segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Em tempos de crise… vende-se poesia!

Num destes dias enquanto me passeava pelo Chiado, fui abordada na rua por uma mulher. Trazia na mão uma pasta, pelo que pensei que me fosse pedir para responder a um inquérito ou até quem sabe vender qualquer coisa. Teria passado em frente, se não fosse o modo como ela me interpelou «-Gosta de poesia?». Achei aquela abordagem diferente da habitual e apesar de já esperar que poderia trazer algo no bico, decidi dar àquela desconhecida um pouco da minha atenção. Quando lhe respondi que sim, que gostava de poesia, ela perguntou-me se eu queria de ler um poema dela. Eu fiquei um pouco perplexa, disse-lhe que sim, mas cheguei a pensar se ela seria boa da cabeça. Ninguém se aproxima de alguém na rua para pedir que leiam os seus poemas. Eu, um pouco acabrunhada, li o poema. Quando acabei ela disse-me com um ar um pouco encolhido, que a crise a fazia vender os seus poemas, precisava de dinheiro… Se fosse só para ler, não era nada, mas se fosse para levar seria 2 €. Perguntou-me depois o que eu achara do poema. Naqueles momentos, nem tinha conseguido assimilar bem ainda as letras que acabara de ler, mas o poema chamado «Inquietude», soava todo ele a crise e a desespero, tal como a face da sua autora, um pouco angustiada.
Apeteceu-me ajudá-la só pela sinceridade dela, não me pareceu que me enganasse, precisava de sobreviver e vendia o que sabia fazer, escrever. Mas, quando olhei a carteira, não tinha dinheiro suficiente. Ela ao ver que eu não tinha dinheiro, quis oferecer-me o poema na mesma, dizendo-me que o levasse mesmo assim. Encontrei algumas moedas na carteira e dei-lhe como agradecimento. Assinou-me o poema com uma letra irreconhecível e eu segui o meu caminho. Mas ia tocada por aquele momento, pensando que em tempos de crise, já se vende tudo, até a poesia! Dá que pensar…sobretudo na história de vida que estaria por trás daquela mulher.
Deixo aqui o poema, esperando que a autora não ache um abuso da minha parte, dando a conhecer as suas palavras. Pena tenho que o seu nome não seja reconhecível. Desejo-lhe dias mais felizes e inspirações mais coloridas.


Inquietude

É no fundo do mar
Que nasce a minha inquietude
Flutua subtilmente como uma medusa
E acompanham-me a angústia
E a insónia
Levando-me aos desespero
A preto e branco…
Negativo da bipolaridade
Focado até ao absurdo.
É à noite que acontecem as explosões
Seguidas de silêncio, antecedidas de saliva
Suor, secreções…
Seja lá como for haverá um final feliz algures…
Fuga manhã loucura.
Inevitavelmente regresso ao útero da palavra.

(autora com assinatura irreconhecível, que deambulava pela Rua Garrett, no dia 8-10-2008).

1 comentário:

a aldraba disse...

Acabou de receber o prémio Dardos.

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1. - Exibir a distinta imagem;

2. - Linkar o blog pelo qual recebeu o prémio;

3. - Escolher quinze (15) outros blogs a que entregar o Prémio Dardos.

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