Na última Feira do Livro em Lisboa, ao percorrer a banca da editora Assírio e Alvim, deparei-me com um livro que me chamou à atenção. O seu nome era «O céu que nos Protege», de autoria de Paul Bowles. Recém-chegada na altura de uma viagem a Marrocos e fascinada pelo deserto e suas aventuras aquele livro, com camelos na capa, sussurou-me ao ouvido:«Leva-me!». Perdoem-me a ignorância, mas a verdade é que nunca tinha ouvido falar do livro e pouco sabia sobre o seu autor, apesar de afinal não ser assim tão verdade!
Quando comecei a ler as primeiras páginas, foi com estranheza que percebi que aquilo que lera,não me soava a novo, eu ia jurar que já eu tinha visto aquelas cenas antes…num filme! E com o evoluir da acção eu verifiquei que era verdade, aquele era o livro do fantástico filme «Um chá no deserto», em inglês «The Sheltering Sky», do realizador Bertolucci, com as magníficas interpretações de Debra Winger e John Malkovich.
Concluída a sua leitura não resisti a rever o filme novamente. E o impacto foi muito melhor…descobri um filme fascinante que não foge muito ao enredo do livro, com uma ou outra diferença na adaptação. O livro é denso, com uma linguagem por vezes um pouco filosófica, com carência de descrições abundantes. Mas, as personagens são muito melhor apreendidas no livro que no filme.
O enrredo narra-nos a história de um casal em permanente viagem, como eles dizem não são turistas, são viajantes, e por isso andam sempre em busca de algo mais. Através do Norte de África, pelas vastas paisagens de Marrocos, até ao deserto, o caminho faz-se de incertezas, acabando por as personagens se perderem completamente. Não se trata de uma história fácil, comum, vulgar. É essa deambulação das personagens, sobretudo de Port e de Kit, que nos arrastam para dentro da história fazendo de nós espectadores da sua vida e da sua ausência. No filme a envolvência torna-se ainda maior, tendo um grande impacto a excelente banda sonora que o percorre, de autoria de Ryuchi Sakamoto.
No filme, o narrador é o próprio Bowles, o autor do livro. E o fim acaba com um dos parágrafos que mais gostei na obra, que nos faz ficar a pensar em como somos breves neste mundo e como tudo o que julgamos garantido tem um prazo limitado. Faz-nos pensar em como é bom aproveitar o que temos e sugar tudo o que a vida tem para nos dar! Uma excelente obra!
«A morte vem sempre a caminho mas o facto de não sabermos quando chegará parece afastar a natureza finita da vida. É essa terrível precisão que odiamos tanto. Mas, como não sabemos, pensamos que a vida é um poço inesgotável. No entanto, tudo acontece apenas um certo número de vezes, na verdade um número muito reduzido. Quantas vezes mais recordarás uma certa tarde da tua infância, uma tarde que é, tão profundamente, uma parte do teu ser que nem podes conceber a vida sem ela? Talvez mais quatro ou cinco vezes. Talvez nem tanto. Quantas vezes mais contemplarás a lua cheia a erguer-se? Talvez vinte. E, no entanto, tudo parece ilimitado». In: «O céu que nos Protege», de Paul Bowles
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