quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Feira da Ladra : A história de uma feira sem idade

Vou dedicar os próximos posts à feira da Ladra, situada no Campo de Santa Clara, em Lisboa, por ter sido um dos meus terrenos antropológicos, onde fiz o meu trabalho de licenciatura em Antropologia, na Faculdade de Ciências Sociais Humanas, no ano lectivo de 1995/1996. Para que o trabalho não ganhe traças e teias de aranha, vou arejá-lo partilhando convosco algumas partes do mesmo. Espero que fiquem entusiasmados e que vão passear até lá! É um lugar sem idade!


Formação da Feira da Ladra e percurso histórico

A Feira da Ladra, tão típica e pitoresca da cidade de Lisboa, ao contrário do que se possa pensar num primeiro instante, não é um fenómeno contemporâneo, o seu percurso histórico é longo e sem dúvida notável, sendo decerto a mais antiga feira que, ainda hoje, se realiza com bastante vivacidade, no concelho de Lisboa.
A sua origem remonta à fundação da nacionalidade, aos primórdios da monarquia, tendo acompanhado o crescimento e a formação da cidade de Lisboa.
Pensa-se que tenha tido início entre 1185 e 1223. O seu nome não era ainda “Ladra” mas “Mercado Franco de Lisboa”. A sua primeira localização foi junto ao Castelo de S.Jorge, na muralha sul, no que então tinha o nome de Chão da Feira. Ester mercado fazia-se apenas num dia indicado da semana, à Terça feira.
Em 1430, a feira passou a efectuar-se no Rossio e aí permaneceu durante os séculos XVI e XVII e metade do século XVIII.
Em 1809, a feira é transferida do Rossio para a Praça da Alegria, pelo Edital de Novembro de 1809, em virtude do terramoto de 1755, já que o Rossio foi sujeito a obras de reconstrução, tendo ficado os locais indisponiveis com Os entulhos e os trabalhos de reedificação.
No entanto, com o crescimento da feira, os feirantes foram aumentando aos poucos as delimitações inicialmente tomadas, chegando por sua iniciativa até ao Palácio do Cadaval. Tal situação provocou no Marquês de castelo Melhor fervorosos protestos, apresentando constantes reclamações à Câmara.
A 2 de Fevereiro de 1823, a Câmara decide trnsferir a feira para o Campo de Sant’Ana, mas perante a oposição dos feirantes e sob a condição destes não ultrapassarem a esquina da Calçada da Glória, estas mudanças acabam por não se realizar, tendo permanecido em Sant’Ana apenas cinco meses.
Em Abril de 1804, a transferência acaba por ser inevitável devido às obras do alargamento do Passeio público, onde se efectuava a feira.

Fixando-se a feira no Campo de Sant’Ana, permitiu-se que funcionasse todos os dias.Com o decorrer do tempo, esta passou a efectuar-se só às terças-feiras.
A Feira da Ladra permanece no Campo de Sant’Ana quarenta e sete anos, até que por deliberação camarária de 19 de Dezembro de 1881 e do edital de 23 de Fevereiro de 1882, foi transferida para o Campo de Santa Clara.
A resolução foi mal recebida, uma vez mais, por parte dos feirantes fazendo-se desde logo sentir protestos já que se tratava de uma zona, na altura, pouco acessivel ao consumidor comum.
Atendida a reclamação no dia 18 de Abril do mesmo ano, voltaram ao antigo lugar.
A 1 de Julho de 1882, a Feira da ladra acabaria por se instalar definitivamente no Campo de santa Clara. Este facto levou a que muitos dos seus frequentadores mudassem, devido à forte oposição que a mudança ocasionou.No entanto, o rápido crescimento da cidade proporcionou o aflorescimento dos seus consumidores habituais num curto espaço de tempo.
O funcionamento da feira em santa Clara era somente às Terças-feiras, como já vinha sendo hábito nos locais anteriores por onde passou. Só a partir de Novembro de 1903 foi conferido o Sábado como mais um dia de feira (facto que ainda hoje se mantém).
Com o passar dos tempos, esta feira foi perdendo as características que a assemelhavam aos mercados (existiam cada vez menos produtos alimentares à venda) passando a concentrar-se sobretudo no negócio de artigos velhos e usados.

