terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Uma rosa que murchou


Seria cliché dizer que com a morte de Rosa Lobato Faria o país ficaria mais pobre literariamente se isso não fosse de facto verdade. Para mim esta senhora, de aspecto tão fino e de porcelana intocável, que entrava nas nossas casas ao serão nas telenovelas portuguesas, era na verdade uma fantástica escritora, capaz de uma imaginação ardilosa, incarnando com veracidade as suas personagens através dos seus diálogos, arrastando-nos com ela nos enredos por ela tecidos. Descobri a sua escrita casualmente há mais de 10 anos, e sempre que podia devorava os seus livros «Pássaros de Seda», «Romance de Cordélia», «Prenúncio das Águas» (este último o meu preferido), «O Pranto de Lucífer», «Os três casamentos de Camila S.», entre outros.

Confesso a minha consternação com a partida desta mulher. Não subestimando os restantes escritores portugueses, posso dizer que ainda não encontrei outra escritora portuguesa tão verdadeira como ela, capaz de retratar diferentes classes sociais e realidades.

«Prenúncio das águas» é o meu romance de eleição. Lido numa altura em que vivia em Moura e em que se vivia a iminente abertura da barragem e o alagamento da Aldeia da Luz, este livro retoma a vida daquelas gentes, do drama da separação do local onde se nasceu e viveu toda uma vida. Parecia escrito por uma antropóloga, por alguém que conviveu de perto com aquele povo, lhe captou as falas, os ditos e as tradições, ilustrando a história com ficção e romance. Muito bom!

Rosa, espero que o céu espere por si, com rosas, como merece! Obrigada pelas suas palavras...

2 comentários:

oasis dossonhos disse...

Exactamente. Parece escrito por uma antropóloga. Inclusivé, recordo-me que um dia me convidou para ir conviver e almoçar com Rita Maria, a anciã da aldeia, que eu conhecera nas minhas andanças à aldeia procurando corresponder a um desafio para uma publicação, que se gorou porque o amigo fotógrafo que me fizera o desafio, não conseguiu cumprir o projecto que dependia imenso dele.
Beijinhos
Luís

Ana disse...

Não admira que uma das netas tenha feito o curso de Antropologia na Nova, ainda a apanhei numa disciplina.

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