segunda-feira, 7 de novembro de 2011

«Aparições: A Fotografia de Gérard Castello-Lopes 1956-2006»

No ano do desaparecimento deste grande vulto da fotografia, Gerard Castello-Lopes, podemos visitar uma exposição antológica da obra do autor, intulada «Aparições: A Fotografia de Gérard Castello-Lopes 1956-2006»,no espaço BES, no Marquês Pombal, onde se apresentam cerca de 153 trabalhos do fotógrafo, assim como alguns objetos pessoais, câmaras, livros, discos, óculos, etc.

Organizada por Jorge Calado, curador da exposição, esta mostra fotográfica revela um olhar diferente em relação à obra de Castello-Lopes, habitualmente dividida em dois períodos, um nos anos 50-60, do séc. XX, e outro a partir dos anos 80 até 2006, conjugando uma apresentação não-cronológica. Neste sentido, é interessante verificar que certos enfoques do fotógrafo permanecem semelhantes ao longo do tempo, interessando-o sobretudo as geometrias dos espaços, as linhas direitas, mas também as paisagens e as pessoas, integradas num todo. Talvez por não gostar de fotografar diretamente os seus retratados, mas antes as suas silhuetas, sombras, projeções ou gestos, as pessoas nas suas fotografias não são muitas vezes se não uma parte da paisagem.



Ao percorrermos os corredores da exposição e ao olharmos detalhadamente para as fotografias, parece sempre haver algo que nos intriga, seja um olhar, corpos que se inclinam para fora do alcance da imagem, uma pose, uma paisagem, fazendo-nos pensar em múltiplas histórias, nas suas personagens, nos diálogos que ficaram por dizer. E contudo, são fotografias que captam os momentos no tempo, eternizando-o. As ações parecem suspensas e cristalizadas, como se tudo o resto se resumisse àquele momento, àquela vivência…
Nesta exposição, podemos então encontrar as primeiras fotos datadas de 1956 até 2006, incluindo uma mistura de espécimes, desde as fotografias mais conhecidas até às provas vintage, a maioria delas inéditas, às imagens mais modernas, aos pequenos e médios formatos.
Outra preocupação do fotógrafo bem patente nesta exposição é o conceito de escala, sendo a célebre foto da pedra, tirada junto ao cabo da Roca, que parece suspensa no ar, um bom exemplo disso, exibindo-se provas de várias dimensões dos 4 cm aos 2 m.




A exposição é contemplada com um pequeno filme de contextualização, com a participação de Jorge Calado e o testemunho da mulher e do filho do fotógrafo. Trata-se de uma importante oportunidade para conhecer, ver ou rever as magníficas fotos deste que foi seguramente um dos maiores fotógrafos portugueses dos últimos anos. A entrada na exposição é livre e tem horário de segunda a sexta-feira das 9h às 21h.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Em Santiago de Compostela

