domingo, 27 de julho de 2008

Calou-se a voz de Randy Pausch...


Randy Pausch foi o professor que comoveu o mundo com a sua força e energia, boa disposição e com a sua mensagem de esperança depois de saber que sofria de um cancro no pâncreas. Morreu aos 47 anos, depois de vários meses a combater a doença. Deixou-nos a sua experiência de vida, a sua história, a sua boa aura. E deixou-nos também o seu best-seller «A última aula», o qual é uma fonte de inspiração para os nossos dias mais cinzentos, aqueles em que ameaçamos desabar e desacreditar em tudo. Há quem diga que é um livro que ensina a viver.
Quem tiver alguma curiosidade dê um olhinho no vídeo que retirei do You tube, apesar de estar traduzido em brasileiro vale a pena ver e se lhe interessar compre o livro.

sábado, 19 de julho de 2008

Tunes,Sidi Bou Said, Cartago


No dia antes de partir para Portugal, fizemos uma excursão que incluiu Tunes (capital da Tunísia), Sidi Bou Said e Cartago.
O primeiro lugar que visitamos em Tunes, foi a sua labiríntica medina, caracterizada pelas suas estreitas vielas. Esta, ao contrário das outras que visitara, tinha muitas ruas que pareciam túneis, dado que muitas delas eram cobertas. Aí andamos sempre em grupo, (desta vez havia portugueses no grupo)pelas ruas e pelas lojas a que o guia nos levou, as quais eram obviamente caras, até porque ele recebia comissão. O mais interessante nesse percurso foi a visita a um perfumista, onde foi feita uma apresentação dos perfumes para venda, por um homem que era uma verdadeira personagem de filme.


Em seguida visitamos o Museu do Bardo alojado num antigo palácio dos beis Husseinitas (governadores da província) Este museu é uma autêntica maravilha, exibindo verdadeiros tesouros arqueológicos de toda a Tunísia, sobretudo uma importante colecção de mosaicos romanos, do séc. II. a.C. ao séc. VII.e está dividido em quatro grandes áreas: cartaginesa, romana, princípios da era cristã e islâmica.
Os mosaicos mais conhecidos são o do poeta Virgílio a escrever a Eneida, acompanhado pelas suas Musas e o mosaico, de grandes dimensões.
Depois de uma visita guiada, onde pudemos conhecer um pouco melhor da história destes objectos, rumamos até Cartago onde almoçamos.
Pouco depois, chegamos a uma das povoações mais bonitas da Tunísia: Sisi Bou Said. Situada numa colina, vale bem a pena subi-la para apreciar os seus belos recantos, de casas brancas com janelas azuis, de majestosas portas de madeira com aldrabas. Tive muita pena que ali o tempo tivesse voado e que não tivesse dado para explorar melhor a sua vista para o mar, mas nestas condições o tempo é sempre tão curto! Aproveitámos para fotografar bastante, tomar um bom chá no mundialmente famoso Café des Nattes, situado no topo da rua principal. Aí é imperioso tirar os sapatos e sentarmo-nos em esteiras, e sentirmo-nos simples e confortáveis...
O último local da viagem foram as Termas Antoninas, em Cartago. Estas termas começaram a ser construídas no reinado de Adriano (76-138) e foram as maiores termas do mundo fora de Roma. Estas possuíam um sistema de fornalhas subterrâneas que proporcionava o aquecimento, várias salas de vapor com diferentes temperaturas, uma piscina de água fria e um banho de hidromassagem.

Das ruínas das termas tem-se uma incrível vista para o mar. Ali ao lado, situa-se também o palácio do Presidente da República, Ben Ali, não sendo permitido fotografar em determinadas perspectivas que o captem, por ser proíbido tirar retratos a edifícios estatais.
Dali rumamos ao hotel. Restar-nos-ia apenas mais umas horas em solo tunisino, pelo que era tempo de começar a arrumar as coisas e fazer as últimas compras. Ao fim do dia, descobri bem perto do hotel uma loja de souvernirs com algumas coisas que tinha comprado nos souks por um bom preço (pensava eu) em saldo!!!! Percebi com isto que nem sempre sabemos avaliar bem o preço dos objectos que compramos e por isso é normal que sejamos «enganados», mas isso faz parte do processo, paciência!
O regresso a Portugal ocorreu com uma demora secante de três horas, mas de resto correu tudo bem! A Tunísia ficava para trás, mas não na nossa memória!

