segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Cabaret



de que vale a pena ficar só e sentado no seu quarto,
Venha ouvir a música tocar.
A vida é um grande cabaret,
Venha ao Cabaret

Este é um pequeno excerto do refrão do tema célebre do musical Cabaret, que actualmente está em cena no Teatro Maria de Matos até inícios de Fevereiro, com a revelação de Ana Lúcia Palminha no papel de Sally Bowles, Henrique Feist, Pedro Laginha, entre outros, com a encenação de Diogo Infante.
A história passa-se em Berlim, entre 1929 e 1930. Nessa altura, apesar da catastrófica recessão que se abatia no mundo, do famoso crash de 1929 (curiosamente a crise parece perseguir-nos ciclicamente), as noites de Berlim são de festa, folia, vida boémia nos bares, casinos e cabarés. Nesses espaços mundanos celebrava-se a vida, sentia-se o pulsar das emoções ao rubro, dançava-se, cantava-se, quebravam-se os tabus e vivia-se uma liberalidade sexual intensa. Este era o ambiente da Berlim da República de Weimar – um governo democrático encorajador do liberalismo, onde tudo era possível, desde a prostituição, o sadismo, o travestismo e as drogas, como a cocaína.
Mas esta peça não é apenas sobre excessos e comportamentos ditos desviantes, é também uma história de encontros e desencontros, de amores e desamores, de esperança e de pesadelo. É a história de Sally Bowles (maravilhosamente interpretada por Ana Lúcia Palminha e descoberta num casting televisivo para este papel) cantora no cabaré Kit Kat Klub e de um escritor americano Cliff Bradshaw, incarnado por Pedro Laginha. Ambos se vêem envolvidos romanticamente numa Alemanha que se começa a unir em torno de um sonho de império e de domínio, durante o período de ascensão de Hitler ao poder.
A complexidade da peça reside exactamente na exploração das contradições da sociedade alemã da década de 30, e na mudança súbita que decorre entre um ambiente de festa e euforia e um clima de medo, ansiedade, pânico e perseguição. Faz-nos questionar o modo como o ser humano pode transformar e destruir tudo à sua volta por causa da ambição e do desejo de conquista do mundo. O cabaré que era o local de descompressão, de loucura, onde se cantava constantemente Welcome to Cabaret e o Mestre de Cerimónias (toda a peça é apresentada e seguida por esta personagem, aqui interpretado por Henrique Feist), dizia que não havia lugar para tristezas e problemas transforma-se no fim da peça no mais hediondo dos campos de concentração, exibindo o extermínio de muitos dos frequentadores do cabaret.
Na verdade, esta peça retrata o que aconteceu a estes locais depois de Adolf Hitler se ter tornado Chanceler, em 1933. «Os nazis consideravam a homossexualidade como uma potencial ameaça para a sua planeada “raça superior” e, por isso, tentaram erradicá-la encerrando bares, clubes e publicações gay. Os nazis tinham o poder de encarcerar – sem julgamento qualquer pessoa que fosse considerada uma ameaça à “fibra moral alemã” e, em resultado disto, foram presos cerca de 100.000 homens homossexuais, e destes, entre 5000 e 15000 foram enviados para campos de concentração» (citado do pequeno livro que faz a apresentação do espectáculo).
Por ser um clássico dos musicais, com belas vozes, por ser uma ocasião em que podemos ter entre nós esta interpretação tão famosa da Brodway, penso que vale bem a pena ir até ao Teatro Maria Matos. Não temos a Liza Minelli, mas ainda assim recomendo vivamente aos apreciadores do género que vão assistir a este espectáculo! Mas apressem-se que as sessões estão a acabar!

Sem comentários:

Alpha: a história de uma amizade que sobrevive há milénios

Alpha é um filme que conta uma história que se terá passado na Europa, há cerca de 20.000 anos, no Paleolítico Superior, durante a Era do...