Foi sem dúvida um tempo muito bem passado, pois estes meus amigos não brincam em serviço e apresentaram um programa de festas espectacular. No primeiro dia, aproveitámos para conhecer melhor a Covilhã, no sopé da serra, e para percorrer as suas ruas e desvendar o seu património. Um dos locais que visitei e que aconselho foi o Museu de Lanifícios da Universidade da Beira Interior. A visita foi guiada e valeu a pena para conhecer um pouco melhor esta que foi a rainha das indústrias da Covilhã, estando em acentuada decadência. Na realidade, na cidade não faltam vestígios de antigas fábricas de lanifícios, que têm vindo a falir em virtude da forte concorrência dos mercados internacionais e da deslocação das grandes empresas para a Europa de Leste, onde a mão-de-obra é mais barata.
Relativamente ao museu já referido, este revela o património das Tinturarias da Real Fábrica de Panos, documentando a história da industrialização dos lanifícios, desde os tempos mais recuados, até aos séculos XIX e XX, caracterizando económica, social, técnica e culturalmente a Covilhã e a região da Serra da Estrela que deve o seu desenvolvimento à mono-industrialização dos lanifícios. Aí, é possível encontrar também as estruturas arquitectónicas e arqueológicas postas a descoberto na área das tinturarias oitocentistas, bem como os achados recuperados durante as intervenções arqueológicas realizadas (1986-1992) e integrados na exposição permanente e em reserva.
Além da exposição do museu, tive a oportunidade de visitar outras mais pequenas, localizadas no centro histórico da cidade, sobre a arte de conservação e restauro, e pude constatar o quão difícil é tratar obras de arte completamente destruídas ou com sérios danos, em condições de serem novamente admiradas.
Em seguida, rumamos a Belmonte, onde subimos ao castelo, percorremos as ruas sinuosas, com um suave aroma, que me recordou umas recônditas férias da minha infância. Apesar de não estar aberta, vimos também a sinagoga, a qual foi inaugurada em 1997.
Belmonte tem um passado histórico envolto na ocultação das crenças religiosas. Como se sabe, com o estabelecimento da Inquisição em 1536, o judaísmo foi proibido no nosso país, restando aos judeus a fuga ou a conversão. Enquanto muitos judeus partira para países estrangeiros, outros ficaram em Portugal, mascarando a sua fé judaica que não podiam professar publicamente, nascendo assim o criptojudaísmo, que manteve vivas as tradições judaicas dos cristãos-novos, descendentes do velho judaísmo português.
O passeio nesse dia foi intenso, calcorreámos todos os recantos bonitos da serra, fomos até ao Covão da Ametade, onde corre o Zêzere, junto à sua nascente. Vimos quedas de água, paisagens de cortar a respiração, vimos a Lagoa Comprida e tantos outros lugares…
Ao chegar a Manteigas visitamos o viveiro de trutas, onde pudemos ver alguns dos tanques de aquicultura, para abrir o apetite. Apesar de não ter comido truta (não aprecio muito peixe), adorei o lombo de porco assado num pequeno restaurante regional, próximo de Manteigas.
De volta em volta pela serra, fomos até Seia e ao seu célebre Museu do Pão, que há tanto já ouvia falar. Confesso, que não foi grande surpresa, pois já tinha ouvido comentar que o museu é muito mais comercial do que de investigação.
As pessoas ali entram em magotes, pagam, entram e pouco interpretam do que vêem, até porque não existe um grande discurso expositivo, é como se os objectos já valessem pelo que valem… as crianças mexem em tudo, o bulício é grande e a algazarra também.
Além das salas de exposição, o museu conta ainda com um agradável bar-biblioteca, onde se pode no exterior contemplar a paisagem envolvente, um restaurante de qualidade, uma mercearia, com enchidos e pão quente, bolachas, biscoitos e outros derivados. O museu dispõe ainda de carrinhas e de um pequeno comboio que faz o transporte dos visitantes até ao centro de Seia. De tudo, o que mais gostei foi sobretudo da primeira sala, sobre o ciclo do cereal e de alguns documentos dispersos nas outras salas, fotografias e artigos de revistas dos inícios do século XX sobre a vida nos campos. Encontra-se ainda em exibição uma exposição temporária de fotografia «Mãos sobre o Pão», de Pedro Inácio. Apesar da ideia ser original, penso que as fotografias não possuem qualidade suficiente, além de que se tornam repetitivas e maçadoras.
Ao longo deste périplo pela Beira-Baixa houve tempo também para conhecer a aldeia histórica de Sortelha e o Sabugal.
Sortelha é um recanto encantador de Portugal, muito parecida com Monsanto, mas a uma escala menor. Trata-se de uma vila fronteiriça de fundação medieval, com foral concedido em 1228. A povoação instalou-se dentro do Castelo, face às exigências defensivas, num terreno acidentado. O castelo domina toda a paisagem e envolve toda a vila através da sua muralha. Aqui e ali revive-se um pouco do passado daquele lugar, pois já são poucos os seus habitantes, a maioria muito idosa. Vêem-se contudo novas caras, sobretudo de turistas, muitos dos quais alugam muitas das casas que se encontram vagas. É bom perceber que em muitos locais se começou a dar valor ao património e a tirar proveito económico do mesmo, convertendo-o num produto turístico, porque nem tudo pode ser abandonado e destruído…
Por fim, uma incursão pelo Sabugal. Mais um castelo, mais um passeio pelas muralhas, mas desta vez sem a força e a coragem para subir à Torre de Menagem. O calor seco da beira começava a apertar e o cansaço já começava a fazer-se sentir.
Regressei do fim-de-semana mais preenchida e animada, como é bom às vezes ir “para fora cá dentro”… Já no comboio embalei-me na viagem, contemplei as paisagens verdejantes do Tejo, por vezes mesmo à sua beira, como sucedeu em Vila Velha da Ródão, e regressei à cidade!
1 comentário:
Minha querida amiga, mas que fim de semana o teu por terras do Interior. Fico contente por saber que foi proveitoso e mais não posso dizer porque sou suspeito lol.
Um amigo da Covilhã
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