domingo, 28 de novembro de 2010

«José e Pilar: um amor acima da condição humana»


«José e Pilar» é um documentário de Miguel Gonçalves Mendes, que acompanha os últimos anos de vida de José Saramago, mostrando-nos um lado mais intimista do escritor e da sua relação com Pilar del Rio. Trata-se de um filme inebriante, especialmente para quem gosta do José Saramago e da sua escrita, um testemunho eterno das suas palavras, que nos mostra um homem inquieto, com sede de vida, cuja única ambição, depois de ter sido prémio Nobel e de ter fama e reconhecimento, era apenas possuir tempo… tempo de vida, que se ia esgotando numa ampulheta compassada…tempo para poder escrever, para poder partilhar momentos com Pilar e sua família. Mostra um Saramago, que embora de semblante sempre um pouco fechado, possuía um sentido de humor acutilante e preciso…um olhar para além dos holofotes, das conferências de imprensa, das palestras e conferências, em que se movia em corrupios incansáveis.
Foi um homem incansável nessa corrida contra o tempo que se esgotava, homem apaixonado com um amor por Pilar acima da condição humana, um amor que se expressava no toque, no carinho, na cumplicidade de um abraço, de uma gargalhada. Neste filme, sentimos esse poderoso sentimento que os unia e que os completava, apesar da diferença de idade deles. O filme começa e acaba com Saramago falando directamente para a câmara, com a paisagem de Lanzarote como cenário, dizendo: «Pilar….encontramo-nos noutro sítio». É assim uma dedicatória a essa mulher que chegou à sua vida aos 63 anos, e que mudou para sempre o curso da mesma.
Neste documentário acompanhamos o processo criativo da construção do livro «Viagem do Elefante», o qual veio a ser interrompido pela doença de Saramago aquando do seu internamento em Lanzarote, até ao seu lançamento mundial em 2008. Assistimos assim a um processo de debilidade e recuperação da saúde do autor, e à primeira referência à ideia ainda embrionária da história do livro «Caim», seu último livro.
Vida recheada de viagens, Saramago é um homem do mundo, desse mundo que ele tanto apregoa que está perdido e que é preciso homens que o tornem melhor e que construam um futuro melhor. Todo o seu idealismo, as suas reflexões sobre a vida e a morte, a sua simplicidade na forma de estar se reflectem nestas imagens. Para mim, além de ser um filme belíssimo tem o valor de nos devolver a vida de José Saramago, nem que seja por breves horas. Ao contrário do que ele acreditava, que depois da sua morte o universo não lembraria a sua existência, nós não o esqueceremos… ficam os livros e as suas palavras!

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