Num destes dias fui ao cinema. Escolhi ver o filme «O Solista», e não me arrependi. A temática é centrada num assunto marginal da nossa sociedade ocidental, a vida dos Sem-Abrigo, neste caso concreto na cidade norte-americana de Los Angeles, onde existem cerca de 90 mil pessoas nesta condição.
Curiosamente, este é um filme que cruza questões apontadas no documentário de Pedro Neves, «Os Esquecidos», que aqui fiz referência num dos posts anteriores. É uma realidade que ninguém quer ver, e que poucos têm coragem para ajudar.
Em « O Solista» o sem-abrigo é também um génio musical e um esquizofrénico sem relações sociais ou familiares. O único a dar-lhe a mão é um jornalista solitário, que primeiro vê nele matéria para alimentar a sua coluna semanal, começando aos poucos a perceber que ele é mais do que um furo jornalístico, ele é o único amigo que tem, a única pessoa que o faz ainda ter fé na vida, comovendo-se com o seu estado de graça quando este toca um excerto musical. A amizade que nasce entre estas duas personagens é comovente, pois raras são as pessoas que se preocupam tanto com um sem-abrigo como aquele jornalista, chegando a estar deitado com ele, no espaço urbano que este ocupa para pernoitar.
Trata-se de um filme com uma notável banda sonora, com momentos de extrema beleza e poesia, demonstrando que o poder da amizade pode mover montanhas. É ao mesmo tempo um retrato cru da realidade, exibindo a mendicidade, o submundo da droga, da violência, em todo o seu esplendor. É um filme para reflectir sobre o caminho que estamos a tomar, pois quanto mais desenvolvidas são as sociedades, maiores fenómenos de marginalização e pobreza começam a exisitir, fazendo aumentar o fosso entre as pessoas e a distância entre os seus mundos.
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