A visita a Santiago de Compostela acabou por acontecer. Até o tempo mudara, parecia de propósito, tornando-se mais escuro e frio, coincidindo com uma experiência mais espiritual. Perto das 8h00 da manhã, apanhei em Vigo o comboio direto para Santiago de Compostela. O comboio de média distância da RENFE é bastante confortável, semelhante aos nossos alfas, o que tornou a viagem muito cómoda e rápida.
Chegada a Compostela, não foi difícil encontrar o caminho para o centro, em direção à catedral. Ali, basta seguir alguém com ar de turista, pois todos têm o mesmo destino.
Não levava planos pré-concebidos. A única coisa que sabia que queria fazer era estar ao meio dia na catedral na missa do peregrino e gostava de visitar o Museo do Pobo Galego, o resto ficaria encarregue do destino e do improviso.
Após algumas voltas pelas ruas do núcleo histórico de Santiago de Compostela, encontrei a Catedral. Foi uma experiência muito interessante, até porque, curiosamente não entrei pela porta principal, mas sim por uma lateral, tendo constatado a magnitude da sua fachada, apenas quando saí e dei a volta ao quarteirão. Costuma-se dizer que o melhor se deixa para o fim e assim foi, pois só depois de estar dentro dela a pude admirar por fora.
No seu interior, muitos eram os peregrinos que tinham feito longas caminhadas até Santiago. Traziam no corpo as marcas do sacrifício, o cansaço acumulado dos dias passados, os odores intensos desses caminhos de fé.
Aquele momento foi para mim, um momento de silêncio…absoluto e completo. Só me apetecia permanecer naquele mutismo inebriante. Não me apetecia falar, nem ouvir nada, nem quase a voz do pensamento, que me ia segredando como estava contente de ali estar. E contudo, sabia que o meu contentamento não se podia comparar aos que palmilharam montes e vales, padeceram de dores, de desafios que conseguiram transpor para ali chegar. Eu limitara-me a apanhar um comboio confortável, quase luxuoso! Não tinha feito nenhum sacrifício que me fizesse apreciar tanto aquele momento de júbilo da chegada, de encontro e partilha com outros caminheiros.
O momento mais emocionante na cerimónia da missa do peregrino foi quando o incensório foi balançado, o “botafumeiro”,perfumando a catedral de uma fragrância abençoada.
Quando a cerimónia acabou, a fome era mais forte do que eu, desmotivando-me a ver com maior pormenor e detalhe a mesma, ou mesmo ver de perto a imagem de Santiago, como é tradicional.
O tempo cá fora, estava fresco e escurecido e naquela altura comecei a sentir-me cansada. Deambulei um pouco pelas ruelas visitando as inúmeras lojas de souvenirs, mas como não tinha preparado bem a minha incursão a Santiago, não sabia muito bem o que ver.
A meio da tarde fui ao Museo do Pobo Galego. Trata-se do principal museu etnográfico da Galiza, situado no antigo convento de San Domingos de Bonaval.
No ar havia um forte odor a objetos etnográficos, que só reconhece quem está habituado a trabalhar com eles, a conhecer-lhes os contornos e as histórias que têm para contar. Aqui encontrei um museu com uma leitura diferente, na disposição e interpretação dos objetos, do verificado no Museu do Liste em Vigo, existindo uma maior contextualização dos mesmos e até boas condições de conservação preventiva. Aqui pude visitar as salas dedicadas ao mundo do mar, ao campo, aos ofícios tradicionais, ao traje, à música, à sociedade, memória e tradição e à arquitetura popular. Como o tempo não era muito deixei de fora a ala dedicada à pintura. Entre os vários andares percorridos, pude subir pela fantástica escada barroca espiral, de autoria de Domingo de Andrade. Houve tempo ainda para visitar a igreja gótica, a qual corresponde à parte mais antiga do conjunto arquitetónico de Bonaval, tendo sido modificada ao longo dos séculos com numerosas obras e acrescentos.
No fim do dia regressei a Vigo. Introspetiva, mastigava mentalmente tudo o que vira e sentira nesse dia. A jornada acabou com uma tapa de tortilha e um copo de vinho tinto Imperial (Mencia), como um brinde à minha última noite em Vigo.
De regresso a Portugal e ao Porto, onde me reuniria a amigos que viriam ao meu encontro, meditava no comboio em tudo o que tinha visto naqueles breves dias…passou tudo tão rápido, mas foi decididamente muito bom!

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Passeando por Vigo

O 4º dia de jornada começou enevoado, cheguei a pensar que chovesse. Aquele dia seria dedicado aos museus e tudo aquilo que teria ficado por ver em Vigo, além de um pouco de praia se o tempo abrisse. Estava ainda indecisa se devia ir a Santiago de Compostela ou se o facto de não ir nessa altura, seria o pretexto perfeito para poder regressar…
A manhã foi praticamente passada com a planta da cidade na mão e a percorrer as ruas da cidade. O objetivo era chegar ao Museu Etnográfico de Liste, sabia que ficava um pouco distante do centro, não sabia quais os transportes que o serviam, e tinha muito tempo para gastar, por isso deixei-me levar pelas ruas, avenidas e praças da cidade, seguindo sempre a direção do museu. Iniciei o percurso através da Porta do Sol, perto da qual subi uma escadaria que me levou para ruelas, onde o caminho se fazia sempre a subir. Passei pela Câmara Municipal, de aspeto bastante sinistro e desinteressante, um edifício de betão, estilo Calouste Gulbenkian, onde assisti a uma manifestação de funcionários despedidos. Durante aqueles breves instantes, foi como se a realidade tivesse invadido a ficção da minha viagem, e constasse que afinal a malfazeja crise também ali andava a rondar.

