Mostrar mensagens com a etiqueta Poemas. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Poemas. Mostrar todas as mensagens

terça-feira, 28 de agosto de 2018

Nas paredes...

 

NAS PAREDES

O homem deixou
sua mão na parede
das cavernas
para que tentássemos
decifrar seu coração,
ainda não sabia
que outras mãos
um dia descobririam
mundos,
inventariam máquinas,
abririam as paredes
do céu.
Que nossas mãos
sobre as suas,
nesse interminável,
nesse alfabeto
de genealogias,
não se cansem
de fabricar amor.

Roseana Murray
Poemas para metrônomo e vento, Ed. Penalux

Eu não disse que a poesia dela é linda? Fiquei rendida!

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

22 anos depois



Um poema da minha amiga e poetisa Rosa Dias, para assinalar este dia fatídico, um dos mais tristes da minha vida, em que vi o Chiado arder e quase perder a casa, e tudo o que tinha, pois vivia nessa altura em pleno coração da baixa da cidade. Que esse dia nunca mais se repita!



Lisboa fez-me chorar
Mil novecentos e oitenta e oito
A vinte cinco de Agosto
Perdemos todos um pouco
Sofreu Lisboa um desgosto
A parte mais importante
De encanto e comercial
Foi destruida p'lo fogo
Que fez chorar Portugal
Ai essa rua do Carmo
Jamais voltará a ter
O encanto natural
Que o fogo lhe fez perder
Rua Garrett quem diria
Que um dia te via assim
Eu vi o Camões chorar
Podes crer que foi por ti
Ao cimo da rua Garrett
Ouvi um soluçar rouco
Era a Brasileira chorando
Por viver num mundo louco
Rua nova do Almada
Braço esquerdo do Chiado
Ouvi a velhinha calçada
Chorar baixinho o seu fado
O Bairro Alto pressentiu
O que se estava a passar
Pegou na guitarra e fugiu
P'rá Mouraria a chorar
Mouraria pôs o xaile
E como louca correndo
Foi direitinha ao Castelo
Sem crer no que estava vendo
E eu olhei e vi o Marquês
Tristonho e angustiado
Por lhe terem destruido
O Pombalino Chiado
D. José lá mais em baixo
Dizia nesse momento
Mais ruínas para Lisboa
Juntar às do seu Convento
Os pombinhos do Rossio
Com grande emoção sentida
Voaram rente ao Chiado
Num adeus de despedida
Até o nosso turista
Não resistiu e chorou
por ver a desolação
Em que Lisboa ficou
O Tejo tão revoltado
Por ver Lisboa chorar
Afogou o seu desgosto
Nas verdes ondas do mar
E até o Cristo Rei
Mudou sua penitência
Ergueu os braços aos céus
Pedindo a Deus clemência
Todos perdemos um pouco
Neste fogo abrasador
Não houve olhar português
Que não chorasse de dor
Destruiu postos de emprego
Destruiu tanta beleza
Feriu a sensibilidade
Desta gente portuguesa
Lisboa ficou de luto
Já a saudade domina
P'la perda irreparavel
Desta Baixa Pombalina.

Rosa Dias

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Poesia para lembrar o deserto da Tunísia

Este é um momento de pausa, uma espécie de stand by na minha actividade bloguista e no meu gosto pelas palavras e pela descoberta, que tenho procurado partilhar aqui sempre que posso. Não tarda passará esse período, mas neste momento não há quase espaço para mais nada...Em breve, espero voltar a carregar este blog com mais colorido e mais actualidades. Para já deixo ficar um poema do Luís Maçarico que me faz lembrar de um país maravilhoso: a Tunísia.

LONGE

Tudo me diz que estou longe
Mas não é verdade!
O deserto sempre foi o lugar
Da minha infância!
Por isso, na direcção dos oásis
Saboreio o silêncio.
Procuro uma romã que supere
As palavras em doçura
E claridade. Não estou longe!
Esta poeira é envolvente!


De tão cru, o sol apaga lembranças
E germina esquecimentos.
O meu destino, são os incontáveis
Grãos que semeiam o Nada.
Este horizonte infinito de ilusões
O céu de areia de certas tardes.


Estou longe, dizem-me alguns
Sinais. Mas é tão perto, a minha
Casa: Poema futuro, luminosa
Oliveira, manhã desejada!



Luís Filipe Maçarico

terça-feira, 20 de julho de 2010


Dever de Sonhar

Eu tenho uma espécie de dever,

dever de sonhar,

de sonhar sempre,

pois sendo mais do que um espetáculo de mim mesmo,

eu tenho que ter o melhor espetáculo que posso.

E, assim, me construo a ouro e sedas, em salas supostas,

invento palco, cenário para viver o meu sonho

entre luzes brandas e músicas invisíveis.


