«Noite Viva», em cena no Teatro
Aberto, é uma peça de teatro diferente da que estamos habituados a ver, normalmente
em cenários precisos e espaços demarcados, aliando a magia do teatro com o
cinema, o que é extremamente bem conseguido, pois através da imagem as personagens
ganham maior profundidade e complexidade. É como se assistíssemos a um
espetáculo dentro de outro espetáculo e as personagens saltassem do palco e
ganhassem uma vida e uma dimensão real, movendo-se para além do espaço e do
tempo.
Esta peça passa-se quase sempre à
noite, numa garagem suburbana dos arredores de Lisboa, local onde se desenvolve a trama e se juntam as solidões de Tomás, um homem de meia idade que vive de
trabalhos ocasionais; Ana, a jovem que Tomás salva das mãos de um violento agressor; Doc, um homem com deficiências cognitivas que se inquieta com os
segredos da vida e do universo, registando todas as frases e citações que vai
ouvindo num caderno que o acompanha sempre; e o Tio Mauríco, um idoso recém
viúvo, amargurado e desiludido com a vida, que se arrasta através dos dias sempre iguais.
Nesse espaço exíguo, tocam-se realidades antagónicas de pessoas à deriva e
inconformadas e conectam-se alegrias, tristezas, deceções e esperanças perdidas.
«Noite viva», de autoria do irlandês
Conor Mcpherson, faz assim um retrato de pessoas desencantadas com a vida, em
rota de colisão com elas mesmas, que se limitam a sobreviver num dia a dia
marcado pela decadência moral, as drogas, a violência e a prostituição, a
mendicidade.
Encenação João Lourenço
Dramaturgia Vera San Payo de Lemos
Atores: Anna Eremin, Bruno Bernardo, Filipe Vargas, Rui Mendes e Vítor Norte
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