Passei pelo Castro, do lado de fora, mas às 9h00 da manhã, não me apeteceu subir a extensa escadaria, até porque se via poucas pessoas a vir de lá. Optei por fazer um caminho alternativo, o qual me levou à Praça de Espanha, onde pude fotografar a escultura dos cavalos. Seguindo as indicações da planta, cheguei ao museu antes das 11h00, hora de abertura, pelo que ainda tive de esperar um pouco para abrirem as portas ao público.
Este museu é dedicado ao património etnográfico da Galiza, localizando-se numa vivenda unifamiliar, remodelada nos meados do séc.XX, apresentando quatro andares e 9 salas de exposição. Estão presentes aspetos ligados aos ofícios artesanais galegos, à agricultura, como a cultura do centeio, à tecelagem, às atividades económicas, aos objetos de madeira escavada, à iluminação, à fé e arte curatória da medicina popular, entre outros. Trata-se de uma belíssima coleção, muito semelhante à do Museu Nacional de Etnologia português ou outros museus etnográficos do norte do nosso país. Afinal as diferenças entre os portugueses e os galegos não são assim tantas, possuindo um contexto etnográfico idêntico.
Contudo, fiquei estupefacta com a falta de cuidado revelada na conservação preventiva do museu. Os objetos à luz solar, localizados próximos de janelas não protegidas e pior… todas abertas, deixando entrar as poeiras, os agentes de deterioração, como insetos xilófagos. Qualquer conservador especializado teria um ataque a ver aquilo. Apesar de haver quem defenda que o património etnográfico não necessita de tais cuidados, pois foram objetos feitos em série, de uso corrente e sujeitos ao desgaste do tempo, eu acredito que a partir do momento que entra no museu é para preservar e fazê-lo durar o mais que se puder, por isso há que haver cuidados na manutenção e na conservação preventiva.
Fora isso, a técnica que me fez a visita personalizada, explicou-me tudo perfeitamente com muita atenção. Encantou-me a mitologia popular dos «trasnos», pequenos duendes que fazem partidas. Um dos que estava representado na exposição, dava sumiço a tudo, outro tinha que estar entretido a contar para não fazer disparates e havia ainda outro, o dos pesadelos, que tinha dentes verdes.
Finalizada a visita, segui até rotunda das Travessas, onde apanhei um autocarro para a praia de Samil. Aí, dei novamente, descanso ao corpo, e quando já estava cansada de tanto descanso, atravessei a estrada e fui conhecer o museu que ainda me faltava riscar da lista: «Verbum – a Casa das Palavras». Trata-se de um museu muito engraçado e interativo, fantástico para famílias, a comunicação humana dá o mote a todas as áreas expositivas. Este espaço de entretenimento permite apreciar e conhecer melhor a comunicação humana, através de
jogos e experiências sensoriais, de linguagens, de palavras, letras, sons, etc.
Na sala principal encontram-se 29 cubos, que contêm no seu interior 81 módulos, os quais podem ser explorados pelos visitantes.
No fim do dia estava decidido, iria reservar mais uma noite no hotel para poder ir no dia seguinte a Santiago de Compostela. Podia não ter feito o verdadeiro caminho até lá, mas havia sempre o comboio, e não podia deixar escapar aquela oportunidade, ali tão perto!

sábado, 8 de outubro de 2011

Descobri o paraíso…

Não fiz muitos planos para esta viagem a Vigo. Limitei-me a tirar ideias do site de turismo de Vigo, a ver alguns guias sobre a Galiza, porque de Vigo não encontrei nada. Mas, entre a lista que levava, de locais possíveis a visitar, houve um que me parecia fundamental, caso as condições meteorológicas permitissem, as Ihas Ciés.
Depois de no dia anterior me ter informado sobre os horários dos barcos e o preço dos mesmos, resolvi-me mesmo a ir…
O Arquipélago das ilhas Ciés, de 433 hectares, é constituído por três ilhas, começando no sul com a ilhota de Boeiro e a ilha de San Martiño, e continua com as ilhas Monte Faro e Monteagudo, ambas unidas pela barra arenosa da praia de Rodas. Este arquipélago, que integra o Parque Nacional Marítimo Terrestre das Ilhas Atlânticas da Galiza, é banhado pela ria de Vigo de um lado, e pelo oceano Atlântico, do outro lado. No lado da ria localizam-se 9 praias, com as águas calmas e amenas, enquanto do outro lado, mais selvagem e inóspito é fustigado pelas bravas águas do Atlântico.
Ao sair pela manhã no barco, sentindo o ar fresco a bater-me na cara, pude ver Vigo com mais distância, a largueza da ria, a ponte que atravessa as duas margens e foi com satisfação que pude vislumbrar também golfinhos, que pareciam acompanhar o rasto deixado pelo barco, mergulhando consecutivamente, tornando-se o centro das atenções dos turistas a bordo.
Ao atracar no arquipélago de Ciés, tive a sensação que aquele momento seria único. Praticamente deserta, as águas de um cristalino azul turqueza intenso, a areia branca e fina, contrastando com o verde do arvoredo e melhor…quase deserta, apesar das pessoas que chegavam no barco tal como eu…pelo menos ali não teria problemas em estender a toalha sem tocar no pé do vizinho…
Caminhei, caminhei, mas por mais que andasse continuava a ter a praia praticamente só para mim, as pessoas estavam bastante espalhadas…nem queria acreditar! Parecia quase o Robinson Crusoé a chegar à ilha deserta e a explorá-la.

Naquele instante pensei: «Privilégio divino o de vir a Ciés! Sinto-me no céu neste pedaço de terra». Nunca pensei que estas ilhas fossem o paraíso…afinal nem era preciso ir a uma ilha exótica do Pacífico para ter aquela sensação idílica. Gargalhadas, êxtase dos sentidos…«Ciés me encanta!».


Enquanto me deliciava nas águas mansas, e me sentia transformar em peixe, deixava o espírito serenar…por mais que o tempo passasse acho que nunca me cansaria de estar ali na Praia de Rodas e de contemplar tudo aquilo…gostaria que aquele momento se tivesse prolongado no tempo, contudo, acho que vou cristalizá-lo para sempre na minha memória. Sempre que tiver dias tristes ou que corram menos bem…vou tentar lembrar-me que a Terra tem lugares destes!


