Luís Maçarico e Paula Silva Lucas
Eu e o Luís Maçarico
Breves palavras sobre o Luís Maçarico
O menino que se fez homem, tornou-se poeta e nos seus poemas passou a deixar impressa a sua marca, o seu olhar atento sobre o que o rodeava, afirmando neles as suas convicções, os seus ideais e sentimentos.
Esta sensibilidade do Luís perante o meio envolvente, perante as pessoas e as suas vidas, levou-o mais tarde a interessar-se por Antropologia, tendo-se licenciado nesta ciência, na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, da Universidade Nova. Desde essa altura, documentou tradições, trajectos pessoais e recolhas orais sobre aspectos sociais e culturais e produziu alguns estudos sobre colectividades, entre os quais se destaca “Um Antropólogo no Associativismo”. Em 2005, completou o Mestrado em Antropologia (Patrimónios e Identidades) no ISCTE - Instituto Superior das Ciências do Trabalho e da Empresa- com a tese de dissertação “Os processos de construção de um herói do imaginário popular - o Caso de Santa Camarão”.
No âmbito antropológico, o Luís Maçarico escreveu ainda inúmeros trabalhos de investigação para revistas, nomeadamente “O Alentejo, o Cante e os seus Poetas” (Arquivo de Beja) “A Função Antropológica da Aldraba: Da Origem Simbólica à Morte Funcional” (Arqueologia Medieval), “Aldrabas e Batentes de Montemor-o-Novo: Um Olhar Antropológico” (Almansor) e “Os Morábitos na Arquitectura Religiosa do Sul” (Callípole), «O imaginário popular e a patrimonilização em Murfacém» (Anais de Almada), entre muitos outros.
A poesia e a antropologia cruzam-se e complementam-se na vida do autor, inspirando-o, pois atrás de um texto antropológico ou de um poema, outro vem. Ao todo, o Luís Maçarico publicou catorze livros de poesia, nove textos de literatura infantil, uma biografia e um volume de contos. Vários textos, quer em prosa quer em poesia, representam a sua escrita em treze antologias. São mais de dois mil os poemas divulgados na imprensa, onde continua a colaborar, com crónicas de viagem, entrevistas e artigos de intervenção, nomeadamente no jornal “Conversas de Café”.
Trata-se pois de um autor versátil e completo. Como lhe chamou Paula Cristina Lucas da Silva na introdução de um dos seus livros, o Luís Maçarico é um poeta de pan, o que quer dizer que “significa tudo, ou o todo, o mundo, o universal), cabendo nessa acepção tudo o que o poeta canta, ou seja “o corpo, a luz, a terra, as gentes, os sonhos, os desejos, os sentidos, a aventura, o destino, a palavra, os lugares, as sensações, as memórias, os homens, a solidão, as cidades, o campo, os mistérios, as crianças, os sentimentos, a amizade, as paisagens, os medos, os mitos, a intimidade, enfim a vida”.(In: vagabundo da Luz).
Cadernos de Areia
Esta minha participação neste lançamento e no prefácio do livro surgiu como arte do destino e teve um significado especial para mim, pois quando o Luís me falou que pretendia publicar um livro com alguns poemas seus sobre a Tunísia, eu tinha acabado de chegar de uma viagem de férias a esse país do norte de África e começava a escrever algumas reflexões sobre o mesmo. Estava tudo ainda muito fresco na memória e quando partilhei esses momentos com o Luís, o convite para esta participação surgiu logo ali, deixando-me surpresa, agradada e de certo modo um pouco ansiosa, por ser grande a minha responsabilidade, a de honrar a palavra deste poeta e amigo.
As viagens e os itinerários, dentro e fora do país, os contactos que estabelece com as pessoas que vai conhecendo e descobrindo, constituem sempre para o Luís Maçarico um bom pretexto para escrever, sendo através da poesia que melhor expressa os seus sentimentos e as impressões dos lugares que percorre.
Através destes Cadernos de Areia, viajamos e acompanhamos o percurso do poeta em várias terras da Tunísia e testemunhamos o seu deslumbramento. Conhecemos paisagens e geografias diferentes, avistamos palmeiras que esvoaçam ao vento, sentimos no rosto o bafo quente trazido do deserto. Deserto esse tão solitário, tão profundo e silencioso, onde se reconhecem caminhos antes já traçados e percorridos. Prova de fogo este caminho debaixo de sol escaldante, rumo ao oásis no dorso de um camelo. E a areia fina escorre por entre os dedos, como os passos que damos e em instantes se tornam memórias do lugar. Entramos nas magníficas ruelas pintadas de branco e azul de Sidi Bou Said, caminhamos por Le Kef, Gafsa e Gabès, contemplamos o entardecer em Cartago e sonhamos com “chás de estrelas”.
Poesia de viagem, de memórias e de afectos, este livro é sem sombra de dúvida uma incursão por um país que ecoa dentro de nós.