segunda-feira, 17 de maio de 2010

9º dia – Tetouan e Chefchouen

Para conhecermos um pouco mais do Marrocos de influência espanhola, fomos até Tetouan, que por sinal é a terra natal de um dos nossos companheiros de viagem.
Tetouan, nas palavras dos poetas árabes, é uma pomba branca, a “irmã de Fez”, a “pequena Jerusalém” ou a filha de “Granada”. A cidade foi habitada por refugiados judeus de Granada no séc. XV e por mouros da Andaluzia no séc. XVII. A influência andaluza é bem visível na sua medina, nas tradições culinárias, na música e nos bordados, entre outros aspectos.


Assim que entrámos na cidade veio logo ter connosco um arrumador que nos indicou um parque para estacionarmos o automóvel. Depois de termos pago o parque ao senhor responsável pela guarda do mesmo, demos uma pequena gorjeta ao homem que nos indicou o lugar. Mas, curiosamente, como não lhe demos o dinheiro que ele achou merecer, além de recusar, ainda nos injuriou, dizendo para um de nós, que era um «pobrecito».
Por toda a cidade víamos homens, que ao menor sinal de hesitação da nossa parte no caminho a seguir, se nos dirigiam para nos guiarem, dizendo que estudavam português e queriam apenas praticar. O primeiro que nos indicou o parque, chegou mesmo ao ponto de dizer que tinha um familiar que vivia em Lisboa, na Estrada de Benfica…
A medina, apesar de património mundial da humanidade, e de representar a medina mais andaluza de Marrocos, não seduziu. Era demasiado suja, com odores muito fortes que se entranhavam no nariz e até um pouco assustadora, pois tínhamos sempre alguém atrás de nós atento à espera de nos servir de guia. Houve mesmo um, que nos seguiu durante um bom bocado. Possivelmente, depois de alguns dias sempre a ver cenários de medinas semelhantes, começasse a perder a paciência e a deixar de descobrir o encanto da diferença.


Depois de quase nos perdermos na medina e de calcorrearmos Tetouan sem grande rumo, resolvemos voltar para Chefchouen. Afinal, naquela terra tínhamos a tranquilidade do azul e a simpatia das pessoas, contrariamente ao que sentimos em Tetouan. Parámos pelo caminho, à beira da estrada para comprar cerâmica e aí fizemos bons negócios, acabando por comprar uma tagine que serviria de prenda a uma das colegas, que faria anos no dia seguinte.
Chegados a Chefchouen, passámos pelo hotel para deixar ficar as coisas, e voltámos à praça principal. Aproveitámos para fazer as últimas compras e marcar o restaurante para o jantar. O rapaz do restaurante mostrou-se receptivo ao facto de podermos levar uma garrafa de vinho (dado que o álcool não é permitido entre os muçulmanos), mas para isso tínhamos de comprar a garrafa, num determinado bar que nos indicou. E assim fizemos. A compra da garrafa de vinho, fez lembrar literalmente o tempo da Lei Seca, nos 30 na América. Parecíamos uns autênticos gangsters do gang de Alcapone. Um de nós bateu à porta do bar, comprou a garrafa e teve de a trazer dentro de um saco de plástico preto, escondida.


No restaurante deixaram-nos beber o vinho, tal como tínhamos combinado, mas a verdade é senti que o rapaz que nos serviu (não o mesmo que falou connosco antes), não estava nada à vontade, mal nos olhava a direito e parecia incomodado. Bebemos discretamente a garrafa e escondemo-la, trazendo-a de novo connosco. Apesar do vinho não ser grande coisa, valeu o episódio e o jantar…

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