Este relato foi escrito por mim junto à piscina do hotel Alleh, onde ficámos na nossa última noite em Marrocos:
«Ainda não parti para Lisboa e já sinto falta do que vivi nestes últimos dias. Afinal foram 10 dias de partilha intensa de conhecimentos, de sensações, de experiências, de muitas aventuras e risadas. Foram dias muito preenchidos que me fazem sentir que passaram a fugir, pois foram vividos a dobrar ou a triplicar a soma dos dias.
Neste último dia antes da partida, o destino foi Tânger. Daqui já se vê o mar, uma ponta de Espanha e da Europa. É quase uma meta alcançada, com a jornada conseguida e a aventura concretizada. De Marraquexe a Tânger foram muitos quilómetros percorridos, além dos que caminhámos para sul em direcção a Zagora.
Depois de conhecer Tetouan e Tânger, acho que o destino nos bafejou com sorte ao fazer com que tivéssemos começado a viagem por Marraquexe, esse centro nevrálgico da essência deste país. Se tivéssemos chegado a Marrocos por Tânger, penso que o entusiasmo diminuiria levando a que não sentíssemos aquele choque interessantíssimo no início, e que possivelmente quando chegássemos à cidade da alegria achássemos tudo muito mais cansativo. Isto porque não gostei muito do que vi de Tânger, em comparação com outros lugares.
Em Tânger encontrámos novamente marcas da influência espanhola e um ocidentalismo que se mistura com as ruelas e os becos sombrios da medina, com os homens de ar suspeito que parecem viver do engano e do roubo, com os miúdos que se metem connosco quando dizemos que somos portugueses, lembrando-se do Cristiano Ronaldo (personalidade que aliás também influencia muito os mais novos a observar pelos seus penteados estilosos que imitam o craque de futebol).
África começa também aqui, esta é uma porta de entrada e saída de milhões de pessoas. O porto de Tânger recebe diariamente uma enorme frota de ferries vindos de Espanha, que fazem a ligação com Algeciras. Daqui tentam também partir clandestinamente milhares de pessoas desesperadas, que esperam encontrar na Europa um destino melhor (felizmente não observei essa situação dramática e lastimável in loco, mas sei que ela existe). Tânger é, assim, feita de todas estas ambiguidades, destes desejos, desta mistura.
Manifestação do 1º de Maio - Tânger
Aqui no hotel Alleh onde me encontro a escrever estas linhas, a tarde começa a cair e o frio a começar a fazer-se sentir. Aguardo a festa de anos de uma das companheiras de viagem e até comprámos roupas marroquinas para nos divertirmos. O grupo tem funcionado bem, apesar das nossas diferenças, dos nossos feitios e personalidades. A viagem não podia ter corrido melhor! Agora resta-nos partir amanhã para Madrid e daí para Lisboa.
Sem esperar conhecer Marrocos este ano, depois de ter surgido esta oportunidade de repente, confesso que este país me surpreendeu, pois as opiniões que ouvi eram todas muito contraditórias. Quem sabe um dia regresse ao sul e descubra verdadeiramente a essência do deserto e a magia das suas noites estreladas. »
1 comentário:
Cara Ana,
Comecei por lêr as tuas crónicas porque pretendo ir a Marrocos em Setembro, e procurava informações mais verídicas do que as que se podem encontrar em qualquer guia turístico. Não esperava era que após as ter lido ficasse com a sensação de lá ter estado, de ter presenciado tudo. Li como se se tratasse dum livro interessante, e acabei também por absorver dicas bastante importantes.
Parabéns e obrigado pelo teu relato!
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