terça-feira, 21 de agosto de 2018

À Descoberta da Grécia: Em Delfos



Saímos em excursão logo pelo início da manhã para Delfos. Íamos com o coração apertado, pois o fogo continuava a descontrolado e muito perto de Atenas, embora desconhecemos ainda que seria nesse dia que Mati praticamente desapareceu do mapa, e tantas pessoas ali morreram, sufocadas, queimadas, em perfeito desespero…isso só mais tarde viemos a saber.
Delfos dista cerca de 180 kms de Atenas, demorando perto de três horas de caminho, sendo acessível apenas de carro, ou autocarro, em viagens organizadas. Confesso, que ao princípio tive algumas dúvidas em ir a este lugar, pois, tinha pensado em tirar mais partido da praia e de alguma eventual excursão que pudesse ter como destino uma estância balnear, onde pudesse mergulhar no mar Egeu, mas depois de começar a pesquisar um pouco mais sobre este local acabei por perceber que ir à Grécia e não ir a Delfos seria uma lacuna imensa nos meus conhecimentos e experiências.
Com uma paisagem que prende a respiração, Delfos fica localizado na ladeira sul do monte Parnaso, possuindo uma vista impressionante sobre o vale e o mar ao fundo, embora quem venha na estrada não perceba bem o que ali existe, pois encoberto por ciprestes e olivais o povoado esconde-se entre os socalcos da encosta íngreme. 


 Era aqui neste pequeno povoado que na Grécia Antiga se realizava o Oráculo, atraindo peregrinos de toda as partes do país e países vizinhos, que vinham pedir conselhos a Pitia, a sacerdotiza reputada do templo. Esta, antes de iniciar o oráculo seguia o ritual de se banhar nas águas da fonte Castalia, bebia água da fonte e depois num estado de transe, desencadeado pelo uso de substâncias que o induziam, começava a pronunciar as suas sentenças ambíguas, que os sacerdotes interpretavam em forma de verso ou em prosa, e geralmente manipulavam, consoante os interesses económicos ou políticos em causa. Neste sentido, Delfos era considerado o lugar religioso mais importante da Grécia, na Antiguidade, e o umbigo do mundo, por atrair gente de todo o lado que vinha em busca das previsões do futuro. De tal modo se pensava que este era o centro do mundo, que existiu no templo de Apolo a representação de um umbigo, uma pedra coberta por uma rede de fitas e nós esculpidos, que podemos visitar no Museu Arqueológico de Delfos.
Assim, que coloquei o pé em Delfos, a experiência foi bastante intensa. Não sei se por estar um pouco nervosa com os incêndios e ver os gregos tão consternados e os nossos familiares em Portugal algo ansiosos com o que viam na televisão portuguesa, que assim que comecei a andar, senti uma força imensa a vir daquele lugar, deixando-me sem forças e com as pernas a tremer, o que me deixou convicta da energia e misticismo daquele lugar histórico.
 Tesouro dos Atenienses


Templo de Apolo

Templo de Apolo

 Anfiteatro
Estádio
Naquele pequeno povoado vale a pena visitar o sítio arqueológico, que nos revela o lugar antigo e as suas ruínas, e construções como a do Templo de Apolo do séc. IV a. C, descoberto em 1892, embora tenha existido outros anteriores a este. No espaço de entrada do templo estaria gravado a célebre frase: «Conhece-te a ti mesmo!». No interior deste espaço existiriam também estátuas de deuses e o altar de Héstia, com o fogo acesso e uma estátua de ouro de Apolo. Tudo isso agora só é possível ver se imaginarmos.
Salienta-se também o Tesouro dos Atenienses, onde se guardavam ofertas valiosas doadas por benfeitores e pessoas que recorriam ao Oráculo, como estátuas, obras de arte e metais preciosos; o Anfiteatro, também do séc, IV a.C., com capacidade para cerca de 5000 espectadores, que se mantém em muito bom estado. No ponto mais alto da encosta, a norte, estão as ruínas do estádio, com cerca 178 metros de comprimento e 25,5m de largura, onde se realizavam as competições de atletismo e de hipismo e os jogos pítios, realizados de 4 em 4 anos e os concursos líricos e espetáculos musicais.
Depois de nos embrenharmos na visita, de ouvirmos as explicações da guia que nos acompanhou, pudemos sentir melhor o lugar. A guia disse-nos que ali no Oráculo de Delfos todas as questões são respondidas e se as fizéssemos encontraríamos, em silêncio, as respostas na nossa consciência, no nosso pensamento. Na verdade, naquele espaço mágico é possível encontrar todas as respostas que trazemos dentro de nós, como se ecoassem por aquela encosta em direção ao vale, numa voz que nos devolve a lucidez e a temperança.
Retornei à entrada do espaço arqueológico, com as pernas ainda bambas, não só pela subida, mas pelo impacto do lugar, que não conseguia explicar, e encaminhámo-nos para o Museu Arqueológico de Delfos, onde pudemos observar a Auriga de Delfos, a escultura de bronze mais valiosa da coleção, que representa a vitória nos jogos Píticos, no ano 478 a. C., entre outras peças e objetos impressionantes, que ali foram escavados e descobertos.
O almoço foi num restaurante fora do povoado de Delfos, possuindo uma área exterior que dava para o vale. Eu e a minha irmã, que levámos almoço, acabámos por encontrar duas cadeiras, que pareciam esquecidas e reservadas para nós e ali comemos, debaixo de uma árvore, contemplando a vista daquela paisagem aberta e infindável, que fazia lembrar o Douro português.

Seguiu-se a visita a outro sítio arqueológico em Delfos, situado uns metros abaixo do antigo povoado, onde conhecemos vestígios do templo de Athena, o segundo templo mais importante de Delfos, construído no séc. V a. C., e reconstruído no séc. V depois de um terramoto; e as ruínas do Tholo de Sición, em formato circular, com 20 colunas, no seu perímetro, construído em 380 a.C.
Aí, voltei de novo a sentir o corpo tremer. Não havia dúvidas, estava mesmo no centro do mundo e a lenda estava viva, bem diante dos meus olhos.




De regresso a Atenas, no dia seguinte ultimaram-se as últimas visitas, os souvenirs de última da hora. Houve tempo para regressar a Piréus, ir ao Museu de Arqueologia de Piréus, onde pudemos admirar as estátuas de Athena e Afrodite, e voltar à Acrópole para visitar o museu, que não tinha sido ainda possível conhecer.
Atenas é uma cidade que merece ser visitada, mas que ao fim de alguns dias começa a cansar, pois não é bonita, é barulhenta, desorganizada e enorme. Por isso ao viajar para a Grécia vale a pena ter um plano de visita abrangente e se possível incluir as ilhas e diversificar bem os programas, seja em cruzeiro ou ferry, pois este país tem muito para oferecer, em termos de paisagens e de lazer. Nesse sentido, foi uma viagem fantástica, muito completa, que perdurará na memória, pela sua história, o seu passado, o seu misticismo e as suas paisagens.
Venha a próxima!

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