sexta-feira, 18 de julho de 2008

IV e último dia de Circuito

A viagem até Yasmine Hammamet fez-se durante a manhã. Viemos pela costa, parando muito esporadicamente. Estivemos em Monastir, apenas cerca de 30 minutos, às 8h30 da manhã, pelo que só só admirando o exterior do mausléu onde se encontram os restos mortais do antigo presidente da República da Tunísia, Habib Bourgiba, revelando-se por isso uma paragem frustrante, pois além de ser pouco tempo, era demasiado cedo ainda.
Seguimos em direcção a Port El Kantaoui, onde sairiam alguns colegas de viagem. Porém, quis o guia e muito acertadamente, que parássemos numa pequena localidade costeira, situada junto ao mar, que por não ser um local turístico muito nos surpreendeu. Ali sobressaía a cor branca das casas e o azul celeste de portas e janelas. Mal descemos do autocarro percebemos que ali finalmente não se falava espanhol, e os locais não compreendiam o que os nossos camaradas espanhóis diziam, deixando-os com uma frustração muito semelhante àquela que eles nos causaram durante todo o circuito. Não conseguindo comunicar com os locais afastaram-se, enquanto que nós tirávamos a desforra e falávamos com uma das mulheres que estava numa loja no largo onde parámos. A música e o cântico de mulheres ouvia-se muito alto e a curiosidade fez com que me aproximasse da porta de onde essa musicalidade exalava, porém não me queria intrometer, até que a mulher da loja disse para entrarmos nessa casa, de porta escancarada, onde algumas mulheres e crianças cantavam, dançavam e agitavam as línguas num ritmo frenético que produzia som.
Ao entrar naquela casa, recordei as páginas de um livro que li há uns anos atrás, de uma antropóloga que foi minha professora, a Maria Cardeira da Silva, que fez trabalho etnográfico com mulheres em Marrocos. Eu estava encantada. Dançava com aquelas mulheres que não conhecia de parte nenhuma, sentia a energia delas evadir-me o corpo, havendo uma delas que cantava olhando para mim e me esfregava a barriga com as mãos. Sentia-me num ritual. No entanto, aquela festividade não era mais do que um recital dedicado a uma das filhas que tinha passado de ano com bons resultados. Além da música e da dança, ofereceram-nos um sumo gelado e eu deslumbrada com aquele bocadinho de céu que estava a ter (enquanto os palermas dos espanhóis ficavam no largo sem rumo) deixei escapar das mãos o copo do sumo. Por instantes, fiquei perplexa com a reacção delas, temendo que vissem naquele facto algum sinal, algum presságio. Mas, nada elas continuaram a celebrar e a cantar, dizendo que não havia problema nenhum. As crianças assim descobriram que tínhamos câmaras começaram a pedir-nos que tirássemos fotografias delas, numa sucessão contínua de poses. Quando mal demos por isso, elas tentaram começar a vender-nos produtos da terra de uma fibra vegetal que não sei o nome, com formatos de peixe. E nós por educação compramos, até porque elas nos tinham recebido no recato do seu lar e nos tinham proporcionado instantes memoráveis.
Regressamos ao autocarro triunfantes, afinal em poucos minutos tínhamos visto e sentido algo espectacular.
Rumamos em direcção ao fim do circuito. Já não tinha mais paciência para a carneirada!
De tarde, já em Yasmine Hammamet no hotel, onde devíamos ter ficado assim que chegamos de Portugal, decidimos ir ao centro de Hammamet, a 9 kms dali. Gostávamos de conhecer a Medina local, situada a beira-mar e um pouco do seu ambiente. Optámos por ir de autocarro público, permitindo-nos conhecer melhor a vida quotidiana dos tunisinos e poupar quase 7 € em táxi. Se tívessemos ido na conversa dos espanhóis e dos guias era isso certamente que teríamos feito.
Já em Hammamet, começou todo o ritual da Medina novamente, o regateio, a conversa, a teatralidade… Nesse dia, eu estava já particularmente cansada e todo aquele ambiente estava já a rebentar comigo, sempre a equacionar o quanto queria gastar, o que tinha em dinars… Tive de ir apanhar ar, e foi então que descobri uma lojinha de artesanato encantadora e um tunisino de meia-idade muito simpático e conversador. Ali os produtos eram de muita qualidade, e o senhor deixou-nos completamente à vontade. Estivemos a conversar com ele mais de meia hora. Era uma mente iluminada, sábia, com um conhecimento sobre a vida incrível. Não fosse eu começar a ter uma quebra de tensão, a conversa poderia ter-se arrastado durante horas. Ali como já referi, não há pressas.
A seguir refugiei-me numa esplanada perto da praia a tomar chá de amêndoas e a recuperar as forças. Estava a viver aquilo com demasiada intensidade e isso associado a algum calor estaria a fazer-me quebrar.
Seguidamente, fui até à praia pública, onde pude partilhar o mesmo espaço com os tunisinos, o que me era completamente impedido no hotel. A verdade, é que aquela foi uma das melhores praias que visitei, onde me senti completamente à vontade, junto de mulheres que tomavam banho vestidas e se refrescavam à beira mar.

O regresso a Yasmine Hammamet foi mais atribulado, porque esperámos pelo autocarro quase uma hora na paragem. Quando ele chegou completamente atolado, quis entrar pela frente, mas a entrada fazia-se pela retaguarda, obrigando-me a correr para a outra porta. Lá dentro, aquilo foi uma autêntica aventura, até chegar à porta da frente. Mas seja como for, valeu a pena. Como iríamos saber o que é andar de transportes públicos, se só tivéssemos andado no autocarro da excursão? Foi uma experiência interessante, sim senhor!

quinta-feira, 17 de julho de 2008

O Circuito ao Sul –III

«Fazem-me falta momentos assim, lugares assim, mais do que qualquer outra coisa na vida»
Port Moresby (John Malkovich) Em Um chá no Deserto de Bernardo Bertolicci

Mais um dia a despertar cedo. Seis e meia da manhã e já a tomar o pequeno-almoço. Adivinhava-se outro dia interessante, cheio de coisas para ver e para fazer. O ponto alto da jornada teve lugar logo assim que abandonamos o hotel. Logo ali em Douz, nas portas do deserto do Sahara fomos andar de dromedário. Era a primeira vez que andava de “camelo”, a única experiência que tinha com este animal restringia-se ao Zoo, e tinha um certo receio de montá-lo. Surpreendentemente, foi uma agradável caminhada, o dromedário era tranquilo e manso e acompanhou sempre o ritmo dos restantes. A manhã estava amena, com uma luz muito branca, que se reflectia na areia fina. Aqui e ali viam-se palmeiras, existindo um enorme contraste de cor entre a areia branca amarelada e a cor viva das árvores.