Rematei o dia com uma visita à Casa das Artes, onde estava patente uma exposição do pintor Luis Torras do Concello, onde pude admirar os seus trabalhos a pastel. Não tive a oportunidade, como desejava de visitar o Arquivo Fotográfico Pacheco, do mesmo fotógrafo já visto no Museu do Mar de Galicia, localizado no mesmo edifício, por motivos de manutenção, o que muito lamentei, pois gostaria de conhecer melhor a obra deste fotógrafo, e a forma como o arquivo se encontrava organizado.
Ao jantar decidi provar a célebre «pulpo a feira», acompanhado de pimentos padron e uma cerveja…soberbo pitéu!

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

2º dia

No segundo dia, começou realmente a viagem. Depois de uma breve passagem pelo Porto, meti-me no comboio, em Campanhã, para Vigo. A paisagem, à medida que avançávamos, tornava-se mais verde, sinónimo que estava a atravessar terras minhotas.
Finalmente cheguei a Vigo! Depois de tanto tempo a preparar a viagem, a impressão que a cidade causa não tem nada a ver com o que andei a pesquisar na internet. Parecia muito mais familiar e atraente, do que tinha pensado.
Assim que cheguei à estação, procurei perceber onde ficaria o Hotel Princesa, onde iria pernoitar três noites, tendo feito previamente a reserva pela internet. Só foi preciso perguntar uma vez na estação em que local me encontrava da cidade, e depois de identificado no pequeno mapa que trazia, tirado do Google maps, só foi preciso seguir o instinto até encontrar a morada do hotel.
O quarto era mínimo, provavelmente mais pequeno do que o de muitas empregadas domésticas internas, mas para o tempo que passei nele, serviu perfeitamente, mesmo com uma casa de banho bastante exígua…
A cidade portuária, com colinas muito acentuadas, faz-me sentir muito pequena.
 
Deslumbrada com o porto e com os magníficos cruzeiros que nele acostam, tomo a minha primeira refeição na cidade, no terraço de um centro comercial de Laxe, com uma soberba vista sobre o porto e a ria.

Iniciei a minha descoberta de Vigo pelo «casco velho», considerado o núcleo urbano antigo, encontrando nas suas ruelas apertadas e tortuosas, edifícios muito antigos e pequenas praças, onde não faltavam animados bares, cafés com esplanadas servindo tapas e bebidas frescas. Percorri a Praça da Constituición, visitei a pequena catedral Colegiata de Santa María, a rua dos cestos, a interessante Porta do Sol, onde pude admirar a escultura de Francisco Leiro, «El Sireno» (o homem sereia).



Aí ao redor, estendem-se elegantes avenidas com diferente arquitetura, de estilo elegante,do final do séc. XIX, início do séc. XX.

Cansada de andar de um lado para o outro e de modo a rentabilizar o ótimo tempo que se fazia sentir, apanhei o autocarro no Passeo Alfonso XII e rumei às praias de Samil, onde apreciei a paisagem envolvente, as águas calmas, o banho no mar, o descanso.


No passeio a pé, no regresso, visitei o Museo do Mar da Galicia, onde vi a exposição temporária «A Costa Galega no Arquivo Pacheco: cartas de punto maior», com imagens do fotógrafo Pacheco, de renome na região, além de outras exposições, incluindo a permanente. Este museu dedicado ao mar e às pescas foi construído sob os vestígios de um antigo matadouro de Vigo.

Durante a visita, assentei este poema, por me parecer belíssimo:

«Memoria,
Emissária do mar,
Que nos mantém un cheiro de recordo:
Algo de nós
Pureza de altos dias
Mentras camiño pola vasta área
E penso no amor
Que sempre se comeza
Nunha praia.»
Xoahana Torres, 1980.

De volta ao centro de Vigo, jantei junto a um jardim, perto da ria. E tive um anoitecer encantador. Depois de jantar, fui caminhar no passeio marítimo e no porto desportivo, onde se viam os últimos raios de sol doirados a tingir o céu, tornando-se gradualmente mais escuros com o final do crepúsculo. Naqueles instantes, pensei em como era afortunada por ter vindo conhecer Vigo e ter vivido aquele instante.
Cidades portuárias, são cidades que fascinam, que contam histórias dos que partiram e dos que chegaram, cruzamento de vidas que faz delas cidades ricas em memórias.

Relatos de uma viagem tranquila

Nas últimas férias o meu destino foi o Porto e a cidade de Vigo, com uma pequena incursão por Santiago de Compostela. Uma viagem que se foi construindo e revelando, serena como os últimos dias de verão podem ser, num Setembro retemperador de forças e de grandes passeios. A viagem faz-se caminhando, descobrindo o que há à nossa volta, faz-se de odores, de paisagens, da vivência
dos lugares, do diálogo, do silêncio, dos sonos que captamos, esta viagem foi assim também uma auto-descoberta. Deixo aqui ficar alguns dos pensamentos desses dias, pinceladas que lentamente deixei impressas no caderno de campo que levava comigo. «Aqui sentada no cais de Gaia, contemplo a outra margem do rio Douro. Os barcos turísticos circulam em ritmo veloz, forçando acorrente agitada. Do outro lado, estende-se o casario envelhecido, amontoado, como uma montra da cidade. As ruas elevam-se em direção à baixa, espreitam as igrejas, os edifícios majestosos de um maculado cinzento granitado. Lá ao alto, ergue-se a solene Torre dos Clérigos, imponente, parecendo vigiar lá do alto toda a cidade.
Ouvem-se as gaivotas com sons trinados e intensos, evocações que recordo dos tempos que aqui vivi e eram elas e imprimir a sonoridade na paisagem cinzenta e pontuada por uma luz mortiça.

