segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Passeando por Vigo

O 4º dia de jornada começou enevoado, cheguei a pensar que chovesse. Aquele dia seria dedicado aos museus e tudo aquilo que teria ficado por ver em Vigo, além de um pouco de praia se o tempo abrisse. Estava ainda indecisa se devia ir a Santiago de Compostela ou se o facto de não ir nessa altura, seria o pretexto perfeito para poder regressar…
A manhã foi praticamente passada com a planta da cidade na mão e a percorrer as ruas da cidade. O objetivo era chegar ao Museu Etnográfico de Liste, sabia que ficava um pouco distante do centro, não sabia quais os transportes que o serviam, e tinha muito tempo para gastar, por isso deixei-me levar pelas ruas, avenidas e praças da cidade, seguindo sempre a direção do museu. Iniciei o percurso através da Porta do Sol, perto da qual subi uma escadaria que me levou para ruelas, onde o caminho se fazia sempre a subir. Passei pela Câmara Municipal, de aspeto bastante sinistro e desinteressante, um edifício de betão, estilo Calouste Gulbenkian, onde assisti a uma manifestação de funcionários despedidos. Durante aqueles breves instantes, foi como se a realidade tivesse invadido a ficção da minha viagem, e constasse que afinal a malfazeja crise também ali andava a rondar.

Passei pelo Castro, do lado de fora, mas às 9h00 da manhã, não me apeteceu subir a extensa escadaria, até porque se via poucas pessoas a vir de lá. Optei por fazer um caminho alternativo, o qual me levou à Praça de Espanha, onde pude fotografar a escultura dos cavalos. Seguindo as indicações da planta, cheguei ao museu antes das 11h00, hora de abertura, pelo que ainda tive de esperar um pouco para abrirem as portas ao público.
Este museu é dedicado ao património etnográfico da Galiza, localizando-se numa vivenda unifamiliar, remodelada nos meados do séc.XX, apresentando quatro andares e 9 salas de exposição. Estão presentes aspetos ligados aos ofícios artesanais galegos, à agricultura, como a cultura do centeio, à tecelagem, às atividades económicas, aos objetos de madeira escavada, à iluminação, à fé e arte curatória da medicina popular, entre outros. Trata-se de uma belíssima coleção, muito semelhante à do Museu Nacional de Etnologia português ou outros museus etnográficos do norte do nosso país. Afinal as diferenças entre os portugueses e os galegos não são assim tantas, possuindo um contexto etnográfico idêntico.
Contudo, fiquei estupefacta com a falta de cuidado revelada na conservação preventiva do museu. Os objetos à luz solar, localizados próximos de janelas não protegidas e pior… todas abertas, deixando entrar as poeiras, os agentes de deterioração, como insetos xilófagos. Qualquer conservador especializado teria um ataque a ver aquilo. Apesar de haver quem defenda que o património etnográfico não necessita de tais cuidados, pois foram objetos feitos em série, de uso corrente e sujeitos ao desgaste do tempo, eu acredito que a partir do momento que entra no museu é para preservar e fazê-lo durar o mais que se puder, por isso há que haver cuidados na manutenção e na conservação preventiva.
Fora isso, a técnica que me fez a visita personalizada, explicou-me tudo perfeitamente com muita atenção. Encantou-me a mitologia popular dos «trasnos», pequenos duendes que fazem partidas. Um dos que estava representado na exposição, dava sumiço a tudo, outro tinha que estar entretido a contar para não fazer disparates e havia ainda outro, o dos pesadelos, que tinha dentes verdes.
Finalizada a visita, segui até rotunda das Travessas, onde apanhei um autocarro para a praia de Samil. Aí, dei novamente, descanso ao corpo, e quando já estava cansada de tanto descanso, atravessei a estrada e fui conhecer o museu que ainda me faltava riscar da lista: «Verbum – a Casa das Palavras». Trata-se de um museu muito engraçado e interativo, fantástico para famílias, a comunicação humana dá o mote a todas as áreas expositivas. Este espaço de entretenimento permite apreciar e conhecer melhor a comunicação humana, através de
jogos e experiências sensoriais, de linguagens, de palavras, letras, sons, etc.
Na sala principal encontram-se 29 cubos, que contêm no seu interior 81 módulos, os quais podem ser explorados pelos visitantes.
No fim do dia estava decidido, iria reservar mais uma noite no hotel para poder ir no dia seguinte a Santiago de Compostela. Podia não ter feito o verdadeiro caminho até lá, mas havia sempre o comboio, e não podia deixar escapar aquela oportunidade, ali tão perto!

3 comentários:

oasis dossonhos disse...

A Galiza é um dos territórios mágicos que ainda podemos encontrar. Se ainda por lá estivesses, nesta sexta feira certamente que irias assistir ao lançamento do mais recente livro da professora Paula Godinho,"Oir o Galo Cantar duas veces".
Paula Godinho diz que:
"Em 2008 ganhou o prémio Taboada Chivite, e é editado em galego. Resulta de um longo trabalho de campo na fronteira entre Portugal e a Galiza, sobretudo na zona de raia seca entre Chaves e Verín, desde os anos '90 até à actualidade, tendo também uma abordagem histórica da construção da fronteira, a partir dos documentos do tratado de 1864, que trabalhei em Madrid e Lisboa."

Ana disse...

Fiquei fascinada com o que vi da Galiza, a sério! Tantas semelhanças, é incrível!

Στέλιος Σταυρακάκης disse...

Hi! Very nice post!

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