Mais uma vez, soube-me a pouco o tempo que ali estivemos. Não nos afastamos muito do ponto de partida, ouvindo ainda o ruído dos automóveis que passavam na auto-estrada, a poucos quilómetros de onde nos encontrávamos. Tive pena de não ter podido tirar mais partido da experiência, pois não nos evadimos o suficiente, nem ouvimos o silêncio que eu queria ouvir e sentir. Diz quem entrou nos meandros do deserto, que ele é mágico, um lugar incorruptível e de oração, quase divino e eu acredito nisso, porque eu ali afastada do meu mundo, senti-me serena e dona de uma outra realidade, próxima da cinematográfica. Ás vezes sabe bem sentirmo-nos dentro de um filme de viagens e aventuras…
Passado uma hora sensivelmente o passeio acabou. Em muito pouco tempo, a experiência virou memória… Nunca se sabe se um dia voltarei à Tunísia só para repetir e intensificar estas emoções vividas a sul!
De seguida, começamos o nosso regresso para o norte, pois o circuito terminaria no dia seguinte. Dirigimo-nos para Matmata. Esta região caracterizada pelas suas casas escavadas na rocha, inspirou também George Lucas, tendo sido usadas como cenário na «Guerra das Estrelas». Estas rudimentares habitações, são singelas, despojadas de grandes ornamentos, sem grandes riquezas, dispondo apenas do que é meramente essencial. Os circuitos turísticos costumam ter acordos com os donos destas habitações pelo que é a forma mais prática de conhecer o seu interior.
A senhora que nos recebeu na sua casa era de poucas palavras. Trazia no rosto cansaço e possivelmente o enfado dessa tarefa tantas vezes repetida e encenada de mostrar a sua casa aos turistas. Começou por simular a moagem do cereal, mais para a fotografia do que para outra coisa e depois entrou no interior da casa oferecendo aos presentes pão, que devíamos molhar em azeite, e chá de menta.

Apesar de ter gostado de conhecer estas casas por dentro, ao princípio confesso estar a sentir-me incomodada pois parecia-me estar a devassar a privacidade do lar desta mulher. No fim, percebi que aquilo era uma forma acrescida de sobrevivência e senti-me menos intrusa.
O passeio continuou com algumas paragens pontuais, almoçando num hotel em Gabes. A partir daí, o circuito começou a tornar-se mais cansativo, com menos paragens e distâncias maiores a percorrer e talvez por isso menos interessante. Eu continuava a aproveitar para dormir, até porque a minha tensão não andava muito alta e de vez em quando lá tinha uma quebra.

O destino mais interessante da tarde foi a visita a El Jem. Aqui se encontra um magnífico anfiteatro com um perímetro de aproximadamente 427 metros, em tudo semelhante ao Coliseu de Roma, mas mais pequeno. Em tempos, foi o maior da província romana de África, tendo capacidade para 27.000 espectadores. Encontra-se num razoável estado de conservação, possuindo ainda a sua cor original. Quem entra aqui lembra-se imediatamente do filme «Gladiadores», dado que as galerias subterrâneas onde os gladiadores eram colocados, ainda estão em excelente estado. Nestes anfiteatros realizavam-se, entre outros espectáculos, lutas entre cristãos e animais selvagens, um autêntico derramamento de sangue!
Depois de descer a subterrâneos e subir as elevadas escadarias do anfiteatro, sentia-me a destilar. O calor era agora mais húmido, fazendo com que a roupa se colasse ao corpo. Aproveitei então para me sentar um pouco num pequeno banco de pedra, virado para o lado exterior do mesmo, onde pude observar o ritmo de vida de El Jem e respirar um pouco o seu quotidiano. Ao longe ouvia-se música árabe, pessoas e carros circulavam de um lado para outro, e nas imediações uma série de lojas de souvenirs, antiguidades mostrando portas de madeira pintadas, marionetas típicas da Tunísia e uma parafernália de objectos. Enquanto os minutos iam contando para o fim da estadia neste local e a romagem para o autocarro, ali fiquei de olhos fitos naquele povo, sem vontade de me mexer.
No fim do dia chegamos a Madhia, local onde iríamos pernoitar. Aí, depois do jantar decidimos seguir o nosso guia tunisino louco e ir até um café, juntamente com alguns espanhóis. Era sexta-feira à noite e apesar de estar cansada apetecia-me perceber como as pessoas se divertiam ali. Mas, a experiência podia não ter acabado assim tão bem…
O nosso guia começou a levar-nos por ruas e ruelas, sem muita iluminação, o que dificultava a perspectiva do caminho, ouvindo-se a voz forte e sonante da chamada para a oração (a última das cinco diárias). O caminho para o tal café junto à praia tornava-se cada vez mais longínquo. Porém, como éramos muitos acabamos por não ter lugar e tivemos de continuar a seguir o guia em busca de um outro. Acabámos por ficar numa esplanada, numa pequena praça iluminada, onde se viam além de homens, algumas raparigas (coisa muito rara de ver!).
Neste café, tive a oportunidade de beber um óptimo chá de pinhões e de finalmente experimentar a «chixa», o famoso cachimbo de água, mas não me tornei muito fã. A noite aliás depressa se tornou enfadonha, pois os espanhóis só falavam com o guia e entre eles, e ninguém falava com as portuguesas, para variar um pouco. Às tantas, pensei o que estava ali a fazer, era como se fosse invisível. Queria vir-me embora, mas era impossível, não sabia voltar para o hotel e ainda por cima começava a ficar tarde. A situação piorou quando o guia começou a propor uma discoteca… Eu a cair de cansaço e o fulano completamente cheio de pica… como era possível? Quando dois casais decidiram vir embora eu dei graças, pois só assim poderia voltar. A verdade é que estava bastante longe do hotel. E ainda mesmo que acompanhada, confesso que tive algum receio, pois praticamente não se via ninguém nas ruas, circulando algumas motas e carros a altas velocidades. As ruas eram escuras e cheias de sujidade (contrariamente às estâncias de luxo) e os homens que passavam metiam-se com as mulheres… Este foi um outro lado da Tunísia, que confesso não me agradou, talvez mais levada pelo medo do que pela realidade em si. Assim que cheguei ao hotel respirei fundo e senti-me aliviada… que linda embrulhada aquele guia nos poderia ter envolvido se tivéssemos que regressar pelo nosso pé, sozinhas, àquela hora da noite.