Depois de ter parado na Casa do Infante para ver a exposição «Marcas do vinho no Porto», de ter ido às Caves Ferreira, em gaia, onde fiz a visita e a prova de vinhos do Porto, e de descansar um pouco junto ao rio, era tempo de reiniciar o périplo e perder-me nas ruas agitadas da baixa do Porto.


segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Principezinho na Regaleira




"O Principezinho", texto de autoria de Saint-Exupéry, encontra-se a ser representado na Quinta da Regaleira. Uma ocasião excelente para levar as crianças a tomar contato com esta magnífica obra, a qual tem merecido, ao longo de quase sete décadas, a atenção de leitores de todo o mundo.

Trata-se de uma bela história que faz pensar os adultos, afinal...os adultos nunca percebem nada...e as crianças acabam por desistir de lhes explicar... pois, "só se vê bem com os olhos do coração; o essencial é invisível aos olhos" e não há nada que se compare a cativar um amigo. No fundo, todos nós temos um principezinho dentro de nós, à procura de respostas para os nossos pequenos mundos. A não perder!


Sessões diurnas 14 MAI · 9 OUT 2011 Qui, Sex, Sáb, Dom e feriados * 17h00
Sessões nocturnas 15 AGO · 5 SET 2011 Segundas-feiras 21h00

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* Quintas-feiras apenas entre 4 Ago e 8 Set (inclusivé). Em Mai e Out o espectáculo realiza-se apenas ao fim de semana. Disponível para escolas e grupos organizados todos os dias, sob-consulta (geral@byfurcacao.pt).

terça-feira, 26 de julho de 2011

“Máquinas, objectos e memórias da ruralidade” - Abertura do Museu da Ruralidade

“Máquinas, objectos e memórias da ruralidade” é o nome da exposição que assinalará o início das actividades no Museu da Ruralidade, situado na Praça Zeca Afonso, em Entradas.

Com a abertura ao público destaexposição, a Câmara Municipal de Castro Verde pretende valorizar a natureza deste espaço museológico associando-o, desde logo, aos festejos tradicionais anuais da vila de Entradas, dando-se o natural realce que as manifestações desta natureza têm para a construção da memória colectiva da comunidade, objecto de particular importância para o Museu da Ruralidade.

Procurando que o espaço de exposição albergue uma mescla entre o mostrar e o explicar do funcionamento dos objectos, máquinas ou outros equipamentos de natureza rural, o Museu terá sempre como prioridade salvaguardar, registar e estudar todas as manifestações do imaterial e da oralidade que se realizam no concelho e em alguns locais específicos do Alentejo.

Abertura da Exposição
29 JUL Museu da Ruralidade 18h

Horário do Museu durante as Noites em Santiago 2011
30 e 31 JUL 10h às 22h


http://www.cm-castroverde.pt/cm_castroverde/agenda/detalhe.asp?id=1729

domingo, 24 de julho de 2011

Cante ao Baldão : Uma prática de desafio no Alentejo – um estudo de Maria José Barriga

