«Sentam-se para jantar, e a vida como a conhecem termina».
No Teatro Nacional D. Maria II, no Rossio, está em cena mais uma peça que prima pela qualidade, pelo rigor e pelo profissionalismo, quer de Eunice Muñoz, actriz consagrada no panorama português, quer do encenador Diogo Infante, que tem estado a fazer um excelente trabalho na direcção artística do TNDM II, apresentando peças interessantes, revitalizando o público do teatro, incentivando a partilha de conhecimento e o acesso mais personalizado com os espectadores.
A história da peça e do romance com o mesmo nome é de uma brutalidade emocional que arrepia, sendo difícil de digerir. Na hora e um quarto que o espectáculo demora, são tantos os pensamentos que nos atravessam, tantos os apertos no peito, as lágrimas que quase nos saltam, ou escorrem mesmo...que não é fácil desligarmo-nos do que vimos e ouvimos quando saímos do teatro.
Eunice sentada numa poltrona no meio do palco, com um cenário por detrás completamente abstracto, que muitos poderão dizer que são as veias do coração, ou cerébros, ou árvores, prende-nos por completo com as palavras. Conta-nos uma história que começa no dia 30 de Dezembro de 2003. Joan Didion e o seu marido John entravam em casa depois de visitar a filha Quintana, a qual se encontrava internada com uma infecção generalizada. Joan e John sentavam-se para jantar e num ápice John morre de ataque cardíaco. A partir daí a história vai evoluindo dando conta dos futuros episódios clínicos da filha Quintana, de 25 anos, a qual vem a falecer em 2005. Durante aquele espaço de tempo Joan vive aquilo a que ela chamou de «pensamento do ano mágico», entrando num mundo só dela, por muitos considerado quase louco, continuando à espera que o marido regresse, evitando por isso dar os seus sapatos. Nas palavras de Joan, a ideia deste pensamento mágico terá sido retirada de manuais de Antropologia que leu, onde certas culturas acreditam no mesmo. Naquela altura da sua vida, o pensamento mágico foi a única percepção que agarrou Joan à vida.
E ali no teatro, naquela envolvência do palco, Eunice revive a vida desta escritora norte-americana. Dizendo-nos no fim que é preciso desistir dos nossos mortos, para que possamos viver, que é preciso deixá-los ir... Mas não é fácil!

No fim da peça, tivemos ainda um momento de debate com a actriz, com o encenador Diogo Infante, com o João Gil que fez a música que intercalava os vários momentos dramáticos, e com o Miguel Seabra, responsável pela iluminação.
O público respondeu activamente ao repto, fez várias perguntas e comentários, e no fim, acho que a equipa técnica saiu mais rica, porque auscultou as emoções dos espectadores e a forma como a peça os tocou.
O auge veio mesmo a seguir quando consegui um autografo, um beijo e um abraço apertado daquela que é actualmente a melhor actriz portuguesa de teatro. Obrigada Eunice por ser quem é!
1 comentário:
vi este teatro dia 27 de fevereiro.
Chorei.
Como deixar de o fazer?
Foi mesmo magnifico.
Toca-nos tanto...
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