Seguimos em direcção a Port El Kantaoui, onde sairiam alguns colegas de viagem. Porém, quis o guia e muito acertadamente, que parássemos numa pequena localidade costeira, situada junto ao mar, que por não ser um local turístico muito nos surpreendeu. Ali sobressaía a cor branca das casas e o azul celeste de portas e janelas. Mal descemos do autocarro percebemos que ali finalmente não se falava espanhol, e os locais não compreendiam o que os nossos camaradas espanhóis diziam, deixando-os com uma frustração muito semelhante àquela que eles nos causaram durante todo o circuito.
Ao entrar naquela casa, recordei as páginas de um livro que li há uns anos atrás, de uma antropóloga que foi minha professora, a Maria Cardeira da Silva, que fez trabalho etnográfico com mulheres em Marrocos. Eu estava encantada. Dançava com aquelas mulheres que não conhecia de parte nenhuma, sentia a energia delas evadir-me o corpo, havendo uma delas que cantava olhando para mim e me esfregava a barriga com as mãos. Sentia-me num ritual. No entanto, aquela festividade não era mais do que um recital dedicado a uma das filhas que tinha passado de ano com bons resultados. Além da música e da dança, ofereceram-nos um sumo gelado e eu deslumbrada com aquele bocadinho de céu que estava a ter (enquanto os palermas dos espanhóis ficavam no largo sem rumo) deixei escapar das mãos o copo do sumo. Por instantes, fiquei perplexa com a reacção delas, temendo que vissem naquele facto algum sinal, algum presságio. Mas, nada elas continuaram a celebrar e a cantar, dizendo que não havia problema
Regressamos ao autocarro triunfantes, afinal em poucos minutos tínhamos visto e sentido algo espectacular.
Rumamos em direcção ao fim do circuito. Já não tinha mais paciência para a carneirada!
De tarde, já em Yasmine Hammamet no hotel, onde devíamos ter ficado assim que chegamos de Portugal, decidimos ir ao centro de Hammamet, a 9 kms dali. Gostávamos de conhecer a Medina local, situada a beira-mar e um pouco do seu ambiente. Optámos por ir de autocarro público, permitindo-nos conhecer melhor a vida quotidiana dos tunisinos e poupar quase 7 € em táxi. Se tívessemos ido na conversa dos espanhóis e dos guias era isso certamente que teríamos feito.
Já em Hammamet, começou todo o ritual da Medina novamente, o regateio, a conversa, a teatralidade… Nesse dia, eu estava já particularmente cansada e todo aquele ambiente estava já a rebentar comigo, sempre a equacionar o quanto queria gastar, o que tinha em dinars… Tive de ir apanhar ar, e foi então que descobri uma lojinha de artesanato encantadora e um tunisino de meia-idade muito simpático e conversador. Ali os produtos eram de muita qualidade, e o senhor deixou-nos completamente à vontade. Estivemos a conversar com ele mais de meia hora. Era uma mente iluminada, sábia, com um conhecimento sobre a vida incrível. Não fosse eu começar a ter uma quebra de tensão, a conversa poderia ter-se arrastado durante horas. Ali como já referi, não há pressas.
A seguir refugiei-me numa esplanada perto da praia a tomar chá de amêndoas e a recuperar as forças. Estava a viver aquilo com demasiada intensidade e isso associado a algum calor estaria a fazer-me quebrar.
Seguidamente, fui até à praia pública, onde pude partilhar o mesmo espaço com os tunisinos, o que me era completamente impedido no hotel. A verdade, é que aquela foi uma das melhores praias que visitei, onde me senti completamente à vontade, junto de mulheres que tomavam banho vestidas e se refrescavam à beira mar.
O regresso a Yasmine Hammamet foi mais atribulado, porque esperámos pelo autocarro quase uma hora na paragem. Quando ele chegou completamente atolado, quis entrar pela frente, mas a entrada fazia-se pela retaguarda, obrigando-me a correr para a outra porta. Lá dentro, aquilo foi uma autêntica aventura, até chegar à porta da frente. Mas seja como for, valeu a pena. Como iríamos saber o que é andar de transportes públicos, se só tivéssemos andado no autocarro da excursão? Foi uma experiência interessante, sim senhor!
3 comentários:
Ana
Os meus parabéns pela inteligência e sensibilidade, tão bem espelhadas neste belo texto.
As palavras podem falar do júbilo que sinto por encontrar uma alma gémea das minhas andanças por essas paragens mágicas...mas é sempre tão pouco o que dizemos perante a força da realidade.
Obrigado pela partilha, Amiga!
Luís
Ana, ao ler o seu testemunho senti-me a voltar a essas parragens tunisinas..também fiz o circuito que descreve..também me senti noutra realidade, noutro mundo, também me senti à parte dos colegas espanhois com que partinhei a viagem, mas adorei tudo..as pessoas..as cores..e o cheiro, aquele cheiro...foi a minha viagem de finalistas..a viagem da minha vida..
Obrigada por estas lembranças..estas memórias que por vezes o stress da vida nos faz esquecer...
Anna
Ana, ao ler o seu testemunho senti-me a voltar a essas parragens tunisinas..também fiz o circuito que descreve..também me senti noutra realidade, noutro mundo, também me senti à parte dos colegas espanhois com que partinhei a viagem, mas adorei tudo..as pessoas..as cores..e o cheiro, aquele cheiro...foi a minha viagem de finalistas..a viagem da minha vida..
Obrigada por estas lembranças..estas memórias que por vezes o stress da vida nos faz esquecer...
Anna
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