As mentes mais conservadoras não viam com bons olhos este tipo de comércio,alegando que se tratava de uma extravagância exagerada, um autêntico “oceano de lixo”.
A tendência da venda dos objectos usados intensificou-se de tal maneira que se passou a utilizar o Mercado de Santa Clara, inaugurado em 1877, unicamente como ponto de venda obrigatório de géneros alimentares (carnes, peixes e produtos hortícolas).
Em 1920 e até 1935, a Feira da Ladra era uma coisa diminuta, não abragendo mais do que uns escassos metros quadrados, junto ao Arco de S.Vicente.
Com o decorrer dos anos, a feira continuou a ser conhecida, até perto dos anos 70, como a feira ads velharias.
Nos dias de hoje, apesar do “velho” ainda estar presente e ter o seu valor, concorre com o comércio do “novo”.
O percurso histórico da feira da Ladra está cronologica e sumariamente delineado até aos nossos dias, sendo este marcado pela transição e mobilidade espacial.
Em cada período histórico delimitada a um espaço único, esta feira adquiriu uma popularidade justificada uma vez que para além de testemunho vivo de várias mentalidades, ela partilhou vivências e particularidades com os múltiplos locais em que se instalou.

4 comentários:

Unknown disse...

Boas! Em primeiro quero dar-lhe os parabéns pelo post!
Sou aluna de Antropologia também na FCSH, e para a cadeira de Método Etnográfico eu e duas colegas minhas estávamos interessadas em trabalhar a Feira da Ladra. Tal não foi o nosso agrado ao ler as primeiras linhas do seu texto!
Depois de alguma pesquisa sobre o tema, ainda continuamos à procura de uma "pergunta de partida", algo mais específico dentro do tema. Sendo uma antropóloga, que enquanto aluna trabalhou esta temática, será que não nos podia dar algumas luzes sobre algumas notas etnográficas suas da altura? Algumas directrizes que nos possam esclarecer mais à cerca da Feira da Ladra enquanto terreno antropológico?
Muito Obrigada,
Marisa

Unknown disse...

Boas! Em primeiro quero dar-lhe os parabéns pelo post!
Sou aluna de Antropologia também na FCSH, e para a cadeira de Método Etnográfico eu e duas colegas minhas estávamos interessadas em trabalhar a Feira da Ladra. Tal não foi o nosso agrado ao ler as primeiras linhas do seu texto!
Depois de alguma pesquisa sobre o tema, ainda continuamos à procura de uma "pergunta de partida", algo mais específico dentro do tema. Sendo uma antropóloga, que enquanto aluna trabalhou esta temática, será que não nos podia dar algumas luzes sobre algumas notas etnográficas suas da altura? Algumas directrizes que nos possam esclarecer mais à cerca da Feira da Ladra enquanto terreno antropológico?
Muito Obrigada,
Marisa

Unknown disse...

Boas! Em primeiro quero dar-lhe os parabéns pelo post!
Sou aluna de Antropologia também na FCSH, e para a cadeira de Método Etnográfico eu e duas colegas minhas estávamos interessadas em trabalhar a Feira da Ladra. Tal não foi o nosso agrado ao ler as primeiras linhas do seu texto!
Depois de alguma pesquisa sobre o tema, ainda continuamos à procura de uma "pergunta de partida", algo mais específico dentro do tema. Sendo uma antropóloga, que enquanto aluna trabalhou esta temática, será que não nos podia dar algumas luzes sobre algumas notas etnográficas suas da altura? Algumas directrizes que nos possam esclarecer mais à cerca da Feira da Ladra enquanto terreno antropológico?
Muito Obrigada,
Marisa

Ana disse...

O trabalho estava à consulta na biblioteca do Departamento de Antropologia. É de 1995/1996. É uma questão de o consultarem. Foi analisado numa perspetiva da Antropologia do Espaço, do lugar e do não lugar do Marc Augé. É um trabalho antigo já!

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