quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Em Santiago de Compostela

A visita a Santiago de Compostela acabou por acontecer. Até o tempo mudara, parecia de propósito, tornando-se mais escuro e frio, coincidindo com uma experiência mais espiritual. Perto das 8h00 da manhã, apanhei em Vigo o comboio direto para Santiago de Compostela. O comboio de média distância da RENFE é bastante confortável, semelhante aos nossos alfas, o que tornou a viagem muito cómoda e rápida.
Chegada a Compostela, não foi difícil encontrar o caminho para o centro, em direção à catedral. Ali, basta seguir alguém com ar de turista, pois todos têm o mesmo destino.
Não levava planos pré-concebidos. A única coisa que sabia que queria fazer era estar ao meio dia na catedral na missa do peregrino e gostava de visitar o Museo do Pobo Galego, o resto ficaria encarregue do destino e do improviso.
Após algumas voltas pelas ruas do núcleo histórico de Santiago de Compostela, encontrei a Catedral. Foi uma experiência muito interessante, até porque, curiosamente não entrei pela porta principal, mas sim por uma lateral, tendo constatado a magnitude da sua fachada, apenas quando saí e dei a volta ao quarteirão. Costuma-se dizer que o melhor se deixa para o fim e assim foi, pois só depois de estar dentro dela a pude admirar por fora.
No seu interior, muitos eram os peregrinos que tinham feito longas caminhadas até Santiago. Traziam no corpo as marcas do sacrifício, o cansaço acumulado dos dias passados, os odores intensos desses caminhos de fé.
Aquele momento foi para mim, um momento de silêncio…absoluto e completo. Só me apetecia permanecer naquele mutismo inebriante. Não me apetecia falar, nem ouvir nada, nem quase a voz do pensamento, que me ia segredando como estava contente de ali estar. E contudo, sabia que o meu contentamento não se podia comparar aos que palmilharam montes e vales, padeceram de dores, de desafios que conseguiram transpor para ali chegar. Eu limitara-me a apanhar um comboio confortável, quase luxuoso! Não tinha feito nenhum sacrifício que me fizesse apreciar tanto aquele momento de júbilo da chegada, de encontro e partilha com outros caminheiros.
O momento mais emocionante na cerimónia da missa do peregrino foi quando o incensório foi balançado, o “botafumeiro”,perfumando a catedral de uma fragrância abençoada.
Quando a cerimónia acabou, a fome era mais forte do que eu, desmotivando-me a ver com maior pormenor e detalhe a mesma, ou mesmo ver de perto a imagem de Santiago, como é tradicional.
O tempo cá fora, estava fresco e escurecido e naquela altura comecei a sentir-me cansada. Deambulei um pouco pelas ruelas visitando as inúmeras lojas de souvenirs, mas como não tinha preparado bem a minha incursão a Santiago, não sabia muito bem o que ver.
A meio da tarde fui ao Museo do Pobo Galego. Trata-se do principal museu etnográfico da Galiza, situado no antigo convento de San Domingos de Bonaval.
No ar havia um forte odor a objetos etnográficos, que só reconhece quem está habituado a trabalhar com eles, a conhecer-lhes os contornos e as histórias que têm para contar. Aqui encontrei um museu com uma leitura diferente, na disposição e interpretação dos objetos, do verificado no Museu do Liste em Vigo, existindo uma maior contextualização dos mesmos e até boas condições de conservação preventiva. Aqui pude visitar as salas dedicadas ao mundo do mar, ao campo, aos ofícios tradicionais, ao traje, à música, à sociedade, memória e tradição e à arquitetura popular. Como o tempo não era muito deixei de fora a ala dedicada à pintura. Entre os vários andares percorridos, pude subir pela fantástica escada barroca espiral, de autoria de Domingo de Andrade. Houve tempo ainda para visitar a igreja gótica, a qual corresponde à parte mais antiga do conjunto arquitetónico de Bonaval, tendo sido modificada ao longo dos séculos com numerosas obras e acrescentos.
No fim do dia regressei a Vigo. Introspetiva, mastigava mentalmente tudo o que vira e sentira nesse dia. A jornada acabou com uma tapa de tortilha e um copo de vinho tinto Imperial (Mencia), como um brinde à minha última noite em Vigo.
De regresso a Portugal e ao Porto, onde me reuniria a amigos que viriam ao meu encontro, meditava no comboio em tudo o que tinha visto naqueles breves dias…passou tudo tão rápido, mas foi decididamente muito bom!

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