Os próximos posts deste blog irão dedicar-se ao estudo da música enquanto expressão da cultura popular, dando a conhecer quais os discursos existentes no antes e depois de Abril de 1974 em relação à música popular portuguesa e quais os nomes que se destacaram dentro dessa pesquisa musical.
Durante o Estado Novo, existe um discurso que implementa ao País uma construção da “portugalidade” tradicional e conservadora, assente nas características genuínas de cada região, o que confere a Portugal uma espécie de “manta de retalhos”, onde cada região teria uma cultura muito própria, com tradições e costumes peculiares. Jorge Dias é quem afirma “ A cultura nacional é um curioso fenómeno do espírito colectivo e resulta da combinação de muitos elementos.”[1]
Essa diversidade regional, geográfica, social e cultural assenta, no entanto, em características comuns, definindo no seu todo o povo português, que é visto, essencialmente, como sendo rural, caracterizado pela brandura de costumes, um misto de sonhador e homem de acção ,imaginativo, bondoso, alegre, trabalhador.
Durante o Estado Novo, existe um discurso que implementa ao País uma construção da “portugalidade” tradicional e conservadora, assente nas características genuínas de cada região, o que confere a Portugal uma espécie de “manta de retalhos”, onde cada região teria uma cultura muito própria, com tradições e costumes peculiares. Jorge Dias é quem afirma “ A cultura nacional é um curioso fenómeno do espírito colectivo e resulta da combinação de muitos elementos.”[1]
Essa diversidade regional, geográfica, social e cultural assenta, no entanto, em características comuns, definindo no seu todo o povo português, que é visto, essencialmente, como sendo rural, caracterizado pela brandura de costumes, um misto de sonhador e homem de acção ,imaginativo, bondoso, alegre, trabalhador.


É dentro deste contexto que surge a FNAT (Fundação Nacional para a Alegria no Trabalho) precursora da actual INATEL- com um gabinete de folclore, cujas atribuições era conceder subsídios, visitar os grupos já formados, dar-lhes apoio na sua divulgação e produzir relatórios sobre os ranchos folclóricos. A FNAT foi copiada do “Oppera doppo Lavoro” do fascismo italiano, que tinha no seu 1º artigo dos estatutos “fazer esquecer aos trabalhadores a obsessão da diferença entre ricos e pobres.”
Face a esta política, existem vozes que assumem uma posição contrária, ape

O verdadeiro sentido do Folclore consiste no que ele tem de verdadeiro e no que pode contribuir para o conhecimento etnográfico de um povo e não no que ele tem de adulterado, servindo funções propagandísticas O folclore é, no fundo, um capítulo de etnografia e, implicitamente da antropologia – portanto um modo de conhecimento do homem nas suas manifestações artísticas, literárias e culturais tradicionais”.[3]
Para Lopes Graça o folclore do regime tinha uma função, a de fachada política, de cartaz turístico, inundando a rádio, os restaurantes. O folclore ao sair do seu contexto cultural e ser exorbitado de uma forma contínua e constante altera o seu sentido, tornando-se “um puro negócio, pura especulação comercial.”
Lopes Graça idealiza um folclore espontâneo, de formação natural e livre. Para ele só esse é verdadeiro, porque é um testemunho real de uma sociedade que existe, reflectindo os factores económicos, sociológicos, políticos, éticos, etc. Este é um folclore que só se encontra junto das populações rurais, onde ainda não chegaram influências exteriores capazes de deteriorar a força da música popular.
“ (...) há que ir aí para ter a surpresa e a aventura de encontrar uma música popular forte e sadia, agreste por vezes, outras vezes tosca (...) frequentemente de uma simples mas penetrante poesia, rica de aspectos, variada de formas e sempre profundamente enraizada no solo.”[4]
O Nacionalismo defendido pelo Estado Novo estendia-se, deste modo, também à música. Segundo o compositor Lopes Graça, isso constituía um grande obstáculo para a evolução musical portuguesa, servindo apenas para reforçar a ilusão da “felicidade nacional”, sendo vazia em conteúdo e nula como forma superior de arte. A canção popular portuguesa reflectia assim a vida no campo, as tradições, os costumes, a vida quotidiana, os sentimentos (o amor e a saudade), apresentando uma linguagem acessível, com melodias suaves que entravam no ouvido com facilidade. O fado, canção nacional do regime reforçou esta ideologia, do que é ser português.
[1] Jorge Dias, O essencial sobre os Elementos Fundamentais da Cultura Portuguesa , Lisboa, Imprensa Nacional Casa da Moeda, 1995
[2] Fernando Lopes Graça – Obras Literárias- A música Portuguesa e os seus problemas – Edições Cosmo, Lisboa, 1973, p.256
[3] Fernando Lopes Graça- A Canção Popular Portuguesa – Publicações Europa América – 1974, p.14
[4] Ibidem. p. 41
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