Este estudo de Maria José Barriga, datado de finais da década de 90, e editado pela Colibri, em 2003, foi realizado no âmbito do sua dissertação de mestrado em Etnomusicologia, e tem como tema central a prática performativa do cante ao baldão.
Confesso que este livro já andava na estante há uma série de anos, mas tal como acontece com dezena deles, ainda não havia tido oportunidade de o ler, e foi com agradável gosto que o li e que descobri as peculiaridades deste cante do Alentejo.
Trata-se de um cante ao desafio que tem expressão nos concelhos de Odemira, Ourique e Castro Verde, sendo cantado por serrenhos (serra) e campaniços (da planície).
Até aos anos 40/50 do séc. XX, o cante ao baldão conheceu um grande florescimento nestes concelhos, diminuindo de atividade entre 1960 e 1980, devido a factores relacionados com a alterações no contexto sócio-económico desta região, denominadamente o abandono da agricultura e a emigração das suas gentes.
Este foi um cante marginalizado pela política cultural do Estado Novo, que viu no cante alentejano a vozes, um mote para a folclorização da região, criando estereótipos e imagens identitárias que camuflavam todos os outros modos de cantar. Neste sentido, como o afirma Maria José Barriga, «o cante alentejano passou a ser o emblema da identidade alentejana no contexto musical» da província do Alentejo, colocando à margem outras práticas musicais como o cante ao baldão « o cante a despique, o cante das gralhas, décimas silvadas, o cante do ladrão do Sado, das modas campaniças, dos balhos acompanhados à harmónica, ao harmónio, ao banjo ou à viola campaniça, as rezas à chuva, a encomendação das almas, ou práticas instrumentais como a do solo da viola campaniça, do banjo ou do tambolrileiro». (palavras de Maria José Barriga)
Após o 25 deAbril, apesar de existir uma profunda revitalização das tradições e da cultura popular, o cante ao baldão mantém-se sem ser referido, sendo a sua existência já quase inexistente na região. Foi sobretudo em meados dos anos 80, através da influência da rádio local Castrense que se começa a revitalizar o cante ao baldão.
Mais tarde surgem os Encontros de Cante ao Baldão, fomentados pela figura de Colaço Guerreiro, a Cooperativa Cortiçol e a Câmara Municipal de Castro Verde, que apresentam os melhores cantadores da região que ainda dominavam a prática performativa, a qual era até aí reservada às “vendas” e a certas celebrações familiares, embora muitas vezes os cantadores o fizessem num quarto interior da casa, pois não era bem aceite na localidade.
Para quem nunca ouviu falar no cante ao baldão, este consiste num cante de desafio, maioritariamente masculino, embora o presente estudo tenha revelado a presença de algumas mulheres a fazê-lo, acompanhado pelo som da viola campaniça. A sua componente verbal tem der ser sempre improvisada, enquanto que a melodia é regular e baseia-se num modelo. O texto tem de ter um “afundamento” que costuma basear-se em temas recorrentes, como a distinção dos modos de vida da serra e o campo, e os serrenhos e campaniços, e o passado e o presente.
Na época que a etnomusicóloga efetou esta investigação os principais focos de cante ao baldão localizavam-se na feira de Castro Verde, na romaria da Senhora da Cola, no Castro da Cola, no concelho de Ourique, entre outros encontros organizados institucionalmente. Com a progressiva folclorização e emblematização desta prática, o cante ao baldão tem vindo a alterar algumas das suas regras e contextos, deixando cada vez mais de ser espontâneo, mas embora mantenha o seu improviso, é mais encenado e apresentado em cima de um palco, circunstâncias naturais das tentativas de preservação cultural, pois por mais que queiramos manter a tradição original, para a manter no presente, temos necessariamente de ajustar ao presente e logo aí alteramo-la.
Se alguém conhece bem este cante e como está a ser vivido no momento presente, deixe aqui ficar o seu comentário, pois tenho curiosidade em perceber as mudanças deste este estudo de Maria José Barriga, quais as circunstâncias em que se continua a praticar, se tem tido mais adeptos, se estagnou, se evoluiu, até porque muitos destes cantadores apresentavam uma idade já avançada… em que locais é cantado, Todos os contributos são bem-vindos.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Largo da aldeia

Esta imagem de Gérard Castello Lopes, inspirou-me para escrever este pequeno texto:


«Todos os dias cumpríamos o mesmo ritual. Íamos ao Largo da aldeia procurar trabalho. Naquele tempo, os campos estavam esgotados, não davam nada, e nós com tanta força para trabalhar…
Os que eram chamados para o Monte dos Castro, não tardavam em buscar os seus haveres e partiam aliviados. Os outros, os que ficavam, juntavam-se na beirada do muro, junto ao largo. Cabisbaixos, de olhar vago e perdido, matavam o tempo à força de não ter nada para fazer. Fitavam a planície, o horizonte perdido e a promessa de um futuro adiado. Enfiavam as mãos pesadas, dolentes em algibeiras cheias de nada e seguiam o seu rumo. »

Estação


Na estação solitária, o tempo passa devagar. Não chegam, nem partem comboios para parte nenhuma. Sentada num banco de madeira, espero as horas passar. Repouso o meu olhar nesses trilhos tão percorridos, nesse caminho de chão perdido, desgastado pela força dos carris. Nada respira, nada se move, apenas o calor da tarde permanece e no pensamento, confusas memórias de lugares que não conheci. Ali, naquele lugar deserto, sinto a minha alma levedar de desejo de partir.
Foto Ana Machado


Foto de Tiago Canhoto

Partilho convosco as belas palavras do escritor alentejano José Luís Peixoto, para mais uma vez recordar a paisagem alentejana e a força das vozes pujantes que lá se ouvem… Cada vez me convenço mais que o Alentejo, não é só uma região, é um estado de alma, um sentimento que se cola ao peito e nos acompanha sempre… Como diz a moda, «hei-de ir ao Alentejo, nem que seja no verão»…
«Quem nasceu no Alentejo tem o Alentejo dentro de si para sempre. Por isso, o Alentejo é infinito. As planícies parecem não ter fim porque não têm fim de facto. Dentro da gente, existem campos com sobreiros e azinheiras, existem rostos enxovalhados pelo sol, pele que tem as rugas da terra. Dentro da gente, existem searas.
O cante é a voz dessa terra infinita. Os homens descem pelas ruas quando voltam do campo ao fim da tarde. Nos olhares, trazem o pó queimado pelo sol. Nessa hora, pouco antes do pôr do sol, nasce uma aragem nos rostos dos homens. Essa aragem fresca passa pelas pedras das ruas, pela cal das casas onde houve vida e morte, pelos sorrisos, pelas crianças que brincam na rua. O cante é essa aragem».
José Luís Peixoto, in: «O círculo que Leva a Lua»

