Este post é ainda dedicado ao Encontro de Homenagem a Benjamim Enes Pereira, que se realizou nos últimos dias 17 e 18 de Abril de 2010 na Fundação Calouste Gulbenkian, tendo contado com a presença do homenageado.
Tratou-se de um grande encontro que reuniu um grande número de antropólogos, académicos e especializados em museologia, para falar sobre Antropologia, realçando-se a influência do olhar de Benjmaim Pereira e da sua investigação na compreensão do Portugal rural da segunda metade do século XX.
Sobretudo para os leitores que lêem este blogue no Brasil e não sabem quem foi Benjamim Pereira, devo dizer que fez parte de célebre equipa de antropólogos e etnógrafos composta por Jorge Dias, Ernesto Veiga de Oliveira e Fernando Galhano, que deram origem ao Centro de Estudos de Etnologia Portuguesa. Estes homens, ímpares no seu tempo, calcorrearam o país com um espírito, quase missionário, recolhendo objectos relacionados com a esfera rural do país, documentaram festas e festividades, rituais de sociabilidade, jornadas de trabalho no campo, cantos, cantares e instrumentos musicais, tecnologias tradicionais como a moagem, cadeias operatórias como a do linho e da seda, a arquitectura popular, recolheram dados relativos à gastronomia, ao traje, à economia agrícola e pastoril. Sem a sua recolha, não teríamos a oportunidade de conhecer tão bem a realidade portuguesa dos anos 50 e 60 e a sua cultura material. Do mesmo modo, não teria sido criado o Museu Nacional de Etnologia com as peças e objectos recolhidos pela equipa, não existiria o seu importante arquivo documental e fotográfico, não existiria uma extensa bibliografia dedicada à Etnografia Portuguesa, nem mais tarde, nos anos 80, a colecção da editora D. Quixote, intitulada «Portugal de Perto», (coordenada por um outro grande antropólogo português, de uma outra geração, actual director do museu, Joaquim Pais de Brito).
De uma forma ou outra, todos os que amamos a Antropologia em Portugal, somos devedores a pessoas com esta disponibilidade de entrega a cada projecto de investigação, a cada estudo de caso, a esta aventura de vida, (e que vida recheada de conversas e de trabalho de campo…), o sonho de quem vibra com a partilha do saber etnográfico …
Por todos estes motivos, obrigada Benjamim pelo seu contributo!
1 comentário:
Fui bolsista do Museu de Etnologia e meu orientador era o prof Jorge Dias. Convivi muito com com o Dr.Ernesto Veiga de Oliveira, Fernando Galhano e com Joaquim Enes, que à época, além de pesquisador era quem documentava com excelentes fotografias as pesquisas de campo.
Guardo profundas e agradáveis lembranças de todos, principalmente do prof. Ernesto, a quem coube a minha orientação com o falecimento do prof. Jorge Dias
Na minha volta ao Brasil, passei a me dedicar mais à museologia e com o tempo, perdi um pouco o contato com aqueles profissionais ímpares.
Lais Scuotto
Museóloga
Brasilia- DF lscuotto@uol.com.br
Enviar um comentário