quinta-feira, 26 de julho de 2007

«Cheguei a casa…»

Deixo-vos hoje com um pequeno texto que escrevi na sequência de um curso de verão de escrita criativa na Next-Art. É ficção, mas tem alguma realidade por detrás. Tem a ver com memórias da casa de infância, com o desejo de habitar de novo a baixa, onde vivi, e hoje está tão despovoada…tem a ver com o desejo de querer ser grande e de realizar o meu próprio sonho…

«Cheguei a casa. Tirei a chave do bolso, dada há pouco pelo senhor da imobiliária, dei-lhe duas voltas na fechadura e entrei. Os móveis e os sofás, que não reconheci, estavam cobertos por panos brancos cheios de pó. As portadas das janelas estavam fechadas e tudo à volta era escuridão. O ar era irrespirável e denso pela clausura do tempo.
Apressei-me a abrir as janelas, a deixar a claridade e o ar fresco da manhã entrar e penetrar na casa. Nos cantos das paredes, avistavam-se grandes teias de aranha, cuja espessura lembrava fios brancos de algodão doce. Sem dúvida que precisava de umas boas obras.
Estava tudo tão mudado e degradado, desde aquele dia em que nos mudámos daqui. Lembro-me que parti sem olhar para trás. A dor era enorme e a altura pouco própria para lamechices. Virei as costas e parti. Toda a vida é composta de mudança e nós também mudámos. Fomos todos viver para Campolide. Nessa altura, era imperioso ter uma casa maior que desse para toda a família, que tivesse melhores condições. Mas agora de volta a este lugar, era estranho…Tanta coisa se passara nos últimos 10 anos, até a casa parecia mais pequena.
Quis o destino que visse no jornal, um classificado onde anunciavam a venda daquele imóvel tão bem situado, mesmo no centro da cidade, mas completamente abandonado. Ao perceber que se tratava da casa onde vivera em menina, não hesitei em adquiri-la. Telefonei para a agência, e sem sequer a ver, fechei o negócio.
Aquele regresso fez-me sentir invadida por um sentimento misto de nostalgia e de esperança no futuro. Olhava à volta e todos os recantos estavam repletos de recordações. Ali tinha deixado as minhas memórias de criança, as brincadeiras infantis, repletas de personagens e heróis inventados, a vista para o Tejo que sempre adorei, os projectos felizes para a idade adulta, a imagem dos pais novos demais, alegres e felizes, a cadela pequenina que vira nascer… Parecia que ainda me via com 6 anos de idade subindo a calçada em passo apressado, com uma bata branca vestida e com uma pequena malinha às costas, em direcção à escola primária.
Agora muita coisa tinha mudado. Inaugurava ali um futuro e uma nova fase na minha vida. Sabia que aquele seria de novo o meu porto de abrigo, onde poderia construir novos caminhos e novas histórias. »

3 comentários:

Catarina Durão Machado disse...

Vamos lá ver... isto é o que se chama plágio ideológico! A menina rouba-nos as ideias, as fotografias, alguns sonhos futuros e nem sequer se refere à mana chata que tem um blog sobre o Vale da Palmeira, terra de onde falas neste post?? Ai ai!
Enfim, o que dizer, é a tua vontade e é a minha a de voltar para o Chiado... Até lá basta-nos sonhar, passar por lá e recordar as nossas brincadeiras de criança naquele fantástico telhado! Beijocas da mana Lena

Ana disse...

Plágio ideológico sim, na medida em que crescemos as duas nesse espaço que nós criamos e idealizamos. Um mundo nosso, que tu deste o nome de Vale da Palmeira, onde as nossas brincadeiras eram todas produto de uma laboriosa imaginação...
Este texto nasceu antes de escreveres o teu blog, mas ainda assim partilhamos as ideias, porque as sentimos... Quanto às fotos... é verdade, roubei-as mesmo, do teu blog! Porque é lindo!
Bjs
Mana

Unknown disse...

Olá Ana!! Já vi que também tu aderiste à blogosfera. O blog tem tudo a ver contigo com os teus gostos pela antropologia, pela literatura, pelas viagens. Gostei... e por tua causa vi-me obrigada a actualizar o blog, pelo menos mantém algums pessoas informadas sobre o meu paradeiros. Jinhos, até breve, Vaquinha Malhada

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