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Masai- Quénia

Nas sociedades possuidoras de gado, o homem quer ter o maior número possível de filhos varões para que trabalhem quando ele já for velho, pois os filhos pertencem à linhagem do pai.
Entre os masais, que vivem entre o Quénia e a Tanzânia , ao contrair matrimónio, a mulher abandona o lar paterno e muda-se para o domicílio do marido, que, por sua vez, teve de pagar ao pai da noiva o preço de duas vacas e outras duas cabeças de gado menor. Os masais não têm limite de esposas, ainda que na prática este esteja determinado pelo número de vacas que o homem possui, que devem proporcionar às suas mulheres todo o leite de que elas necessitem para si e para os seus filhos.

terça-feira, 31 de maio de 2011

Os Sherpas do Nepal


O seu matrimónio é monógamo mas podem encontrar-se casos de dois tipos de poligamia: poliginia e poliandria. Se a mulher tiver dois maridos isso pode considerar-se como uma conquista feminina, mas no caso dos Sherpas não se trata de um caso de independência mas sim de um interesse social: praticava-se a poliandria – pelo menos até 1983, data em que foi abolida- para evitar a fragmentação da terra e manter intacta a propriedade do clã familiar.
Outra das características que diferencia a sociedade sherpa é a naturalidade com que aceitam a sexualidade pré-matrimonial. Os jovens sherpas mantêm relações sexuais durante a celebração das festividades, que podem ser muitas ao longo do ano. O natural é que as jovens recebam em sua casa, com o consentimento dos pais, a visita nocturna de algum acompanhante. Também é frequente que as adolescentes tenham relações com vários pretendentes. Esta espontaneidade para desfrutar o sexo contribui para que o facto de se ter uma filha solteira não seja uma vergonha ou uma desonra entre os sherpas, é algo que não afecta as perspectivas de um futuro casamento. Contudo, esta liberdade cessa quando se contrai matrimónio definitivamente. Os sherpas solucionam quase todas as zangas com dinheiro. Quando uma viúva não deseja casar-se com o irmão do seu marido e quer ficar independente da sua família política paga o changri-thou-wu, que significa “reintegração do prelo da cerveja consumida na cerimónia da petição da mão”. Também é com dinheiro que se solucionam os adultérios. O esposo infiel paga uma multa. O divórcio é pacífico e obtém-se por um curioso ritual: o marido agarra a ponta de uma corda, enquanto a família da noiva segura na outra ponta. A ruptura da corda simboliza o fim do matrimónio. Se o marido não esteve de acordo com o divórcio, o aspirante a segundo marido da sua mulher paga uma compensação e o casamento dissolve-se assim.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Rituais de Boda

INDIA



Na Índia, por exemplo, o pai da noiva deve oferecer ao noivo e seus familiares grandes quantidades de dinheiro, jóias, televisores e outros objectos de valor. É o dote , destinado a cobrir os custos para manter a futura esposa e que pode conduzir um pai à ruína, se este tiver várias filhas para casar. Este facto está a provocar graves problemas sociais. Um deles é o aborto selectivo de fêmeas, já que muitas grávidas de meninas preferem abortar até terem um rapaz, para não se verem repelidas pelos seus maridos.

Shiava Raja Kumwar, presidente da Câmara do povoado de Sangla e pai de seis filhas, comentou com toda a naturalidade que aos homens de religião hindu lhes ficava muito caro ter filhas porque o costume e a tradição obrigam o pai a pagar o dote: “ Se não o fizer os vizinhos diriam que não tenho dinheiro para as manter. Estou disposto a pagar o dote a qualquer preço, mas compreendo que os homens em geral não queiram ter raparigas para não diminuírem o património familiar, enquanto que os filhos, quando se casam, atraem dinheiro a casa.”

As mulheres indianas aceitam sem nenhuma rebeldia os casamentos combinados de antemão. A própria filha de Shiava Raja Kumwar confirma este costume: “ As mulheres seguem a tradição e aceitam os matrimónios arranjados pelos pais, pois se escolherem o seu caminho individual a família e a sociedade não as vê com bons olhos. Além disso, se uma mulher se casar por amor e se tiver problemas com o marido, os pais não voltam a querê-la em casa nem se responsabilizam por as manter. Um drama maior é o facto de que na Índia muitas mulheres estão a ser assassinadas por problemas relacionados com o dote. Segundo as estatísticas, uma mulher morre diariamente em Deli convertida em archote humano pelo próprio esposo. Como o pagamento do dote pode ser combinado a prazo, quando a família da noiva não pode cumprir o estipulado, o marido começa a maltratá-la até que finalmente o querosene da cozinha “provoca” um acidente caseiro simulado. O viúvo pode então voltar a casar e aspirar a novo dote...