segunda-feira, 14 de julho de 2008

O Circuito ao Sul –II

Tal como adivinhara no dia anterior, o amanhecer foi duro. Não é todos os dias que me levanto às 5 e meia da manhã, tomo o pequeno-almoço às 6h e saio para passear às 7h, mas a verdade é que valeu bem a pena.
À entrada do hotel de Tozeur, já nos aguardavam os jipes 4x4, onde iríamos fazer o percurso durante a manhã.


O primeiro local de paragem foi o fabuloso oásis de Montanha Chebika, próximo da fronteira com a Argélia. Instalado em pleno terreno árido e rochoso, este oásis é repleto de vegetação de palmeiras, nascentes e cascatas. Às oito horas da manhã, aquele cenário era profundamente religioso, a luz de um amarelo ténue batia nos rochedos, enchendo-me de energia por dentro. Não fora o facto de estar entre um “rebanho” de espanhóis, apetecia-me ter ficado um pouco mais para absorver a atmosfera daquele lugar ora inóspito e estrondoso, ora salpicado por palmeiras verdejantes, onde a água das nascentes possuía um tom verde turqueza, reflectindo as cores da montanha. A aldeia aqui existente encontra-se hoje em ruínas.
Conforme caminhávamos, iam surgindo crianças de todos os lados, pedindo-nos para lhes comprar colares, feitos provavelmente por elas mesmas face à sua fragilidade, ou para lhes oferecermos chicletes, pulseiras, etc... Naquele momento, não pude esconder a tristeza, por não trazer comigo coisas vulgares e tão simples, como pastilhas elásticas, rebuçados, canetas, qualquer coisa que lhes pudesse iluminar aqueles rostos tão marcados pelo isolamento geográfico e pela carência. Apesar da insistência, não lhes pude dar nada do que me pediam, e para não ter de correr o risco de comprar a um, ter de comprar a todos, acabei por fazer um esforço e não comprar nada.
Subimos ao alto de uma das montanhas por caminhos um pouco irregulares, e pudemos contemplar lá no topo, a imensidão do extenso vale que nos rodeava, um amplo mar de terra solitária que se perdia no horizonte, com um ou outro oásis a cortar a monotonia da paisagem dourada. Este é um daqueles lugares que nos faz sentir pequenos e questionar o sentido que damos à vida… Tudo ali é tão diferente da nossa vida quotidiana, dos nossos stresses, das filas de trânsito, das correrias para o trabalho, ali inspira-se serenidade e paz, embora também solidão.


