
No «Livro das Ilusões», como tinha já referido, o visionamento da película «A vida interior de Martin Frost» é criteriosamente descrita, como se um guião de filme se tratasse. Conseguimos acompanhar todos os passos, todos os movimentos e diálogos dos personagens, parecendo-nos que também estamos na sala escura a vê-lo.
Ao ir agora ao cinema ver o filme, senti-me a recriar o papel do personagem de David Zimmer, (que no livro visiona o filme) e senti-me espectadora da história pela segunda vez. Confesso que, como esta não era a história principal do livro, existiam muitos detalhes que já não me recordava, mas a mente é prodigiosa e assim que a acção começou a decorrer, ia-me vindo à memória cada cena, cada diálogo, cada desenvolvimento do mesmo.

Esta é a história de Martin Frost, um escritor que passara três anos a escrever um romance e estava a passar uns tempos em casa de uns amigos, que se encontravam fora. Um dia acorda na cama, com uma mulher ao seu lado, que desconhece, e começa aí o desenvolvimento da acção…
A adaptação do filme está muito fiel ao livro, pelo menos na primeira parte do mesmo, embora com algumas diferenças. Na segunda parte, Paul Auster continua a história, mas sem o mesmo encanto e interesse da primeira, divagando um pouco no argumento, assemelhando-se um pouco a um filme de David Lynch, com laivos de comédia, e alguma confusão.
As paisagens são fantásticas, não fosse o facto de ter sido filmado em Sintra, o ambiente é intimista, sendo praticamente todo filmado numa moradia, aí situada. O resultado do filme é interessante, mas reconheçamos que podia ser melhor. Acredito que quem não seja leitor de Auster possa ficar um pouco desiludido, mas entendamos que este é um filme diferente, não é comercial e não se pode comparar com os outros.
Deixo-vos com um excerto do «Livro das Ilusões» para que entrem neste filme austeriano, com as palavras de David Zimmer, sobre o filme da Vida Interior de Martin Frost, que acabou de visionar. «Demorei um pouco a penetrar no filme, a entender o que e estava a passar no ecrã. A acção era filmada com um realismo tão cru, com uma atenção tão escrupulosa aos detalhes da vida de todos os dias, que não consegui apreender a magia que se ocultava no cerne da história (…) Passava-se no interior da cabeça de um homem – e a mulher que entrara nessa cabeça não era uma mulher real. Era um espírito, uma figura nascida da imaginação do homem, um ser efémero enviado para ser a sua musa.»
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