocupar-nos dizendo que sim, mas
que havia um grande incêndio nas proximidades, completamente incontrolável.
Face aos acontecimentos trágicos do
ano passado em Portugal, com os incêndios, eu e a minha irmã ficámos um pouco apreensivas
com a excursão no dia seguinte, pois temíamos que em Delfos ou no caminho
pudesse haver alguma frente ativa que nos apanhasse de surpresa. A senhora
procurou acalmar-nos porque não havia fogo por essas paragens e resolvemos
arriscar a comprar a excursão.
Como o bairro da Plaka, ficava
ali muito perto, percorremos as suas ruas estreitas, algumas com lojas de
souvenirs, cafés e restaurantes.
Sentámo-nos numa esplanada para descansar um
pouco e tomar uma bebida fresca e num instante, o vento intensificou-se,
levantando tudo à sua frente, com uma
força que nos parecia querer arrastar. Face a isto, esquecemos a intenção de
jantar naquele bairro e fomos apanhar o metro com destino ao hotel.
Quando chegámos ao hotel ligámos
a televisão e percebemos, através das notícias da televisão grega, que o fogo
estava mesmo assustador e a poucos quilómetros de Atenas. Infelizmente esta
situação também não é uma novidade em terras gregas, sendo todos os anos
afetados por este flagelo que tudo consome.
Por precaução preferimos ficar
pelo hotel e ir vendo o avançar dos acontecimentos. Partiríamos bem cedo no dia
seguinte para Delfos.
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