Saí dali com o espírito alimentado e com o corpo em ebulição por saber já o que me esperava um pouco depois. Percorremos alguns quilómetros até sairmos da estrada de alcatrão e não tardou a que o jipe guinasse a condução para a estrada batida, de areia. Era ali que começava a aventura do dia, a grande e emocionante aventura.
À medida que avançávamos para a extensa planície desértica, os balanços e solavancos do carro aumentavam, com terreno irregular e por vezes pedregoso. Ao longe avistávamos camelos selvagens que se passeavam lentamente por aquelas terras de ninguém. A velocidade do jipe ia aumentando, os motoristas faziam perseguições aos outros carros do circuito, fazendo ultrapassagens como se de uma corrida se tratasse. A dada altura, a paisagem começou a mudar. A planície deu lugar a altas dunas encorpadas, aproximando-nos do local onde foi rodado o filme «Paciente Inglês». O ambiente dentro do jipe estava eufórico e as gargalhadas iam subindo de tom, conforme começávamos a descer as dunas, saltando do lugar a todo o momento, em risadas que se misturavam com o pânico e o medo. À páginas tantas, o guia que seguia connosco no jipe, pediu-nos que olhássemos para o lado para vermos um animal, e quando me apercebi dessa sagaz manobra de diversão, já nós estávamos no ar, tendo acabado de fazer uma espécie de looping numa duna. Foi o princípio daquilo que seria uma sucessão de loucas descidas a pique, havendo dunas com mais de 20 ou 30 metros. A adrenalina estava no máximo.
No meio daquele deserto, onde não se via e ouvia ninguém (com excepção dos nossos amigos espanhóis), ainda pudemos sair para tirar umas fotografias. Quando dei por mim, estava já uma mota a aproximar-se com vendedores de colares. Parecia quase uma anedota, como no meio do nada eles aparecem.
O ar estava quente e o ar quase irrespirável, mas ainda deu para sentir aquela areia fina entre os dedos e para descobrir o cenário do primeiro filme da saga da «Guerra das Estrelas», agora em completo abandono. Não há dúvida que Georges Lucas teve olho para a coisa, pois aquela paisagem é tão despojada de vida humana, que se aproxima a uma visão de um planeta abandonado, algures na galáxia. De repente quase nos sentimos transportados para dentro da acção do filme de ficção científica, só nos faltava mesmo a caracterização.

De regresso ao hotel de Tozeur, onde voltaríamos para almoçar, pudemos contemplar em Nefta o oásis de Corbeille.
A tarde foi dedicada ao percurso para Douz. Eu estava verdadeiramente cansada nesse dia, adormecendo a cada momento que fechava os olhos no autocarro. No caminho, pudemos admirar o imenso lago salgado, nesta altura do ano seco, de Chott el Jerid. Neste lago originam-se as famosas rosas do deserto, uma formação dos cristais de sal, em forma de flor, normalmente com tonalidade acastanhada. Ao longo da rectilínea e infinita estrada que atravessava o Chot el Jerid acumula-se uma crosta de cristais de sal, que apesar de parecer branca, tem tons de verde, laranja e rosa devido aos diferentes constituintes do sal.


A chegada a Douz ocorreu cedo e deu para aliviar o cansaço na fabulosa piscina do hotel, pois o calor apertava e havia que estar fresca à noite para o desejado jantar berbere.
Trajada a rigor, com um vestido vermelho árabe e turbante azul, fornecidos no hotel, aproveitei para desfrutar bem do jantar, sentindo bem cá dentro o som dos instrumentos da percussão e da flauta, dos interessantes tocadores que nos receberam alegremente no recinto ao ar livre em que decorreu a animação do jantar.
Tenho consciência, que assistimos a mais um produto pré-fabricado para turista ver e sei que aquele folclore foi mais o nosso do que o deles. Apesar disso, foi a simpatia e a forma carinhosa com que nos receberam que me sensibilizou e que fez com que aquela noite também tenha sido especial para mim. Havia algo mágico no ar, na música que tocavam, nas suas danças. Naquela noite, recordei com saudade os meus tempos de estudante de antropologia, em que delirava com outras culturas… naquela noite, eu fixei o meu olhar naquele ritmo contagiante, na sua gastronomia, nos seus olhos misteriosos e nos seus sorrisos.





Ali em Douz, mesmo às portas do Sahara, naquela noite berbere, senti por instantes a vontade de deixar tudo para trás e ficar por lá a descobrir o seu viver, para além do folclore comercial destes produtos turísticos.
Quando cheguei ao hotel, tive consciência que este deveria ter sido o melhor dia da viagem e na verdade não me enganei. Um dia cheio de emoções, de alma alimentada… Só ali percebi melhor porque gostava tanto de uma música da Mafalda Veiga, com uma estrofe lindíssima, que não me saiu da cabeça o dia inteiro: «…fica tão fácil entregar a alma a quem nos traga um sopro do deserto»!

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Tunísia. O Circuito ao Sul –I

No terceiro dia rumamos ao Sul. O dia foi longo e cansativo, tendo começado perto das 7h da manhã, altura em que o autocarro nos recolheu no hotel.
Curiosamente, não havia mais portugueses a fazer o circuito para além de mim e da minha irmã, tendo sido integradas num grupo de espanhóis, o que nos levou a ouvir e a “arranhar” mais espanhol do que francês durante esse périplo de quatro dias. Porém, ao contrário do que pensáramos no início, o facto de sermos portuguesas criou uma cisão no grupo, devido à barreira linguística, que nunca pensara poder existir entre países tão próximos, como é Portugal e Espanha. Na verdade, pode não ter nada a ver com a língua propriamente dita, mas com a atitude das pessoas, porque na verdade nós até nos esforçávamos para manter um mínimo de interacção com eles, mesmo quando não entendíamos tudo o que diziam, eles é que não mantinham a conversação connosco ou por não nos entenderem ou simplesmente porque tinham os seus grupos formados. O mesmo se aplicou ao guia, tunisino, que não fez um grande esforço para nos integrar mais no grupo.
Ainda assim, não posso dizer que o ambiente foi mau, apenas um pouco mais apático e fragmentado do que costumo encontrar nestas situações.
A primeira paragem do circuito foi em Kairuan, a cidade sagrada do Islão na Tunísia. Aí pudemos ver os Bassins dos Aglabitas – depósitos de água construídos no ano de 852, na entrada da cidade.
Em seguida fomos à Mesquita do Barbeiro, com o nome de Abu Zam’a al Balawi. Consta que este amigo do profeta chegou com os primeiros árabes à região, tendo vindo a morrer no campo de batalha, em 654.
Os seus restos mortais encontram-se no Mausoléu da Mesquita. Para entrar neste espaço sagrado, as mulheres e os homens com vestes mais frescas e descobertas, têm de cobrir-se em sinal de respeito, existindo vestes próprias para os mais desprevenidos que queiram visitar o local.


