segunda-feira, 30 de julho de 2007

Encontro sobre migrações alentejanas na Margem Sul

O IX Encontro da Aldraba: «Raízes do Sul», da Associação Aldraba sobre o impacto da migração alentejana na Margem Sul teve lugar dia 29, no Centro de Dia da Associação Alma Alentejana, no Pragal.
Foi um encontro interessante, de debate e de fruição de ideias, dando lugar a uma reflexão que uniu todos os participantes num diálogo salutar e agradável.
Eu tive o prazer de fazer parte da mesa dos oradores, tendo apresentado algumas das conclusões gerais da minha tese de mestrado em antropologia, centrada na construção das estratégias identitárias de um grupo coral alentejano, «Os Amigos do Alentejo» do Clube Recreativo do Feijó. Nessa medida, foram referidos alguns dos processos que caracterizaram a vinda destas gentes, originados geralmente por redes familiares e sociais que possibilitaram a sua sobrevivência económica e social - o alojamento nos primeiros tempos e o acesso ao trabalho. Foi mencionado igualmente a importância das colectividades do concelho de Almada na integração desta população migrante, desempenhando um papel importante no convívio e integração social da mesma.
O cante nestas paragens assumiu-se como uma estratégia identitária que unia os alentejanos de todas as partes desta província, cantando-se não apenas a terra natal, mas toda uma província. Com a formação do grupo coral acima mencionado, em 1986, a e a força do cante ganha maior força no concelho de Almada. Aos poucos, o cante adapta-se a uma expressão performativa que transforma o calendário ritual desta região, expressando-se nas festividades das Janeiras, no aniversário do grupo coral, em Março, no desfile do 25 de Abril, nas semanas do Alentejo, em Junho, nas festas de Nossa Senhora da Piedade, entre outras ocasiões.
Conclui a apresentação deixando como tema de reflexão, a questão da sobrevivência e futuro dos grupos corais na cintura industrial de Lisboa, na medida em que estes homens estão a envelhecer e os mais novos não parecem, ainda, seduzidos pelo cante.
A outra interveniente, Inês Fonseca, antropóloga da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, que também tem vindo a efectuar ao longo de 12 anos trabalhos no Alentejo, focou outra questão essencial, a do retorno destas gerações migrantes, que começam agora a voltar ao Alentejo para gozar a reforma. Pelo que a Inês apresentou, achei curioso, que nem todos regressem à sua aldeia, uns porque perderam casas ou família nesses locais, instalando-se noutras terras que lhes proporcionem boas condições de vida. Em algumas localidades, há bem pouco tempo desertas, a esperança voltou novamente, começando a ver-se mais gente regressada da área metropolitana de Lisboa, trazendo consigo filhos e netos.
Joaquim Avó, o último orador, apresentou, por seu turno, uma vertente mais relacionada com o Associativismo no concelho de Almada, dando o exemplo da Alma Alentejana, que preside, e tem múltiplas actividades, sobretudo no apoio domiciliário a idosos e aos mais carenciados, possuindo diferentes centros de dia.
Após as apresentações, o debate centrou-se nas questões do associativismo, no futuro do cante na Margem Sul, tendo suscitado múltiplas intervenções. O debate foi interessante na medida em que se constatou que não podemos cristalizar as tradições e torná-las imutáveis. Assim conforme o cante veio, também poderá regressar às suas origens, podendo ganhar novas roupagens, novos contornos. Neste seguimento, uma das surpresas deste debate foi saber da existência de um grupo coral alentejano, constituído por alunos do ensino superior, no Porto!!! Fenómeno insólito que aqui deixo registado e que merecerá alguma reflexão da parte de quem se interessa por estas práticas culturais.
Após um almoço de grão, um prato tipicamente alentejano, ainda houve tempo para passear pelo Cristo Rei, ali nas imediações, debaixo de um sol escaldante e sufocante.
O encontro acabaria com a declamação dos poemas, sempre belos, da poetisa de Campo Maior, Rosa Dias e as modas entoadas pelas «Mondadeiras» da Alma Alentejana.

Aldraba – Associação do espaço e Património Popular
http://www.aldraba.org.pt/
aldraba@gmail.com

2 comentários:

oasis dossonhos disse...

Este post descreve muito bem a envolvência e o interesse do Encontro, que teve em ti um pilar de serenidade, sensibilidade e rigor. Beijinho
Luís

Anónimo disse...

Mais uma vez, obrigada pela tua colaboração e por nos teres dado a tua manhã de domingo, todo o teu domingo!
Os domingos convidam sempre ao descanso ou, neste caso e com o calor que fez, a uns belos mergulhos e uns passeios à beira mar.
Obrigada também pelo saber e experiências que partilhaste com todos e que a todos envolveram nesta procura de entender as "Raízes do sul".
Abraço
Eugénia

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