A sociedade de
consumo imediato em que vivemos vende sonhos e estereótipos de vidas que todos
nós desejamos, mas que quase ninguém, na verdade, alcança. Vivemos cada vez
mais insatisfeitos, mais desiludidos pelo padrão que não se adequa ao conteúdo
das nossas vidas. Mundos incomunicantes que se arrastam, que se lamentam, que
se calam, que desejam o que não alcançam…Andamos todos de candeias às avessas
entre o desejo irreal e a dura realidade que carregamos. Esquecemos o que
temos, a simplicidade das pequenas coisas, aquelas que realmente interessam
para nos fazer felizes e perdemo-nos em jogos auto-destrutivos e agonizantes, que
fazem de nós seres cheios de sofrimento, de ressentimentos e frustrações. Basta
dar atenção às redes sociais, aos murais que exibimos e temos lá tudo isso, uma
espécie de muro das lamentações, onde vemos uma mescla de desabafos e
recriminações, com base nessa utopia em que assentamos a nossa ideia de
felicidade.
Uns ambicionam
um carro novo e não têm capacidade financeira, outros desejam as férias paradisíacas
dos folhetos turísticos, mas não têm subsídios de férias, outros estão
desempregados e afogados em dívidas, uns vivem na esperança de encontrar um
amor redentor ou de refazer o amor perdido das suas vidas. Olhamos à nossa
volta e andamos todos perdidos nesta busca, vazios por dentro, enlouquecidos
por fora… Consumimos os lugares, as pessoas, os momentos, atulhamo-nos de
publicidade enganosa que nos afastam da essência dos porquês… Estamos cada vez
mais desencontrados, em sintonias diferentes…cada um por si, procurando o que
nos falta, alimentados for esperanças vãs. Todos nós caminhamos em desencontros
perfeitos. É por isso, que a solidão impera e nunca nos satisfazemos com o que
temos ou com o que podemos fazer para superar o que não temos. Abramos os olhos
para a vida, como se hoje fosse o último que temos para viver, meçamos o que
realmente importa, e o que podemos deixar para trás das costas, como bagagem
que se carrega na experiência dos dias. Deixemos as lamúrias, as tristezas
infundadas. Façamos deste dia o ponto de partida para novas metas, ainda que
por vezes nos custe a mudança e nos aperte no peito o odor da saudade. É tempo
de nos ajudarmos a sair deste marasmo em que nos trancámos, olharmos nos olhos
uns dos outros bem fundo, tocarmos nas suas mágoas, enxugarmos as suas lágrimas
e ajudarmo-nos a recomeçar. De novo!
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