O principal ponto de interesse de Kairuan é porém a Grande Mesquita. Esta é o mais antigo lugar sagrado do Islão no continente africano, e apesar de só ser possível aceder ao pátio central e espreitar para o interior da sala de oração, vale a pena ir até lá. Esta grande mesquita, cujo exterior faz lembrar uma fortaleza militar, foi construída pelo fundador da cidade em 671, embora a sua forma actual seja do ano de 836.
Em termos arquitectónicos, tal como a Mesquita do Barbeiro, possui azulejos notáveis e colunas com uma enorme simetria no ordenamento.
Apesar de já apertar o calor, ainda tivemos oportunidade de ir até ao souk (mercado) de Kairuan. De novo, as ruas apertadas, os vendedores perguntando-nos a nossa nacionalidade, os objectos expostos em tendas de forma desordenada. Tudo ali se vende, desde especiarias, a miniaturas de camelos, cachimbos de água, bijutaria, antiguidades, entre as mais variadas coisas. Em cada esquina, o quotidiano das gentes de Kairuan espreitava, nas barbearias, nos cafés e esplanadas repletos de homens. Ali não há pressas, vive-se com um tempo lento e saboreado dos pequenos nadas, contrastando com a nossa sociedade onde somos vítimas da falta de tempo e das pressões do stress.
Depois de almoço, a viagem que prometia ser longa, tornou-se fatigante, convidando à sesta e à leitura, sentindo-se uma lassidão do corpo quase anestesiante. Cada vez que saíamos do autocarro, o choque térmico que sentíamos era enorme, dado que a temperatura rondaria os 39Cº, sentindo-se um bafo abrasador na rua.
A paragem seguinte foi em Gafsa, mas durante uns poucos minutos. Confesso, que não apreciei o local, possivelmente porque ficamos num local sem grandes motivos de interesse. Por instantes, pensei estar num local recôndito da Índia ou do Iraque… Um outro local da Tunísia, onde parece que o tempo parou! Os automóveis eram antigos, as casas em muito más condições, as ruas sujas e as lojas com objectos muito antigos, como radiotelefonias. Mas acredito, que este seja um olhar redutor sobre um aspecto parcial da realidade de Gafsa, pelo que não pretendo tecer grandes considerações. Porém, é importante que se diga, conhecer a Tunísia, para tem mesmo interesse em conhecer o país e sair dos hotéis é também encontrar este tipo de desigualdades sociais. As próprias casas na maior parte dos locais visitados, estão por concluir, uma vez que o imposto delas é muito caro. Muitas vezes, são os filhos que as concluem. Não é pois de espantar, que a paisagem urbana seja marcada por cenários de betão armado, com casas muito pouco atraentes.
A última paragem do primeiro dia de circuito foi em Tozeur, onde aliás passamos a noite. Aí pudemos visitar o museu Dar Cherait. Este museu ilustra o modo de vida da Tunísia, as suas tradições, os seus trajes, reconstituindo alguns dos rituais preparatórios do casamento e cenas nupciais. É um museu interessante, contudo o facto de não possuir ar condicionado torna a sua visita um pouco mais rápida, ainda que a mesma ocorra às 6 e tal da tarde. Em Tozeur o calor era extremamente seco e denso pegando-se à pele, com uma outra veste, com uma lentidão que nos invade a alma e o corpo.
Uma das desvantagens dos circuitos organizados é termos de obedecer a programas e por isso acabamos por não ter tempo para explorar Tozeur para além do museu e do hotel. Apesar de tudo, o dia terminou da melhor maneira, com um delicioso banho na piscina do hotel e umas valentes braçadas para descongestionar as pernas.
No dia seguinte esperava-nos novas e empolgantes aventuras e havia que madrugar! O despertar estava marcado para as 5h30 da manhã!

quarta-feira, 9 de julho de 2008

um pouco de música...