terça-feira, 24 de maio de 2011

Debate sobre o Cante Alentejano

Realizou-se na Escola Superior de Educação de Beja, no dia 24 de Maio, um encontro cujo intuito foi o de debater o Cante Alentejano. Este debate contou com a organização de José Orta, um antropólogo e um apaixonado pelo cante, que tem promovido estudos relacionados com esta prática performativa.
Entre os oradores, encontrava-se o Padre Manuel Cartageno, que tem estudado o cante alentejano numa perspectiva musical; Jorge Moniz que desenvolveu uma tese de mestrado no campo da etnomusicologia, com o grupo coral «Ceifeiros de Cuba»; Luís Clemente, outro jovem musicólogo que se tem interessado pelo cante; Joaquim Soares, da Associação MODA, defensor acérrimo do cante tradicional; Jorge Raposo, director da ESE de Beja e também da área musical; Paulo Lima, antropólogo que se dedicou ao estudo da cultura popular alentejana, com destaque para as décimas, poesia popular, e também um estudioso do cante, tendo estado envolvido na defesa de uma candidatura do cante alentejano a património mundial da humanidade. E por fim, Ana Machado, autora deste texto, que estudou o cante Alentejano no Feijó, no âmbito da sua dissertação de mestrado em Antropologia.
Tratou-se de um momento deveras interessante, por ter reunido especialistas com experiências tão díspares e complementares, tendo permitido um diálogo centrado sobretudo nas questões das origens do cante e na sua estrutura musical.
Por ter sido pouco tempo, e porque muito mais haveria a dizer, sinto que faltou sobretudo espaço para a partilha de saberes relacionados com os estudos de caso que cada um dos intervenientes desenvolveu, contribuindo para um maior leque de perspectivas e um enriquecimento do tema, pois um antropólogo não vê com clareza aspectos musicais que podem ser interessantes para a sua compreensão, do mesmo modo que um musicólogo pode não apreender outros aspectos sociais e antropológicos que escapam ao seu olhar.
O debate finalizou com diferentes perspectivas sobre a identidade do cante alentejano, havendo quem defendesse, como o Sr. Joaquim Soares, um cante tradicional e sério em cima de um palco, e quem defendesse a necessidade da coexistência de um cante performativo e de um cante espontâneo, pois este último é igualmente importante para a construção dessa mesma identidade alentejana, sobretudo nos contextos migrantes, como é o caso da Margem Sul do Tejo, sendo através desse que os homens se aproximam e se expressam cantando, mais próximo do cante que se ouvia cantar nos campos alentejanos no passado.
Por terem ficado muitas questões em suspenso e por muito mais haver para discutir, espera-se que o encontro se volte a realizar em breve, desta vez com temas menos abrangentes. O debate contou com a presença ainda do Sr. Governador Civil de Beja e espera-se que o mesmo venha a ser publicado, com o patrocínio do Governo Civil de Beja.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Debate sobre o cante alentejano em Beja

Os temas a debater são os seguintes:


1. Introdução ao tema

2. Origens e influências do Cante

3. Estrutura musical do Cante

4. Evolução do Cante no Século XX

5. Cante e identidade

6. Balanço e perspectivas

domingo, 20 de março de 2011

Azul Longe nas Colinas – uma peça de teatro no D. Maria II



Nesta peça com texto de Dennis Potter e encenação de Beatriz Batarda, a infância é retratada numa Inglaterra em tempo de guerra, nos anos 40. Infância esta que é tudo menos doce…doseada com muita violência à mistura, onde não há a habitual inocência que a caracteriza. Dotada de um sentido de humor acutilante, a peça mostra-nos um grupo de amigos constituído por Willi, Peter, John, Raymond, Donald, Angela e Andrey, que transportam para as suas brincadeiras a violência que vêem nos adultos, reproduzindo os seus padrões de conduta. Em determinadas alturas da peça, esta violência é cada vez mais psicológica, mais intensa atingindo o seu clímax no final.
Representam personagens tipo, onde não falta o fanfarrão, o valente, o gago tímido, a sonhadora, a intriguista, a criança problemática com a falta do pai…Durante o tempo que vemos a peça, somos obrigados a transpor-nos para a criança que já fomos, pois só assim podemos entender a sua linguagem, uma vez que os adultos que vemos em cena são eles as crianças da peça.
Surpreendente a representação de Bruno Nogueira, habitual presença em programas humorísticos, que aqui sabe dar corpo a uma criança que não sabe lidar com a ausência do pai e com a sua possível captura pelos soldados japoneses, na guerra -aliás, como a de todos os restantes actores, pois regressar ao universo das crianças e representá-lo exemplarmente como o fizeram não é fácil…a tal ponto, que eles se transfiguram e são mesmo crianças aos nossos olhos.
A última representação foi hoje!
Com as participações de: Albano Jerónimo, Bruno Nogueira, Dinarte Branco, Elsa Oliveira, Leonor Salgueiro, Luísa Cruz, Nuno Nunes

Alpha: a história de uma amizade que sobrevive há milénios

Alpha é um filme que conta uma história que se terá passado na Europa, há cerca de 20.000 anos, no Paleolítico Superior, durante a Era do...