A viagem começou a ser preparada com a antecedência de dois meses, planeada cirurgicamente. Marrocos era o destino pensado e desejado, mistura de exotismo e de excentricidade bem às portas de Portugal.
O grupo de viajantes que planeou a viagem, pensou em começar o seu itinerário por Tânger e daí descer por carro até Marraquexe, mas quis o destino e a falta de lugares no avião de 22 de Abril para Tânger, que o percurso tivesse sido o inverso, e ainda bem que assim o veio a ser.
A viagem foi feita na companhia aérea Ibéria, e foi dividida em três voos, Lisboa-Madrid, Madrid-Casablanca e Casablanca-Marraquexe. Apesar de não gostar nada de voar esta era a melhor opção em termos de horários e de preço, e afinal acabou por não custar assim tanto, não fora o facto de ter de me levantar às 4h da manhã.
A aventura começou no exacto momento que pisámos terras de Marraquexe. O primeiro embate começou precisamente quando precisámos arranjar táxi do aeroporto para o centro. Era preciso negociar com o taxista um preço considerado justo e após várias propostas, acabámos por seguir num táxi velho, carregado com as nossas malas e connosco os cinco, completamente espalmados. Logo aí, começámos a sentir o choque cultural e a diferença. Na estrada, aparentemente não havia regras, existiam várias faixas de rodagem em paralelo, em completa anarquia, «tudo ao molho e fé em Deus»… Foi uma sensação brutal, semelhante a jogos de computador, em que vale tudo… mas era aquela a realidade da cidade. Para não bastar, o táxi deixou-nos ficar muito longe do hotel. A ideia dele foi ir ter com um amigo que nos carregasse as malas num carrinho de mão até ao hotel, de modo a que esse pudesse também beneficiar do negócio. Nós, convencidos que o trajecto seria curto, achámos melhor ir a pé… Mas, logo percebemos que numa cidade, sem mapa, nem referências, estávamos nas mãos deles. Assim, percorremos uma distância brutal carregados com os sacos pesadíssimos sem perceber onde ficava o riad onde nos iríamos instalar. Quando chegámos à Praça DJemaa-El- Fna, carregados como íamos, tive a sensação que a multidão de motas e de carros que circulavam, rodavam sempre na minha direcção, num ritmo frenético que não parava. Pareciam obstáculos a ultrapassar. Quando já estávamos perto do hotel, mas com a ideia que estávamos completamente perdidos decidimos perguntar a alguém onde era o Riad Rahba. O rapaz com quem falámos guiou-nos por ruas estreitas e apertadas em voltas e reviravoltas, e finalmente deixou-nos no hotel, a troco de uma simpática gorjeta.
Pensámos que ele de facto nos tinha levado pelo caminho mais fácil, mas cedo percebemos que ele nos tinha levado pelo caminho mais difícil e labiríntico, para que ficássemos mesmo com a ideia de estarmos perdidos. Esta foi a segunda aprendizagem em Marraquexe.
Em seguida, almoçámos num restaurante da praça, no restaurante Chez Chegrouni. Escolhi coscous com frango, os preços eram acessíveis e a comida estava apetitosa. Sentados à mesa no terraço do restaurante, sentíamo-nos a retemperar as forças perdidas à chegada a Marraquexe. Foi tudo muito agradável até pedirmos a conta. O homem que nos atendeu deu-nos um recibo com o preço discriminado e total, mas ia passando pela mesa e vociferando de modo quase imperceptível, que o serviço não estava incluído, mas também não nos adiantou de quanto seria. Ficámos sem saber quanto é que teríamos de pagar a mais, e pagando a soma que indicava no recibo, saímos. Ao fundo do restaurante, o homem estava ofendido connosco e a injuriar-nos, com os outros empregados a olhar-nos de soslaio… Outro problema de comunicação…eles não disseram quanto era o serviço e nós não compreendemos o código cultural.
A tarde foi preenchida com passeios na praça, a ver a mesquita de Koutoubia e a apreciar o ritmo frenético da cidade. É impressionante a quantidade de homens que se vêem sem fazer nada durante o dia, deixando-se ficar nos cafés, ou nos bancos do jardim, entregues ao ócio.
De volta à praça, já se reunia aí muita gente a ouvir os tocadores e dançarinos, os encantadores de serpentes tocando flautas, e os homens passeando macacos que pousavam para as fotos dos turistas.
A Praça Djemma-El-Fna é surpreendente pelo seu movimento, pela energia que dela emana, pelos cheiros intensos que captamos, pela música que entoa constantemente, uma autêntica overdose para os sentidos…Para acabar a noite em beleza, jantámos na praça saborosos pratos marroquinos!
1 comentário:
Este texto transportou-me novamente ao fascínio que senti por Marraquexe: a sua cor, as palmeiras, a sensação de calor e aquela chuva que deixa manchas de terra, a taipa... A praça é um local absolutamente extraordinário com todo aquele movimento e cor, as pinturas, as cobras, o dentista,os vendedores...
Pois é, esse código deles, como é difícil para nós entrar nesse jogo que é discutir, regatear... ter tempo para o outro...
Mas é um mundo fascinante!
:)
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