Maktub II-El Clon - Música Árabe

Tunísia -Dia 2

O dia foi dedicado ao descanso. Depois de alguns meses intensos, sabe bem tirar proveito da praia e da piscina.
Começamos o dia muito cedo, o sol era já forte quando acordei às 8h da manhã. Por isso, nada melhor do que cedo erguer para melhor tirar proveito do dia. Começamos por ir até à praia logo cedo, pois durante a manhã ainda tínhamos que resolver pormenores com o operador turístico para o circuito ao sul que começava no dia seguinte. A meio da manhã um banho de piscina e sempre muito protector solar para não haver surpresas desagradáveis ou alergias ao sol inesperadas.
O almoço foi excelente, tendo aproveitado para comer legumes, saladas, tomate grelhado com basílico, frango, borrego, etc. adorei ter descoberto pães com variados sabores, de azeitona, malagueta, entre outros. Como nunca comi fora dos hotéis e restaurantes seleccionados, acabei por não perceber, se este tipo de especialidade é só do hotel ou se é de facto uma tradição tunisina.
À tarde, houve tempo para pôr a leitura em dia, que por acaso quis que fosse «O Doente Inglês», de Miachael Ondaatje , por ter dado origem a um dos meus filmes preferidos, com rodagem na Tunísia precisamente. E houve tempo também para a bendita sesta… Eu sabia que o descanso iria acabar a partir dali e tinha que carregar baterias para o resto da viagem.
Ao fim do dia, fomos conhecer um pouco melhor a estância turística em que nos encontrávamos, de Yasmine Hammamet e fomos até à Medina. Esta é uma Medina artificial, construída para turista ver, no entanto com a mesma lógica dos mercados antigos, com várias lojas. Nesta Medina pudemos ver um filme sobre a história da Tunísia, visitar o Museu das Mil e uma Noites e beber um chá de menta no café do mesmo. Foi possível ainda visitar um museu dedicado às religiões, e saborear um apetitoso batido de morango, numa esplanada com música ao vivo.
Porém, o mais importante nessa tarde, foi para mim o meu baptismo na arte de regatear, como lhe chamara a minha irmã. Essa foi uma prova de fogo, num código cultural distinto do meu. Estou habituada a comprar segundo uma lógica definida, pois ali é o rumo da conversa que dita o resultado do negócio, é a mestria do diálogo e do raciocínio. É preciso estarmos muito seguros de nós para fazermos uma boa compra, sabermos até onde queremos ir e podemos ceder e isso nem sempre é fácil, como pude constatar nas primeiras vezes que fiz compras. Os comerciantes, por sua vez, não nos largam um segundo. Tentam a sua sorte desesperadamente, tentando adivinhar a nossa proveniência, sugerindo quase sempre sermos espanholas ou portuguesas. Os galanteios para com as mulheres estrangeiras foram constantes, porém sempre respeitadores e nunca demasiado vulgares. Percebi que além do negócio, o tunisino gosta mesmo é de conversar, não se importando de despender algum tempo como o outro, de trocar impressões sobre o que pensa e o que o rodeia.

A noite foi reservada a um jantar no restaurante Sherazade, com espectáculo incluído de música e dança do ventre. As mulheres de corpos ondulantes, com movimentos síncronos e encantatórios, contagiaram todos os presentes com a sua energia e sensualidade. O show terminou animado, com elas a dançar em cima das mesas.
Apesar de divertido, estava ansiosa por partir para o Sul!

domingo, 6 de julho de 2008

Tunísia...primeiras impressões

Às 7h da manhã já estavamos no aeroporto. O vôo foi sereno e decorreu sem grandes sobressaltos. Ao chegar a Tunis, a temperatura era quente, mas suportável, rondando os 34Cº, o que para nós portugueses não era nada de extraordionário.
À nossa espera tínhamos um representante do operador turístico que nos transportou até Yasmine Hammamet, onde ficava o nosso hotel. A carrinha onde fizemos esse percurso de cerca de uma hora, era pequena, com ar condicionado «natural», já que o ar condicionado mal funcionava. Achei piada ao pouco espírito de aventura de alguns dos portugueses que seguiam na carrinha, bufando e dizendo que aquele turismo começava a ser «irreal», com ar de enfado e de um certo pedantismo, como se em Portugal fosse tudo 5 estrelas.
Nessa pequena viagem de quase uma hora, olhava para a janela e verificava que a paisagem lá fora não me parecia ser assim tão diferente da nossa e da de Espanha, recordando-me um pouco o Alentejo e a Andaluzia.
Depois de termos ido para um hotel lotado e de nos termos finalmente instalado no hotel Belisaire, da cadeia Iberostar, houve tempo para explorar um pouco o complexo e de ir até à praia, a qual me desiludiu um pouco, porque esperava água límpida, quente e transparente e o que encontrei foi um mar ligeiramente crispado, com um areal repleto de algas e de uma densa matéria vegetal. Deu contudo para descansar da viagem e carregar baterias.

O hotel com todas as mordomias, era uma autêntica «terra de abundância», um perfeito paraíso artificial, onde a Tunísia era algo etéreo e pouco perceptível, um verdadeiro ghetto de turistas de várias nacionalidades. Ali a qualidade de vida era fantástica, sobretudo por ser um hotel de quatro estrelas, com um regime de tudo incluído, com magníficas piscinas, buffets espectaculares a toda a hora. Apesar de me sentir encantada e maravilhada com tudo aquilo, e de poder disfrutar de tudo isso para descansar, por outro lado, ansiava pelo dia da partida do circuito ao sul e pela primeira saída do hotel para poder ver e conhecer a verdadeira Tunísia, o povo e a cultura. Dei graças, por esta viagem não se resumir apenas a todo este conforto luxuoso, pois não era disso que afinal eu vinha à procura!

quinta-feira, 3 de julho de 2008

A Consistência dos Sonhos


Até 27 de Julho ainda é possível visitar a exposição «A consistência dos sonhos», sobre a vida e obra de José Saramago, na Galeria de Pintura do Rei D. Luís, no Palácio da Ajuda. Trata-se de um projecto da Fundação César Manrique, sedeada em Lanzarote, resultando do trabalho de investigação desenvolvido durante mais de dois anos pelo Comissário Fernando Gómez Aguilera. É uma exposição deliciosa, com arranjos muito bem concebidos, onde vemos que há um rigor e profissionalismo muito grande da parte da organização. Assim até não custa tanto saber que estão ali milhares de euros empregues...ao contrário de outras, em que o objectivo não chega a ser concretizado.

