Saímos em excursão logo pelo
início da manhã para Delfos. Íamos com o coração apertado, pois o fogo
continuava a descontrolado e muito perto de Atenas, embora desconhecemos ainda que
seria nesse dia que Mati praticamente desapareceu do mapa, e tantas pessoas ali
morreram, sufocadas, queimadas, em perfeito desespero…isso só mais tarde viemos
a saber.
Delfos dista cerca de 180 kms de
Atenas, demorando perto de três horas de caminho, sendo acessível apenas de
carro, ou autocarro, em viagens organizadas. Confesso, que ao princípio tive
algumas dúvidas em ir a este lugar, pois, tinha pensado em tirar mais partido
da praia e de alguma eventual excursão que pudesse ter como destino uma
estância balnear, onde pudesse mergulhar no mar Egeu, mas depois de começar a
pesquisar um pouco mais sobre este local acabei por perceber que ir à Grécia e
não ir a Delfos seria uma lacuna imensa nos meus conhecimentos e experiências.
Com uma paisagem que prende a
respiração, Delfos fica localizado na ladeira sul do monte Parnaso, possuindo
uma vista impressionante sobre o vale e o mar ao fundo, embora quem venha na
estrada não perceba bem o que ali existe, pois encoberto por ciprestes e
olivais o povoado esconde-se entre os socalcos da encosta íngreme.
Era aqui neste pequeno povoado que na Grécia
Antiga se realizava o Oráculo, atraindo peregrinos de toda as partes do país e
países vizinhos, que vinham pedir conselhos a Pitia, a sacerdotiza reputada do
templo. Esta, antes de iniciar o oráculo seguia o ritual de se banhar nas águas
da fonte Castalia, bebia água da fonte e depois num estado de transe,
desencadeado pelo uso de substâncias que o induziam, começava a pronunciar as
suas sentenças ambíguas, que os sacerdotes interpretavam em forma de verso ou
em prosa, e geralmente manipulavam, consoante os interesses económicos ou
políticos em causa. Neste sentido, Delfos era considerado o lugar religioso mais
importante da Grécia, na Antiguidade, e o umbigo do mundo, por atrair gente de
todo o lado que vinha em busca das previsões do futuro. De tal modo se pensava que
este era o centro do mundo, que existiu no templo de Apolo a representação de
um umbigo, uma pedra coberta por uma rede de fitas e nós esculpidos, que
podemos visitar no Museu Arqueológico de Delfos.
Assim, que coloquei o pé em
Delfos, a experiência foi bastante intensa. Não sei se por estar um pouco
nervosa com os incêndios e ver os gregos tão consternados e os nossos
familiares em Portugal algo ansiosos com o que viam na televisão portuguesa, que
assim que comecei a andar, senti uma força imensa a vir daquele lugar,
deixando-me sem forças e com as pernas a tremer, o que me deixou convicta da
energia e misticismo daquele lugar histórico.
Tesouro dos Atenienses
Templo de Apolo
Templo de Apolo
Anfiteatro
Estádio
Naquele pequeno povoado vale a
pena visitar o sítio arqueológico, que nos revela o lugar antigo e as suas
ruínas, e construções como a do Templo de Apolo do séc. IV a. C, descoberto em
1892, embora tenha existido outros anteriores a este. No espaço de entrada do
templo estaria gravado a célebre frase: «Conhece-te a ti mesmo!». No interior
deste espaço existiriam também estátuas de deuses e o altar de Héstia, com o
fogo acesso e uma estátua de ouro de Apolo. Tudo isso agora só é possível ver se
imaginarmos.
Salienta-se também o Tesouro dos
Atenienses, onde se guardavam ofertas valiosas doadas por benfeitores e pessoas
que recorriam ao Oráculo, como estátuas, obras de arte e metais preciosos; o Anfiteatro,
também do séc, IV a.C., com capacidade para cerca de 5000 espectadores, que se
mantém em muito bom estado. No ponto mais alto da encosta, a norte, estão as
ruínas do estádio, com cerca 178 metros de comprimento e 25,5m de largura, onde
se realizavam as competições de atletismo e de hipismo e os jogos pítios,
realizados de 4 em 4 anos e os concursos líricos e espetáculos musicais.
Depois de nos embrenharmos na
visita, de ouvirmos as explicações da guia que nos acompanhou, pudemos sentir
melhor o lugar. A guia disse-nos que ali no Oráculo de Delfos todas as questões
são respondidas e se as fizéssemos encontraríamos, em silêncio, as respostas na
nossa consciência, no nosso pensamento. Na verdade, naquele espaço mágico é
possível encontrar todas as respostas que trazemos dentro de nós, como se
ecoassem por aquela encosta em direção ao vale, numa voz que nos devolve a
lucidez e a temperança.
Retornei à entrada do espaço
arqueológico, com as pernas ainda bambas, não só pela subida, mas pelo impacto
do lugar, que não conseguia explicar, e encaminhámo-nos para o Museu
Arqueológico de Delfos, onde pudemos observar a Auriga de Delfos, a escultura
de bronze mais valiosa da coleção, que representa a vitória nos jogos Píticos,
no ano 478 a. C., entre outras peças e objetos impressionantes, que ali foram
escavados e descobertos.
O almoço foi num restaurante fora
do povoado de Delfos, possuindo uma área exterior que dava para o vale. Eu e a
minha irmã, que levámos almoço, acabámos por encontrar duas cadeiras, que
pareciam esquecidas e reservadas para nós e ali comemos, debaixo de uma árvore,
contemplando a vista daquela paisagem aberta e infindável, que fazia lembrar o
Douro português.
Seguiu-se a visita a outro sítio
arqueológico em Delfos, situado uns metros abaixo do antigo povoado, onde
conhecemos vestígios do templo de Athena, o segundo templo mais importante de
Delfos, construído no séc. V a. C., e reconstruído no séc. V depois de um
terramoto; e as ruínas do Tholo de Sición, em formato circular, com 20 colunas,
no seu perímetro, construído em 380 a.C.
Aí, voltei de novo a sentir o
corpo tremer. Não havia dúvidas, estava mesmo no centro do mundo e a lenda
estava viva, bem diante dos meus olhos.
De regresso a Atenas, no dia
seguinte ultimaram-se as últimas visitas, os souvenirs de última da hora. Houve
tempo para regressar a Piréus, ir ao Museu de Arqueologia de Piréus, onde
pudemos admirar as estátuas de Athena e Afrodite, e voltar à Acrópole para visitar
o museu, que não tinha sido ainda possível conhecer.
Atenas é uma cidade que merece
ser visitada, mas que ao fim de alguns dias começa a cansar, pois não é bonita,
é barulhenta, desorganizada e enorme. Por isso ao viajar para a Grécia vale a
pena ter um plano de visita abrangente e se possível incluir as ilhas e diversificar
bem os programas, seja em cruzeiro ou ferry, pois este país tem muito para
oferecer, em termos de paisagens e de lazer. Nesse sentido, foi uma viagem fantástica,
muito completa, que perdurará na memória, pela sua história, o seu passado, o
seu misticismo e as suas paisagens.
Venha a próxima!