Fernando Pessoa

sexta-feira, 19 de março de 2010

A Primavera chega este fim de semana

Apesar do tempo ainda não estar perfeito, a Primavera chega este fim-de- semana, com ela esperemos que chegue também o desejo de renovação, de libertação, e aquele cheirinho a felicidade que tanto precisamos. Deixo-vos com as palavras do Torga carregadas de pureza e de campo...aromatizadas com esse doce aroma da Primavera.
Anunciação
Surdo murmúrio do rio,
a deslizar, pausado, na planura.
Mensageiro moroso
dum recado comprido,
di-lo sem pressa ao alarmado
ouvido dos salgueirais:
a neve derreteu nos píncaros da serra;
o gado berra dentro dos currais,
a lembrar aos zagaiso fim do cativeiro;
anda no ar um perfumado cheiro
a terra revolvida;
o vento emudeceu;
o sol desceu;
a primavera vai chegar, florida.

Miguel Torga

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Poema de Rosa Lobato Faria

Encontrei este poema no blog do Luís Maçarico e não resisiti a partilhá-lo aqui também! Fantástico!

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Cante

á dias no amontoado dos meus papéis descobri este poema, daquele que é para mim um dos meus poetas preferidos, Manuel Alegre.

Lembrei-me dos dias em que o meu universo se chamava “Alentejo” e “Feijó” e da importância que a Antropologia tinha então nos meus dias... belos tempos esses! Chama-se «O Cante», o poema:



O Cante

«O cante alentejano é outro som

É voz que se constrói como instrumento.

Mas não é cante sem- é cante com.

O cante Alentejano é mais de dentro.

Voz do avesso quase gesso quase cal

Unha no branco: esse é o ritmo.

O Cante Alentejano é em espiral

De logaritmo em logaritmo.»


Manuel Alegre

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Abril: 35 anos

Mais um aniversário sobre Abril, 35 anos, uma idade de peso, de maturidade, de serenidade, de alcance de novos horizontes. Contudo, tão longe do sonho, do país pensado e ambicionado. Aqui estamos nós, no meio de uma crise, em águas estagnadas e tão pouco idealistas. Vivemos, continuamos, persisitimos, mas sem aquele entusiamo e brilho no olhar de Abril de 74.
Onde está esse espírito agora? Aburguesamo-nos, colocamos gravatas e fatos chiques, temos títulos académicos e vivemos da aparência e do que é esperado ter... Abril, desvaneceu-se, esqueceu-se, os mais jovens nem se quer o conheceram... mas é importante relembrar a quimera, o sonho de uma dia feliz que mudou o país.
Deixo um poema de Abril de Manuel Alegre para evocar a memória desta data!





Abril de Abril


Era um Abril de amigo Abril de trigo

Abril de trevo e trégua e vinho e húmus

Abril de novos ritmos novos rumos.

Era um Abril comigo Abril contigo

ainda só ardor e sem ardil

Abril sem adjectivo Abril de Abril.

Era um Abril na praça Abril de massas

era um Abril na rua Abril a rodos

Abril de sol que nasce para todos.

Abril de vinho e sonho em nossas taças

era um Abril de clava Abril em acto

em mil novecentos e setenta e quatro.

Era um Abril viril Abril tão bravo

Abril de boca a abrir-se Abril palavra essa

Abril em que Abril se libertava.

Era um Abril de clava Abril de cravo

Abril de mão na mão e sem fantasmas

esse Abril em que Abril floriu nas armas.


Manuel Alegre

30 Anos de Poesia

Publicações Dom Quixote

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

A dor daquele dia triste


Para assinalar os 20 anos do incêndio do Chiado, deixo hoje aqui ficar um poema feito pela minha mãe em Setembro de 1988. Como muitos saberão, esta é uma data que me toca em particular. Parece mentira, que já tenham passado vinte anos, tinha eu na altura quinze anos e preparava-me para ir frequentar o 9º ano. Realmente a vida passa muito rápido...

Para ti Lisboa, com o meu Amor.
A noite já ia alta
E Lisboa preguiçosamente acordava devagar
Com seu ar de menina bonita,
em breve O Sol doirado viria beijá-la
E fazer rebrilhar as águas do seu Tejo.
Mas, como por feitiço,
O seu acordar lento e vagaroso, tornou-se um rebuliço,
E o luto do seu xaile ficara mais carregado.
E como num gemido, ela esqueceu seu fado,
E chorou… seu peito desventrado.
E um grito se ouviu!...
Como se um marinheiro depois de uma noite de farra
Esfaqueado tombasse no chão…
Há um grito de socorro, e há um outro mais além!...
Feriram seu coração…
Gritam lá do elevador: «Há Fogo no Chiado!»
E logo alguém lá em baixo corre a transmitir o recado.
E Lisboa acorda assim ainda um pouco estremunhada,
Com o toque das sirenes… - Há Fogo! Há Fogo!...
E como alastra e devasta, património bens e vidas.
E os Homens que tudo deram, esses soldados da Paz, Valentes, Fortes e Audazes.
Choro por ti ainda Lisboa querida,
Perdeu-se teu coração, salvaram a tua vida.
Ficaremos com a Esperança
Que o possam restituir, tal qual era Enamorada.
Esquece o medo e a ansiedade,
Mantém sim… acesa a saudade.
Traça o teu xaile e num gemido de guitarra bem trinado,
Vem Lisboa, Vem de novo Cantar teu fado!

Carminda Durão Machado

Alpha: a história de uma amizade que sobrevive há milénios

Alpha é um filme que conta uma história que se terá passado na Europa, há cerca de 20.000 anos, no Paleolítico Superior, durante a Era do...