Se for, vá sem pressas, deixe-se levar por cada sala, por cada corredor e absorva um pouco da vida, como o próprio reconhece, milagrosa deste autor. De origens humildes, nascido na Azinhaga, no Ribatejo, José Saramago é a prova que não existe aquilo que se chama determinismo social e cultural, que quem nasce com poucas posses tem de ser analfabeto, pouco inteligente, mendigo ou deliquente. Apesar de não ter tido uma vida fácil na infância, conhecendo várias moradas em poucos anos, vivendo em partes de casa com outras famílias, em Lisboa, este foi um excelente aluno, tendo vindo a mostrar sempre interesse pelo conhecimento, pelas letras, pelos livros. Mais tarde, foi na Biblioteca das Galveias que procurou outras leituras e se formou enquanto leitor. Força de vontade e obstinação foram sempre o seu lema, mas a sua vida nem sempre foi fácil, tendo sido numa idade tardia que se consagrou como escritor, com obras como «Levantado do Chão», «Memorial do Convento», entre muitas outras.

Apesar de nunca ter sido o meu autor de eleição e de apenas ter lido um dos seus últimos romances «Pequenas Memórias» (sobre a sua infância), este homem desperta-me cada vez maior curiosidade, pelo que logo que possa, gostaria de conhecer melhor a sua obra e de descobri-lo melhor. Acredito que não gostarei de tudo o que escreve, ou se calhar não entenderei todas as suas metáforas, mas não há dúvidas, que merece toda a minha estima e apreço. Porque este é um país que só gosta de recolher louros, há que relembrar que este escritor galardoado com um prémio nobel, foi o mesmo que em 1993, não foi apoiado pelo governo de Cavaco Silva à candidatura ao prémio europeu da literatura, a quando da escrita do «Envangelho segundo Jesus Cristo», tendo-o levado a "exilar-se" em Lanzarote, desiludido com os governantes portugueses.

Nem que seja por curiosidade, podem crer que vale a pena ir até ao Palácio da Ajuda!!

Aspectos da Exposição

Estrutura expositiva:

Organiza-se de acordo com três grandes núcleos: A semente, O Fumo das Palavras, Passos na Penumbra, Ofício de Escritor, A voz da escrita, A condição (in)humana, são os temas do primeiro núcleo, que conta com numerosa documentação inédita referente às origens do escritor, contextualizada no Portugal do seu tempo, e segue uma linha cronológica que se estende desde 1922 até à actualidade.

Segue-se um segundo núcleo temático, A consciência do Mundo, a atribuição do Nobel, Música e Palavras, com uma selecção de peças em vários suportes, fotografias, manuscritos de adaptações teatrais e operáticas, partituras, cartazes, gravações sonoras e gravações televisivas, entre outros documentos.

No terceiro núcleo apresenta-se um conjunto documental, que inclui correspondência do autor e recensões críticas, contextualizado no universo dos livros e da literatura.
O percurso expositivo inicia-se com uma projecção de um vídeo de Charles Sandison, artista contemporâneo escocês que concebeu quatro obras especificamente para esta exposição, e conclui-se com o texto autobiográfico que Saramago escreveu para a cerimónia do Prémio Nobel na Academia Sueca.

Estão em exibição também obras plásticas que integram a colecção de José Saramago, da autoria de Antoni Tápies, Armanda Passos, Bartolomeu dos Santos, David de Almeida, Ilda Reis, José Santa-Bárbara, Júlio Pomar, Rogério Ribeiro, Sebastião Salgado e Sofia Gandarias.
No espaço dedicado à repercussão e acolhimento mundial da sua obra, estão disponibilizadas 280 traduções das obras de Saramago, em mais de 30 línguas, com recurso constante a suportes digitais e audiovisuais.
Existe ainda uma instalação com a recriação do escritório de trabalho de Saramago, com a sua mesa, a sua cadeira, a sua máquina de escrever, que utilizou desde os anos sessenta até 1989, bem como alguns objectos pessoais.

A itinerância da exposição, prevista para Madrid e várias capitais da América Latina, começa por Portugal, competindo a sua organização conjunta a três Institutos do Ministério da Cultura: Instituto dos Museus e Conservação (IMC), Biblioteca Nacional de Portugal (BNP) e Direcção-Geral do Livro e das Bibliotecas (DGLB).

quarta-feira, 2 de julho de 2008

1 ano de Anthropos!!!

É com um grato prazer que hoje aqui assinalo o primeiro aniversário do blogue Anthropos. Continua a ser um projecto no qual me revejo, considerando-o um espaço de reflexão e de partilha com quem me lê. Espero que aqui continuem a ser escritas muitas impressões sobre o mundo que me rodeia, olhares etnográficos, literários, emocionais, poéticos, entre variados aspectos. Vocês que estão aí desse lado e são óptimos leitores, continuem a fazer comentários para eu saber que aí estão!! Façam deste lugar também um vosso!

Alpha: a história de uma amizade que sobrevive há milénios

Alpha é um filme que conta uma história que se terá passado na Europa, há cerca de 20.000 anos, no Paleolítico Superior, durante a Era do...